domingo, 31 de janeiro de 2010

POESIAS

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo/ Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto/ Que, para ouvi-las, muita vez desperto/ E abro as janelas, pálido de espanto.../ E conversamos toda a noite, enquanto/ a via láctea, como um pálio aberto/ cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,/ inda as procuro pelo céu deserto./ Direis agora: “Tresloucado amigo,/ que conversas com elas? Que sentido/ tem o que dizem, quanto estão contigo?”/ E eu vos direi: “Amai para entendê-las!/ Pois só quem ama pode ter ouvido/ capaz de ouvir e de entender estrelas.” (Via Láctea – Olavo Bilac).
Última flor do Lácio, inculta e bela,/ és, a um tempo, esplendor e sepultura/ ouro nativo, que na ganga impura/ a bruta mina entre os cascalhos vela.../ Amo-te assim, desconhecida e obscura,/ tuba de alto clangor, lira singela,/ que tens o trom e o silvo da procela,/ e o arrolo da saudade e da ternura!/ Amo o teu viço agreste e o teu aroma/ de vargens e de oceano largo!/ Amo-te, ó rude e doloroso idioma,/ em que da voz materna ouvi: “meu filho!”/ e em que Camões chorou, no exílio amargo/ o gênio sem ventura e o amor sem brilho! (Língua Portuguesa – Olavo Bilac)

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