O planeta Terra é uma esfera física a girar em torno
do seu próprio e imaginário eixo circundada por gases que lhe dão cor azulada
enquanto traça uma elipse no espaço sideral ao contornar o Sol. Na história
natural desse planeta, quando reunidas favoráveis condições climáticas,
químicas e físicas, tem início o processo biológico formador dos reinos vegetal
e animal. A espécie humana se desenvolve no reino animal pelo pensar, pelo
sentir, pelo querer e pelo agir. Dessas funções resulta o mundo da cultura, desde
a barbárie até a civilização, encravado no mundo da natureza. Nota-se a
exuberância da vida nas frestas do cimento que segura as encostas nas estradas
e do calçamento das ruas nas cidades, através das quais brota vegetação.
Neste planeta, a humanidade vê infinitas
possibilidades, mas cada humano, indiferente dos hemisférios e da latitude em
que se encontre, tem possibilidades limitadas. Algumas pessoas têm mais
possibilidades do que outras. O ambiente cultural em que o indivíduo vive,
desde a comunidade tribal até a sociedade civilizada, enseja ocasiões para, em
maior ou menor extensão, fazer ou não fazer alguma coisa, possuir, crer,
expressar sua vontade, pensamento e sentimento.
No mundo civilizado, o sujeito pode ser cientista,
professor, sacerdote, estadista, artista, piloto. Entretanto, pode viver e
morrer sem dedicar-se à ciência, ao magistério, à religião, à política, à arte,
ao esporte. Por motivos diversos, o sujeito frustra total ou parcialmente as
suas potencialidades.
Na vida política, direita
e esquerda correspondem a
hemiplégicas concepções do mundo. A síntese dialética que empolgue a mente,
enterneça o coração e estimule a vontade, poderá ensejar um promissor projeto
de vida coletiva. Talvez, essa desejável construção implique nova hierarquia
dos valores de modo que o econômico não prevaleça sobre o social e o político.
Pesagem difícil do que foi e do que é melhor e pior na vida de cada indivíduo e
de cada nação. O mal parece pesar
mais do que o bem; o negativo parece
pesar mais do que o positivo. Percebida como um mal no presente, a crise que acontece no processo histórico pode se
revelar um bem no futuro. Na história
da humanidade, as crises integram a dinâmica de avanços e recuos
intermitentes.
No Brasil, neste século XXI, grande parcela da
população exibe um selvagem e primitivo comportamento. Em 2013, na cidade de
São Paulo, jovens ocuparam as ruas mostrando descontentamento, sem nada
definir, sem projeto algum, apenas com o propósito de agitar, tendo como
pretexto o preço da passagem dos transportes urbanos. Seguiram-se outras
manifestações de rua em 2014, 2015 e 2016, algumas contra e outras a favor do
governo, da democracia e do patrimônio nacional.
O solo brasileiro foi varrido por um vendaval de farsas, mentiras e opiniões contraditórias. Nota-se o retrocesso cultural. O verniz da civilização apresenta fissuras. A substância asquerosa que estava oculta saiu pelos vãos. O que era embrionário irrompeu como vulcão na comunidade nacional. Diferenças de origem, de raça, de cor, de nível social, de doutrina, passaram ao campo da intolerância numa irracional discriminação e num preconceito explícito.
O solo brasileiro foi varrido por um vendaval de farsas, mentiras e opiniões contraditórias. Nota-se o retrocesso cultural. O verniz da civilização apresenta fissuras. A substância asquerosa que estava oculta saiu pelos vãos. O que era embrionário irrompeu como vulcão na comunidade nacional. Diferenças de origem, de raça, de cor, de nível social, de doutrina, passaram ao campo da intolerância numa irracional discriminação e num preconceito explícito.
O ódio e a violência nas cidades brasileiras
assemelham-se ao que ocorreu nas primeiras décadas do século XX na Europa,
quando despontaram o bolchevismo, o fascismo e o nazismo. Ofensas físicas e
morais substituem o diálogo. Prisões, detenções e interrogatórios são
efetivados ao arrepio da lei e da Constituição. A grei emergente não quer
ouvir, só quer falar e agir ao seu talante. A paixão obscurece a razão e
esteriliza os bons costumes. A lupa da ignorância e da má-fé aumenta
artificiosa e psicologicamente a crise. Lideranças desonestas incentivam o
movimento antidemocrático para minar a estabilidade do governo brasileiro. Com
isto, pretendem assumir a direção do Estado a fim de atender aos interesses do
governo estadunidense e das empresas estrangeiras e cortar ou enfraquecer as
relações do Brasil com a Rússia, Índia, China e África do Sul.
Na trilha de um avanço científico, de um progresso
tecnológico, de uma economia bem situada no contexto internacional, de uma boa
política externa, de uma ascensão social e econômica da camada pobre da
população, surgem bárbaros que se aproveitam apenas dos bens materiais gerados
pela civilização (automóvel, avião, televisão, computador, medicamentos, espaçosas
construções, aparelhos para conforto e segurança) sem considerar os princípios
morais, jurídicos, científicos e filosóficos que os tornaram possível. Pessoas
aproveitadoras, predadoras, que encaram os bons frutos do processo histórico
como se fossem gerados pela natureza e não pelo trabalho intelectual e técnico
de alguns seres humanos que se destacaram pela excelência.
Quem não se identifica com pessoas desse tipo
emergente é fustigado. Surge, então, o problema de lidar com esses emergentes
que se arrogam o direito de: (1) exibir a face demoníaca da sua personalidade;
(2) impor essa feição aos outros.
Este assustador tipo emergente, comum no Brasil
contemporâneo, fecha-se nas suas poucas e padronizadas idéias. O intelecto
hermético não se deixa penetrar por novas idéias, por alheias razões e por sentimentos
do próximo. Amor e compaixão evaporaram-se no calor das paixões como a neblina
matinal evapora sob o calor do sol.
A outra parcela da população procura as igrejas, os
templos de adoração mística, os santuários da natureza, as entidades
solidárias, as bibliotecas, os museus, as exposições de arte, os institutos de
pesquisa, ciência e tecnologia, os caminhos do bem e da fraternidade.
Ainda restam pessoas na busca pacífica da compreensão
de si mesmas e do mundo em que vivem. Embora cônscias de pertencer à minoria,
elas estudam, oram, meditam e agem na firme convicção da existência de uma
superior dimensão metafísica diante da qual a história da humanidade é um breve
momento da evolução cósmica.
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