Sábado, 12,30 horas. Na varanda, taça e
garrafa de vinho tinto pousados sobre a pequena mesa de tampo redondo com
mosaico de pedrinhas coloridas feito por minha esposa. Tripé de ferro escuro.
Ao lado da mesinha, sentado no banco de madeira entalhada artisticamente,
assento acolchoado, almofadas azul, amarela, vermelha e verde para encosto, eu
aprecio, na atmosfera preguiçosa do dia, a bucólica paisagem enquanto espero o
almoço que está sendo preparado.
Tóbi, cachorro de pelos bastos e
vermelhos, quer sentar ao meu lado. Brigitte, cadela malhada, esperta e ágil,
toma-lhe a frente. Ele, então, contrariado, acomoda-se embaixo do banco. Laika,
geniosa, seletiva e ciumenta, não quer se misturar; fica deitada mais distante,
com o focinho estendido sobre a lajota do piso, fingindo que está dormindo.
Nuvens escuras sobre as montanhas
anunciam chuva. Faixa mais clara e cinzenta na extensão longitudinal do
horizonte não anunciava chuva; era a própria chuva que caía. Se o vento não
mudar de direção, ela chegará aqui no meio da tarde como acontece regularmente
nesta época do ano em que o sol permanece mais tempo na abóboda celeste. A mãe
natureza e as suas regularidades e uniformidades! O resultado da interferência
humana não tem sido bom. A humanidade paga, por isto, alto preço.
Noto que os passarinhos sumiram. Creio
ter cochilado alguns segundos ou minutos. Nos fios da rede elétrica paralela à
rua vejo só um miúdo que se mantém mudo. Surgem três urubus voando em círculos
de raios longos. Com base na minha experiência dos tempos da infância no
interior do Paraná, plenamente seguro e firme na minha sabedoria empírica,
deduzo: há carniça no terreno. Os
três vultos negros continuam a voar. Pequena desatenção minha e já são apenas
dois que alternam voo rasante e voo alto, um urubu seguindo o outro. Pousam
numa das árvores do quintal do vizinho. Saltam para o telhado da casa e agitam
as asas como se estivessem desequilibrados. De lá, mergulham. Antes de atingir
o solo, ato contínuo, alçam voo traçando linha côncava no espaço. Tornam a
pousar numa das árvores. Voltam ao telhado da casa e começam a trocar carícias.
Percebi, então, que não havia carniça
alguma. O alvo deles era diferente. Fome do macho pela fêmea. Danado! Toda
aquela coreografia para cumprir a lei da conservação da espécie! Depois, os
dois voaram para longe em direção às montanhas. Eu e o meu saber todo de experiência feito (royalties para Camões) também nos
levantamos e seguimos em direção à cozinha onde nos aguardava suculento
estrogonofe. O vinho ficou para a macarronada de domingo.
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