quinta-feira, 3 de abril de 2008

As elites

O presidente Luiz Inácio, por ignorância ou má-fé, costuma se referir às elites de modo depreciativo e exaltar a sua condição pessoal de nordestino retirante e pobre. Há nisso uma inversão de valores. Enaltece-se a massa, onde prevalece a mediocridade, e execra-se a elite, onde prevalece a virtuosidade. Essa inversão pode resultar: (i) da demagogia, com o fim de conquistar a simpatia e os votos da massa (ii) de um projeto político ideologicamente inspirado para colocar a base da pirâmide no vértice e o vértice na base (iii) de um complexo de inferioridade acoplado a um nivelador sentimento de inveja e de vingança em relação aos que se encontram, por méritos próprios, no vértice da pirâmide. Por outro lado, há dezenas de anos que Luiz Inácio adotou São Paulo como pátria e deixou de ser pobre.

A palavra elite, invenção francesa, origem latina (electis, electe), significa escolha. Vem associada à imagem de flor, que leva agradável sensação à alma. Segue-se o conceito: elite, flor da sociedade. Cuida-se, pois, da escolha do melhor, do mais capaz, do mais brilhante para formar a nata, o escol da sociedade, do Estado ou de uma corporação. Há elite política, elite econômica e elite social. A mesma pessoa pode participar dos três tipos ao mesmo tempo. Uma pessoa rica pode integrar o governo e ser reconhecida como intelectual formadora de opinião. Na sociedade, a escolha é espontânea, brota da difusa energia da população e independe da vontade do eleito. No Estado, a escolha é provocada; a pessoa, por vontade própria, candidata-se ao ingresso na elite política. Na corporação, a escolha deriva da avaliação dos pares e o escolhido passa a integrar o círculo dos mais brilhantes, influentes e capazes (elite do parlamento, elite da magistratura, elite do exército, elite da polícia).

A elite política compõe-se de pessoas que exercem poder político: parlamentares, chefes de governo e magistrados. Nela convivem o sulista rico, educado, culto, e o nordestino que se diz pobre, retirante e inculto. A eleição e o concurso público de provas e títulos são o lastro dessa elite. A virtude moral e a eficiência estão supostas na escolha popular e na aprovação em concurso público, mas podem não se confirmar na prática. Tanto o sulista culto como o nordestino inculto, podem se revelar corruptos no exercício das suas funções. Daí se formar, no âmbito da elite política, um núcleo virtuoso integrado por aqueles que se destacam pelo bom caráter, humanismo, espírito público, intelecto cultivado, pela produtividade e pela aversão às práticas corruptas.

A elite econômica exerce poderosa influência sobre o governo. Essa elite compõe-se de banqueiros, empreiteiros, usineiros, fazendeiros e empresários de outros setores (seguros, comunicações, educação, comércio, indústria). Além de grupo de pressão, essa elite mantém agentes no governo, entre os quais podem se contar deputados, senadores, juízes, ministros, presidentes do Banco Central e de agências reguladoras.

A elite social tende a apoiar o governo. Compõe-se de pessoas que se destacam por suas virtudes morais e méritos intelectuais e profissionais na sociedade, tais como: sacerdotes, cientistas, artistas, advogados, médicos, engenheiros, arquitetos, inventores, professores, escritores, jornalistas, esportistas. Quando discorda do governo, essa elite pressiona para corrigir o rumo, defende a renovação no comando e, se for preciso, pleiteia o afastamento imediato dos governantes pelas vias constitucionais. Cor, raça, sexo, origem, idade e patrimônio não servem de indicadores a essa elite que se assemelha a uma egrégora, ente abstrato resultante das afinidades (aspirações, sentimentos, pensamentos, comportamento) entre pessoas que às vezes, nem se conhecem, mas podem se reunir em eventos públicos e se manifestar nos meios de comunicação. Por seu modo de ser e de estar no mundo, essas pessoas fazem parte da elite social, mesmo sem saber ou sem querer.

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