Roma (continuação).
O gladiador trácio de nome Spartacus organizou um exército de
gladiadores, escravos e homens livres. Combateu e venceu as legiões romanas,
mas acabou derrotado ao tentar dominar a Sicília (73 a 71 a.C.). A calmaria após a
borrasca dos gladiadores não durou muito. Pompeu, Júlio César e Crasso,
defensores do povo, formam triunvirato e partilham as províncias do império.
Pompeu ficou responsável pela Espanha, Crasso pela Síria e César pela Gália
(França + Bélgica). César conquista a Grã-Bretanha. Eleito cônsul pelo senado,
Pompeu devolve direitos à plebe e coloca César fora da lei (52 a.C.). César reage. Com o real ou lendário brado alea jacta est (“a sorte está lançada”)
à frente do seu exército, ele cruza o rio denominado Rubicão e entra no
território de Roma (49 a.C.).
{Situado na parte setentrional da península italiana, esse pequeno rio separava
a Gália Cisalpina da cidade (estado) de Roma. Por medida de segurança, nenhum
general devia atravessar esse rio e entrar em Roma com as suas tropas sem
prévia autorização do senado}. Pompeu foge, organiza um exército, enfrenta o de
César, mas sai derrotado (Farsilia, Tessália, 48 a.C.). Depois disto, Pompeu
foi morto por encomenda do rei do Egito. César foi eleito cônsul por tempo
indeterminado (45 a.C.).
Durante o seu governo ajustou o calendário romano ao calendário egípcio de 365
dias (adicionava-se um dia a cada quatro anos). Ele acabou com as
irregularidades na distribuição dos celeiros públicos {o desvio de bens
públicos vem de longe}. Providenciou a codificação das leis e agravou as penas
dos crimes. Concedeu cidadania romana a milhares de espanhóis e gauleses.
Distribuiu terras dentro e fora da Itália aos seus subordinados veteranos e a
pessoas pobres. Obrigou os grandes proprietários a empregarem um cidadão livre
para cada dois escravos. Quando presidia reunião do senado na Cúria Pompeu,
César foi assassinado com várias punhaladas desferidas por um grupo de
senadores (44 a.C.).
Otávio, Marco Antonio e Lépido formam novo triunvirato, matam os conspiradores
e confiscam os respectivos bens.
Defensor da constituição
republicana, eminente estadista e excelente orador, Marco Túlio Cícero, apesar
de não ter participado da conspiração, foi assassinado pelos soldados de Marco
Antonio. {Na opinião de Cícero, a longa permanência de César no consulado
parecia não se ajustar ao modelo republicano de estado}. Os aristocratas Brutus
e Cássio, que integravam o grupo de conspiradores e assassinos de César,
organizaram um exército para disputar o governo de Roma, porém, foram
derrotados por Otávio (42 a.C.).
Os triúnviros se desentenderam. Lépido perde a autoridade à frente do seu
exército. Vencidos na batalha de Actium, Marco Antonio e Cleópatra se suicidam.
Otávio resta como único soberano. A república romana entra no seu ocaso (31 a.C.). De modo paulatino,
pacífico e astucioso, Otávio assume as magistraturas supremas. O senado lhe
outorga sucessivamente os títulos de Imperator,
Princeps e Augustus e os poderes de tribuno perpétuo, cônsul perpétuo e
pontífice máximo. Alvorece o ciclo imperial em Roma (27 a.C. a 476 d.C.).
Entre os sucessores de Otávio (César Augusto) houve tiranos,
excêntricos, corruptos, assassinos e até débeis mentais. Merecem louvor:
Vespasiano, que sujeitou a Judéia, introduziu representantes das províncias no
senado, reorganizou o exército, iniciou a construção do Coliseu, estendeu a
cidadania romana à Espanha; Tito Vespasiano, que concluiu a tarefa do pai (o
Coliseu e o domínio sobre a Judéia) e embelezou Roma; Nerva, Trajano, Adriano,
Antonino Pio e Marco Aurélio (69
a 180 d.C.). No terceiro século (201 a 300) destacou-se
Aureliano, que reorganizou o estado, o exército e as fronteiras do império,
restabeleceu a autoridade sobre a Gália, construiu muralhas em locais estratégicos
e instituiu o novo culto religioso do Sol
Invictus. O assassinato de Aureliano gerou crise institucional. Após o
fracasso de alguns militares, a missão de manter a ordem interna coube ao
general Deocleciano, que promoveu amplas mudanças institucionais e exerceu o
poder de modo soberano e absoluto (284 a 306). O senado e o povo eram apêndices.
Esse imperador imitou os déspotas orientais inclusive no traje e no cerimonial.
Vestia-se de púrpura, seda e ouro. Nas audiências, os súditos eram obrigados a
se prostrarem diante dele como se ele fosse uma divindade. Inicialmente,
partilhou o poder com Maximiano. Depois, criou o sistema de tetrarquia, sendo
ele a autoridade suprema além de governar diretamente a parte oriental do
império com ajuda de um César (Galério). A outra parte ficou sob a autoridade
de Maximiano com a ajuda de um César (Constâncio). O exército também foi
dividido em quatro partes, cada uma com o seu comandante próprio. O sistema de
tributação sobre a produção agrícola era rigoroso de modo a fortalecer as
finanças do império. Ante a desvalorização da moeda ele adotou o pagamento dos
tributos em mercadoria.
O escambo passa a coexistir com a moeda. A fim de controlar a
inflação ele tabelou os preços de vários artigos. O efeito colateral do tabelamento
não demorou: mercado negro.
Deocleciano ordenou que cada homem permanecesse na profissão que exercia e que
os filhos nela o sucedessem.
Constantino, sucessor de
Deocleciano, manteve a organização estatal herdada do seu antecessor (306 a 337). Antes da vitória
sobre Maxêncio (312) Constantino diz ter visto no céu uma cruz e a frase: in hoc signo vinces {“com este símbolo
vencerás”}. Verdade ou lenda, isto justificou a sua conversão ao cristianismo.
Provavelmente, ele inventou esta visão com propósitos políticos. Ele via nessa
religião potencial para unir espiritualmente o povo e facilitar a tarefa do
governo, objetivo que Deocleciano não conseguira com o paganismo. Adotado o
cristianismo como religião oficial, os traços totalitários do governo se acentuaram.
Visando a realizar objetivos estratégicos, Constantino muda a capital do
império para Bizâncio (Constantinopla, 330). Ele abriu a senda para nova
civilização: a bizantina. De
acentuado caráter oriental, a civilização
bizantina caracterizou-se: (1) pelos governos despóticos vinculados à
religião; (2) pela crença no sobrenatural; (3) pelo misticismo; (4) pelas
atitudes pessimistas e fatalistas (476 a 1453). O grego volta a concorrer com o latim
como língua franca. O imperador Teodósio (378 a 395) divide o império entre os seus dois
filhos. O leste ficou para Arcânio (império
romano do oriente) que reinou de 395 a 404. O oeste ficou para Honório (império romano do ocidente) que reinou
de 395 a
423.
O império romano do ocidente durou pouco. Roma caiu nas mãos dos
invasores bárbaros. Primeiro, diante de Alarico, rei dos visigodos (410).
Depois, diante de Átila, rei dos hunos (451). A seguir, diante de Gaiserico,
rei dos vândalos (455). Finalmente, diante de Odovacar, chefe de tribo
germânica (476). A civilização romana já perdera suas características
essenciais no decurso dos últimos duzentos anos. A invasão dos bárbaros foi
apenas um marco histórico do fim daquela civilização. Os fatores da queda são
sempre os mesmos, comuns aos grandes impérios: (1) dificuldade de administrar
povos de diferentes culturas situados em vasta extensão territorial; (2)
corrupção política, afrouxamento dos laços morais e patrióticos; (3) luta
selvagem pelo poder; (4) exaustão dos recursos materiais para funcionamento do
estado; (5) falta de talento e disposição das novas gerações para atividades
econômicas, artísticas e científicas; (6) excesso de população; (7) gente
cobiçosa e parasitária nos grandes centros; (8) discórdia entre as diferentes
camadas sociais; (9) feudalismo a minar a autoridade central {grandes
proprietários dispondo de um exército de servos, fechados em suas terras e
palácios, governam o seu rincão como poderosos magnatas feudais}.
Fatores econômicos da queda: (1) dinheiro fora de circulação por
causa da falsificação da moeda com metal vil; (2) retorno ao escambo, salários
pagos com alimento e vestuário no lugar da moeda; (3) comércio e indústria
enfraquecidos; (4) desequilíbrio na balança comercial (Roma x províncias); (5)
crescimento da escravidão (ócio de grande parte dos homens livres); (6)
intervenção despropositada do estado na esfera econômica; (7) comodismo
decorrente da opulência. O governo expediu leis fixando o campônio no campo e
obrigando os homens da cidade a seguirem a ocupação dos pais. Isto não impediu
a deterioração dos costumes e o declínio do império romano do ocidente.
Fatores políticos da queda: (1) falta de permanentes regras de
sucessão ao governo a gerar graves e freqüentes conflitos internos em prejuízo
da ordem e da desejável confiança do povo; (2) equacionamento deficiente ou
errôneo da evolução do estado romano municipal (cidadania exclusiva dos
patrícios) para o estado romano nacional (extensão da cidadania aos povos da
Itália) e para o estado romano multinacional (extensão da cidadania aos povos
das províncias). Governar uma cidade (estado) não é o mesmo que governar um
império.
Fatores sociais da queda: (1) o povo perdeu o vigor moral e a
disposição para lutar; (2) a mistura de romanos e bárbaros no exército e a
ambição dos generais {os mercenários germânicos quando se tornaram quase a
totalidade do efetivo militar resolveram lutar em defesa dos seus próprios
interesses ao invés de lutar em defesa dos interesses de Roma}; (3) após ser
adotado como religião oficial, o cristianismo debilitou o espírito guerreiro
dos romanos. A filosofia cristã minou o poder civil e militar de Roma e
contribuiu para a queda do império ao pregar: (1) a não resistência {oferecer a
outra face}; (2) a esperança de salvação no outro mundo {felicidade e abundância
no lar celestial}; (3) o distanciamento da esfera pública {dai a César o que é
de César e a deus o que é de deus}; (4) a oposição à religiosidade cívica
{devoção à pátria substituída pela devoção a deus}; (5) a superioridade da
autoridade eclesiástica em relação à autoridade secular {sacerdote vigário de
deus}.
O império romano do oriente de feição bizantina foi o que restou após
a queda de Roma. Bizâncio mantém o seu esplendor até a sua tomada pelos turcos
otomanos em 1453.
Nenhum comentário:
Postar um comentário