sábado, 29 de março de 2008

Ódio na política

Na democracia, governa o partido ou a aliança partidária que vence o pleito eleitoral. No Brasil, o Partido dos Trabalhadores está no governo. O seu candidato e presidente de honra venceu as eleições, tomou posse e entrou em exercício no cargo de Presidente da República. O PT deve essa vitória à imagem que construiu e projetou na sociedade brasileira e na comunidade internacional, de um partido comprometido com a ética, com os valores sociais e com a dignidade da pessoa humana. Inspirou confiança por ser um partido construído a partir da classe obreira, que tem em seus quadros trabalhadores intelectuais, técnicos e manuais, cujo propósito era o de reduzir as desigualdades sociais, acabar com a fome, elevar o padrão de vida dos desafortunados, aumentar a produção de bens e as oportunidades de emprego, promover a reforma agrária, tornar a educação e a saúde acessível a todos, aliviar a carga tributária, o que seria possível mediante um modelo econômico oposto ao modelo neoliberal, então em vigor (1995/2002), que só aumentara a riqueza dos ricos, empobrecera a classe média e tornara miserável a classe pobre.

O carismático líder do PT, por sua história de pobreza, de luta política e ascensão social, dava credibilidade a esse magnífico e humanístico programa que empolgava os pobres e os remediados. Em contrapartida, despertava desconfiança na camada social que tem as rédeas da economia e da política no Brasil. Cônscio da força desse estamento que o derrotara 3 vezes, que colocara e apeara Collor, que mantivera Fernando Henrique no governo, Luiz Inácio começou, já na campanha, a fazer acenos de cordialidade com o mote “Lulinha paz e amor”. Os votos estamentais foram para José Serra. Apesar disso, logo após a vitória e a fim de tranqüilizar a elite, Luiz Inácio correu para os braços de Bush a lamber as texanas botas. Garantiu subserviência aos EUA e FMI, e apoio financeiro (direto ou indireto) aos títeres daquele país no Brasil (jornais e emissoras de televisão).

Para se mostrar superior e servindo-se dos assessores e da imprensa subvencionada, Luiz Inácio passou a criticar a política do governo argentino, cuja economia só prosperou após enfrentar, de modo corajoso e soberano, as exigências do FMI. Nestor Kirchner colocou os interesses do povo argentino acima dos interesses dos credores e dos organismos internacionais, enquanto Luiz Inácio procedeu de modo inverso. Aquele agiu como estadista; este, como sabujo. O presidente brasileiro e seus auxiliares não tiveram competência, muito menos, coragem e vontade política, para montar um novo e prometido modelo econômico. Não sabiam como governar nem como instituir uma economia oposta à vigente. Prometeram ao povo o que não podiam cumprir, o que não sabiam fazer. Para escapar da enrascada decidiram trilhar o caminho mais fácil, aberto pelo governo anterior. Antes de assumir o governo, reuniram-se com a equipe econômica de Fernando Henrique, receberam instruções de como manter e tocar adiante o modelo neoliberal. Seguiram a cartilha à risca. Colocaram um tucano no Banco Central, esperto em práticas ilícitas, como a remessa de dinheiro para fora do País, e um condescendente no Ministério da Fazenda, esperto em arrecadar dinheiro para o partido, participar de festinhas em Brasília e violar sigilo bancário. Os dois mantiveram as taxas de juros em patamar elevado, prejudicando o povo brasileiro e setores da economia nacional, a fim de proporcionar lucros fabulosos aos bancos. Isto não foi de graça. Este é um país capitalista. Ninguém proporciona estrondosos lucros a terceiros sem receber algo em troca. Está aí, certamente, uma das fontes de arrecadação de fundos para alimentar o projeto petista de governo de longo curso.

A “perda” da CPMF foi compensada pelo aumento de alíquotas de tributos e de tarifas praticadas pelas concessionárias de serviços públicos das quais uma fatia generosa vai para os cofres do governo. Em sua extemporânea campanha eleitoral, apoiando-se no PAC e no programa “Territórios de Cidadania”, Luiz Inácio ataca os seus opositores políticos, culpando-os por aquela “perda” cuja arrecadação destinava-se aos pobres. Sofisma e descaramento. Pelo tempo que vigorou a CPMF, inclusive durante os 5 anos do seu governo, o Brasil deveria ter a mais sofisticada e eficiente assistência médica e hospitalar do mundo, para os pobres e remediados, com médicos e enfermeiros muito bem pagos. No entanto, todos sabem o estado miserável em que se encontra o setor de saúde no Brasil. Na sua extemporânea campanha, Luiz Inácio tenta enganar o eleitorado. Exibindo euforia artificial, afirma o sucesso da economia. A verdade é bem outra: a dívida é superior a 1 trilhão e 300 bilhões de reais; não foi paga ainda; as reservas internacionais são bem inferiores; o déficit da balança comercial atinge a casa dos 12 bilhões de dólares; o crescimento da economia podia ter sido bem superior, o dobro, pelo menos, do apresentado nos últimos 5 anos, tendo em vista a favorável conjuntura internacional. O Brasil ficou na rabeira da Índia, da Rússia e da China. A enganação de Luiz Inácio é bem refletida na sua atitude jocosa, quando diz – certamente mentindo ou fazendo graça para a platéia – que telefonou a Bush e pediu que ele resolvesse a crise dos EUA para não atrapalhar a economia brasileira em franco desenvolvimento.

O PT não desperta ódio naqueles que nele confiaram. Desperta revolta e nojo. Ódio, arrogância e safadeza têm demonstrado os seus representantes nos diversos escalões da República e no Congresso Nacional. Os petistas têm demonstrado raiva e ódio contra todos aqueles que desvendaram a sórdida e oculta face do PT; têm raiva e ódio daqueles que investigam ou pretendam investigar os gastos ilícitos da presidência da República; formam tropa de choque na CPI dos cartões corporativos para proteger a canalha. Esse esforço para blindar o presidente da República e sua quadrilha é a tácita confissão de que houve ilícitos penais e administrativos. Trata-se de esforço para encobrir a corrupção e assegurar a irresponsabilidade e a impunidade de Luiz Inácio e seu bando. O sigilo das contas da presidência da república ou de qualquer órgão público é impostura. Na república democrática não existe tal sigilo. Todos os gastos devem ser comprovados e previamente autorizados. O saque de dinheiro público, por agente público ou privado, mediante cartão de crédito é inconcebível. Aceitável no setor privado, o cartão corporativo é inaceitável no setor público, onde vige a legalidade estrita e a indisponibilidade do dinheiro e do patrimônio público. A destinação da verba pública tem de ser específica e dentro das formalidades que assegurem a fiscalização e o controle.

Nenhum comentário: