domingo, 4 de julho de 2021

GENTILEZAS

O atual presidente da república federativa do Brasil visitou, no primeiro ano do seu mandato, a agência estadunidense de inteligência conhecida internacionalmente pela sigla CIA. Agora, o chefe da CIA retribui a gentileza como prova de amizade e boa vizinhança, eis que a sua agência e o governo do seu país adoram o Brasil e os brasileiros. A inteligentsia do Norte visitou a burritsia do Sul. O pano de fundo dessa troca de gentilezas é o dinheiro, o mercado internacional e a geopolítica. 
O general De Gaulle, então presidente da França, dizia inexistir amizade entre as nações e que existiam apenas interesses. Coloco o mesmo tema com menos amargor: Nas relações entre governos de diferentes países preponderam os interesses; a amizade é ocasional e objetiva. A ética não entra no jogo político e econômico. Esse jogo é refratário à moral, inclusive no interior da nação. Entram em campo como titulares a desonestidade, a falsidade, a hipocrisia, a traição. No Brasil, a corrupção corre solta desde os tempos coloniais até o presente. O fraudulento combate empreendido pelas espetaculares operações de 2014 a 2020 gerou corrupção ainda maior nos setores civil e militar da república.  
O governo e as corporações dos EUA, que também navegam nesse mar de lama e pilotam o barco, apoiam o nazifascismo do governo brasileiro por dois principais motivos: (1) porque essa doutrina em solo brasileiro interessa-lhes do ponto de vista econômico e hegemônico (2) porque não lhes interessa de modo algum a parceria do Brasil com a Rússia, Índia, China, África do Sul (BRICS) e outros países fora do domínio americano. Governo e corporações dos EUA pretendem o monopólio do comercio internacional, ou, pelo menos, garantir a maior fatia. Livre concorrência? Só no malicioso discurso. Atuam com mentalidade bélica. 
Esse fato lembra o principal motivo de os EUA entrarem na segunda guerra mundial (1939/1945): aumentar a venda dos seus produtos na Europa. Motivo econômico e não político. A Alemanha de 1933/1943 era a maior potência econômica e estratégica do planeta. O governo e as corporações dos EUA tinham interesse em derrubar a poderosa concorrente. A defesa da democracia nunca foi o motivo principal. Serviu tão só de cobertura ao objetivo econômico. Posteriormente, em outro contexto, o governo e as corporações dos EUA colocaram-se contra a democracia e a favor da ditadura de direita, governos militares nazifascistas e genocidas da América Latina dos anos 60/80. Em relação às caricatas democracias dos anos seguintes fizeram o mesmo: apoio aos governos de direita e aos golpes de estado contra governos de esquerda. 
De modo premeditado e desafiador, o diretor da CIA veio ao Brasil, em julho/2021, a fim de apoiar e orientar o governo de extrema-direita, nazifascista, antidemocrático, tal como apoiou e orientou o juiz Moro na operação lava-jato e o vice-presidente Temer no golpe que derrubou a presidente em 2016. Ao mesmo tempo, o gringo avivou a memória das  forças armadas brasileiras sobre a histórica e habitual subordinação ao governo dos EUA. Avivou-se também em nossa memória o episódio da década de 1920, conhecido como tenentismo, quando oficiais do exército de inferior patente rebelaram-se contra a subserviência dos oficiais de superior patente às tradicionais oligarquias brasileiras. Os tenentes foram derrotados, mas o seu heroísmo ficou registrado na História do Brasil. O domínio das oligarquias sobre as forças armadas continua como antes, porém, agora compartilhado com o governo e corporações dos EUA. Nestes 100 anos (1920/2020), melhorou a situação dos oficiais superiores das forças armadas: burocracia, soldo maior e múltiplas mordomias. 
O governo e as corporações dos EUA apoiam e incentivam a ditadura e a corrupção nos países periféricos, desde que favoreçam os seus negócios e não perturbem as suas pretensões hegemônicas no continente. No jogo econômico e político, a igreja cristã, a protestante pentecostal na proa, entra com objetivos não confessados, mas, praticados: (i) enriquecer a si mesma e aos seus bispos e pastores (ii) enganar a massa crédula (iii) lançar fumaça nos olhos do povo em conluio com o governo nazifascista. 
Na pátria brasileira reinam malandragem, falta de pudor, ausência de amor próprio e de zelo pelo bem comum. À definição mística e religiosa “Deus é luz, vida e amor”, opõe-se a realidade das trevas, da morte e do ódio no mundo criado pelos humanos. No solo brasileiro não vicejam princípios morais, místicos e religiosos. Isto explica: (i) o engavetamento das petições de impeachment contra o presidente da república (ii) a vergonhosa blindagem de um chefe de governo que praticou inúmeros crimes comuns e de responsabilidade (iii) a conduta antidemocrática dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, espelho da falta de senso moral da parcela da população que eles representam. O estado brasileiro regrediu à condição de republiqueta. 
Questiona-se, mediante mandado de injunção e mandado de segurança impetrados no Supremo Tribunal Federal (STF) em junho-julho/2021, a omissão do presidente da Câmara em despachar as citadas petições. Abriu-se oportunidade ao STF para examinar e decidir a seguinte questão: Despachar, deferindo ou indeferindo o pedido de impeachment, constitui prerrogativa (faculdade de agir da autoridade) ou dever jurídico (obrigação de agir da autoridade)
No que concerne ao crime de prevaricação praticado pelo “Chefe do Poder Executivo da União”, o STF concedeu à Procuradoria Geral da República (PGR) o excessivo prazo de 90 dias para concluir o inquérito. Decorrido o prazo, a PGR solicitará a habitual prorrogação e, como de hábito, será atendida. A PGR obteve, assim, a suspensão da investigação até o término da CPI/Covid que, antes e sem sucesso, havia requerido ao STF.  
A numerosa facção nazifascista da nação brasileira usa todos os meios para manter na chefia do governo o líder da extrema-direita. Se algum dia, setores do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, tiveram senso moral e amor à pátria, disto, atualmente, não há vestígio.

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