quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

FILOSOFIA VIII - B



Roma (continuação).

O gladiador trácio de nome Spartacus organizou um exército de gladiadores, escravos e homens livres. Combateu e venceu as legiões romanas, mas acabou derrotado ao tentar dominar a Sicília (73 a 71 a.C.). A calmaria após a borrasca dos gladiadores não durou muito. Pompeu, Júlio César e Crasso, defensores do povo, formam triunvirato e partilham as províncias do império. Pompeu ficou responsável pela Espanha, Crasso pela Síria e César pela Gália (França + Bélgica). César conquista a Grã-Bretanha. Eleito cônsul pelo senado, Pompeu devolve direitos à plebe e coloca César fora da lei (52 a.C.). César reage.  Com o real ou lendário brado alea jacta est (“a sorte está lançada”) à frente do seu exército, ele cruza o rio denominado Rubicão e entra no território de Roma (49 a.C.). {Situado na parte setentrional da península italiana, esse pequeno rio separava a Gália Cisalpina da cidade (estado) de Roma. Por medida de segurança, nenhum general devia atravessar esse rio e entrar em Roma com as suas tropas sem prévia autorização do senado}. Pompeu foge, organiza um exército, enfrenta o de César, mas sai derrotado (Farsilia, Tessália, 48 a.C.). Depois disto, Pompeu foi morto por encomenda do rei do Egito. César foi eleito cônsul por tempo indeterminado (45 a.C.). Durante o seu governo ajustou o calendário romano ao calendário egípcio de 365 dias (adicionava-se um dia a cada quatro anos). Ele acabou com as irregularidades na distribuição dos celeiros públicos {o desvio de bens públicos vem de longe}. Providenciou a codificação das leis e agravou as penas dos crimes. Concedeu cidadania romana a milhares de espanhóis e gauleses. Distribuiu terras dentro e fora da Itália aos seus subordinados veteranos e a pessoas pobres. Obrigou os grandes proprietários a empregarem um cidadão livre para cada dois escravos. Quando presidia reunião do senado na Cúria Pompeu, César foi assassinado com várias punhaladas desferidas por um grupo de senadores (44 a.C.). Otávio, Marco Antonio e Lépido formam novo triunvirato, matam os conspiradores e confiscam os respectivos bens.
Defensor da constituição republicana, eminente estadista e excelente orador, Marco Túlio Cícero, apesar de não ter participado da conspiração, foi assassinado pelos soldados de Marco Antonio. {Na opinião de Cícero, a longa permanência de César no consulado parecia não se ajustar ao modelo republicano de estado}. Os aristocratas Brutus e Cássio, que integravam o grupo de conspiradores e assassinos de César, organizaram um exército para disputar o governo de Roma, porém, foram derrotados por Otávio (42 a.C.). Os triúnviros se desentenderam. Lépido perde a autoridade à frente do seu exército. Vencidos na batalha de Actium, Marco Antonio e Cleópatra se suicidam. Otávio resta como único soberano. A república romana entra no seu ocaso (31 a.C.). De modo paulatino, pacífico e astucioso, Otávio assume as magistraturas supremas. O senado lhe outorga sucessivamente os títulos de Imperator, Princeps e Augustus e os poderes de tribuno perpétuo, cônsul perpétuo e pontífice máximo. Alvorece o ciclo imperial em Roma (27 a.C. a 476 d.C.).
Entre os sucessores de Otávio (César Augusto) houve tiranos, excêntricos, corruptos, assassinos e até débeis mentais. Merecem louvor: Vespasiano, que sujeitou a Judéia, introduziu representantes das províncias no senado, reorganizou o exército, iniciou a construção do Coliseu, estendeu a cidadania romana à Espanha; Tito Vespasiano, que concluiu a tarefa do pai (o Coliseu e o domínio sobre a Judéia) e embelezou Roma; Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio (69 a 180 d.C.). No terceiro século (201 a 300) destacou-se Aureliano, que reorganizou o estado, o exército e as fronteiras do império, restabeleceu a autoridade sobre a Gália, construiu muralhas em locais estratégicos e instituiu o novo culto religioso do Sol Invictus. O assassinato de Aureliano gerou crise institucional. Após o fracasso de alguns militares, a missão de manter a ordem interna coube ao general Deocleciano, que promoveu amplas mudanças institucionais e exerceu o poder de modo soberano e absoluto (284 a 306). O senado e o povo eram apêndices. Esse imperador imitou os déspotas orientais inclusive no traje e no cerimonial. Vestia-se de púrpura, seda e ouro. Nas audiências, os súditos eram obrigados a se prostrarem diante dele como se ele fosse uma divindade. Inicialmente, partilhou o poder com Maximiano. Depois, criou o sistema de tetrarquia, sendo ele a autoridade suprema além de governar diretamente a parte oriental do império com ajuda de um César (Galério). A outra parte ficou sob a autoridade de Maximiano com a ajuda de um César (Constâncio). O exército também foi dividido em quatro partes, cada uma com o seu comandante próprio. O sistema de tributação sobre a produção agrícola era rigoroso de modo a fortalecer as finanças do império. Ante a desvalorização da moeda ele adotou o pagamento dos tributos em mercadoria. O escambo passa a coexistir com a moeda. A fim de controlar a inflação ele tabelou os preços de vários artigos. O efeito colateral do tabelamento não demorou: mercado negro. Deocleciano ordenou que cada homem permanecesse na profissão que exercia e que os filhos nela o sucedessem.
Constantino, sucessor de Deocleciano, manteve a organização estatal herdada do seu antecessor (306 a 337). Antes da vitória sobre Maxêncio (312) Constantino diz ter visto no céu uma cruz e a frase: in hoc signo vinces {“com este símbolo vencerás”}. Verdade ou lenda, isto justificou a sua conversão ao cristianismo. Provavelmente, ele inventou esta visão com propósitos políticos. Ele via nessa religião potencial para unir espiritualmente o povo e facilitar a tarefa do governo, objetivo que Deocleciano não conseguira com o paganismo. Adotado o cristianismo como religião oficial, os traços totalitários do governo se acentuaram. Visando a realizar objetivos estratégicos, Constantino muda a capital do império para Bizâncio (Constantinopla, 330). Ele abriu a senda para nova civilização: a bizantina. De acentuado caráter oriental, a civilização bizantina caracterizou-se: (1) pelos governos despóticos vinculados à religião; (2) pela crença no sobrenatural; (3) pelo misticismo; (4) pelas atitudes pessimistas e fatalistas (476 a 1453). O grego volta a concorrer com o latim como língua franca. O imperador Teodósio (378 a 395) divide o império entre os seus dois filhos. O leste ficou para Arcânio (império romano do oriente) que reinou de 395 a 404. O oeste ficou para Honório (império romano do ocidente) que reinou de 395 a 423.
O império romano do ocidente durou pouco. Roma caiu nas mãos dos invasores bárbaros. Primeiro, diante de Alarico, rei dos visigodos (410). Depois, diante de Átila, rei dos hunos (451). A seguir, diante de Gaiserico, rei dos vândalos (455). Finalmente, diante de Odovacar, chefe de tribo germânica (476). A civilização romana já perdera suas características essenciais no decurso dos últimos duzentos anos. A invasão dos bárbaros foi apenas um marco histórico do fim daquela civilização. Os fatores da queda são sempre os mesmos, comuns aos grandes impérios: (1) dificuldade de administrar povos de diferentes culturas situados em vasta extensão territorial; (2) corrupção política, afrouxamento dos laços morais e patrióticos; (3) luta selvagem pelo poder; (4) exaustão dos recursos materiais para funcionamento do estado; (5) falta de talento e disposição das novas gerações para atividades econômicas, artísticas e científicas; (6) excesso de população; (7) gente cobiçosa e parasitária nos grandes centros; (8) discórdia entre as diferentes camadas sociais; (9) feudalismo a minar a autoridade central {grandes proprietários dispondo de um exército de servos, fechados em suas terras e palácios, governam o seu rincão como poderosos magnatas feudais}.
Fatores econômicos da queda: (1) dinheiro fora de circulação por causa da falsificação da moeda com metal vil; (2) retorno ao escambo, salários pagos com alimento e vestuário no lugar da moeda; (3) comércio e indústria enfraquecidos; (4) desequilíbrio na balança comercial (Roma x províncias); (5) crescimento da escravidão (ócio de grande parte dos homens livres); (6) intervenção despropositada do estado na esfera econômica; (7) comodismo decorrente da opulência. O governo expediu leis fixando o campônio no campo e obrigando os homens da cidade a seguirem a ocupação dos pais. Isto não impediu a deterioração dos costumes e o declínio do império romano do ocidente.
Fatores políticos da queda: (1) falta de permanentes regras de sucessão ao governo a gerar graves e freqüentes conflitos internos em prejuízo da ordem e da desejável confiança do povo; (2) equacionamento deficiente ou errôneo da evolução do estado romano municipal (cidadania exclusiva dos patrícios) para o estado romano nacional (extensão da cidadania aos povos da Itália) e para o estado romano multinacional (extensão da cidadania aos povos das províncias). Governar uma cidade (estado) não é o mesmo que governar um império.
Fatores sociais da queda: (1) o povo perdeu o vigor moral e a disposição para lutar; (2) a mistura de romanos e bárbaros no exército e a ambição dos generais {os mercenários germânicos quando se tornaram quase a totalidade do efetivo militar resolveram lutar em defesa dos seus próprios interesses ao invés de lutar em defesa dos interesses de Roma}; (3) após ser adotado como religião oficial, o cristianismo debilitou o espírito guerreiro dos romanos. A filosofia cristã minou o poder civil e militar de Roma e contribuiu para a queda do império ao pregar: (1) a não resistência {oferecer a outra face}; (2) a esperança de salvação no outro mundo {felicidade e abundância no lar celestial}; (3) o distanciamento da esfera pública {dai a César o que é de César e a deus o que é de deus}; (4) a oposição à religiosidade cívica {devoção à pátria substituída pela devoção a deus}; (5) a superioridade da autoridade eclesiástica em relação à autoridade secular {sacerdote vigário de deus}.
O império romano do oriente de feição bizantina foi o que restou após a queda de Roma. Bizâncio mantém o seu esplendor até a sua tomada pelos turcos otomanos em 1453.

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