quinta-feira, 5 de maio de 2022

ACADEMIA

No programa "Seleção” do canal 39, de 04/05/2022, veio à balha a opinião de Ademir da Guia, antigo craque de futebol do Palmeiras, que adjetivou de “Terceira Academia”, a atual equipe de futebol masculino do referido clube. Discutiu-se, em bom tom, se o melhor adjetivo seria “Quarta Academia” para fazer justiça a outra equipe anterior também de excelsas virtudes. Além do elemento técnico e dos dados estatísticos, os jornalistas acrescentaram o elemento ético (?) na avaliação das equipes. 
Nenhum dos debatedores teve a deselegância de desmerecer a opinião do jogador que no passado fez parte do elenco do Palmeiras. Trata-se de um craque inserido por seus próprios méritos entre os maiores jogadores de futebol do mundo. Estilo de jogar elegante, refinado, eficaz nos dribles, nos passes, nas finalizações, pessoa bem-educada, disciplinada, inteligente, boa visão de jogo e liderança em campo. 
No entanto, a maioria do público e dos jornalistas esportivos aprecia [I] mais o futebol taurino de jogadores: (i) brasileiros, como Garrincha, Leônidas, Pelé, Romário, Ronaldo, Vavá, Zico (ii) estrangeiros, como Baggio, Eusébio, Gullit, Klose, Maradona, Messi, Rossi, Puskas, Robben, Totti [II] do que o futebol felino e sutil de jogadores: (i) brasileiros, como Ademir da Guia, Alex, Didi, Diego, Falcão, Ganso, Giovane, Raí, Sócrates, Zé Roberto, Zizinho (ii) estrangeiros, como Beckenbauer, Beckham, Cristiano Ronaldo, Ibrahimovic, Iniesta, Pirlo, Riquelme, Sneijder, Valderrama, Zidane. 
 A divergência no citado programa girou em torno (i) de um anterior elenco do Palmeiras merecedor do título “Academia” (ii) da ética como critério de avaliação.
Todos estavam certos. Os enfoques eram distintos. Como disse um deles: a ética de 1970 não é a mesma de 2022. Realmente, as mudanças sociais e econômicas no curso da história influem na hierarquização dos valores. Exemplos: [1] Dominante na Idade Média (501-1700), a religião católica já não é mais dominante na Idade Moderna [2] Progressista na Idade Moderna (1701-1900), destacando-se na revolução francesa, a maçonaria tornou-se conservadora e reacionária na Idade Contemporânea (1901-2000).   
Na avaliação, entram fatores pessoais do avaliador além do contexto social em que vive. Para avaliar tanto o desempenho imediato como o desempenho histórico das equipes esportivas, sob o prisma da beleza do espetáculo, o senso estético do avaliador e do público é determinante. A coreografia em campo, o conjunto harmonioso, as táticas em moda, a excelência técnica, os recursos materiais disponíveis, a preparação física e psicológica, a elegância ao executar as jogadas com eficácia, tudo compondo a beleza plástica do espetáculo esportivo que entra pelos olhos e pousa na memória e no coração. Grandes equipes fascinam o público, em geral, e aqueles que vivem do esporte, em particular. 
Academia, nome inspirado em Academos, herói lendário, dado ao jardim onde Platão, filósofo grego e os seus discípulos se reuniam, foi e tem sido usado nas línguas latinas até os nossos dias por instituições de ensino e cultura. Por extensão, esse vocábulo também é usado como denominação de sociedades civis, inclusive desportivas e recreativas. 
A Sociedade Esportiva Palmeiras recebeu o cognome de “Academia” por batismo profano (não religioso) há alguns anos. Na segunda metade do século XX, diante da maestria coletiva do time e individual dos jogadores, ela foi assim batizada. As competições com equipes adversárias eram autênticas aulas práticas de como jogar futebol com excelência e arte. 
Trata-se, pois, de cognome do clube como instituição esportiva, embora a origem esteja na maestria de uma equipe que se tornou tradicional. As equipes posteriores seguem a tradição, algumas mais próximas do nível original, outras nem tanto. O elenco atual do Palmeiras situa-se nesse nível original, de acordo com a abalizada opinião de Ademir da Guia. Esse elenco não é o único e talvez não seja o último a alcançar o alto nível. Elencos passados alcançaram-no e elencos futuros provavelmente alcançá-lo-ão.       
Ao tocar no assunto, Ademir da Guia certamente referia-se ao seu clube, à história do seu clube, aos elencos do seu clube através dos anos, sem comparar com outros clubes. O Santos FC, do tempo de Pelé, por exemplo, também merecia o título de “Academia”, mas foi o Palmeiras que adquiriu o direito de uso desse nome. O Barcelona de Ronaldinho e Messi também merece o honroso título.   
Desde 1949, eu sou fiel torcedor do São Paulo FC, que também merece o título de “Academia”. Quando minha família morava em Ponta Grossa/PR, eu tinha um amigo tricolor, da minha idade (10 anos), nosso vizinho, que torcia para o São Paulo e para o Fluminense. Por companheirismo, também adotei os tricolores. Apesar disto, eu sou apreciador do bom futebol. Para mim pouco importa a cor da camisa e a nacionalidade do clube e do jogador, desde que o espetáculo mereça admiração e aplauso. 


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