sábado, 2 de abril de 2022

O UNIVERSO E A RELIGIÃO

O universo compõe-se de 100 bilhões de galáxias, segundo cálculos astrofísicos. Sobre a sua origem, prevalece a teoria do “big bang”: grande explosão de energia concentrada que deu início ao tempo, ao espaço, ao movimento e à formação material do mundo. Se essa energia fundamental proveio de uma fonte externa (gênese divina) ou se nasceu por si mesma (partenogênese) é questão para a qual ainda não há resposta definitiva. No silêncio da ciência, fala a religião. 
O universo continua a se expandir. Resta saber se essa expansão é esférica ou plana, finita ou infinita. Caso seja finita, se haverá contração ou se atingirá um ponto de estabilidade e permanência. A tese de que o universo não teve começo e nem terá fim continua em banho-maria. Numa escala macrocósmica, a Terra, nesse universo, é um grão de areia que gira em torno de uma pequena estrela no interior de um sistema planetário situado na cauda de uma galáxia (Via Láctea). 
Da existência de vida humana em outros planetas, dentro ou fora da nossa galáxia, nada se sabe. Aceita-se a probabilidade de existir. Trata-se, pois, de inferência provável e não de inferência demonstrativa. Também reina controvérsia em torno da existência de vida imaterial num mundo espiritual hierarquicamente organizado segundo leis inflexíveis, dotado de governo celestial, habitado por seres incorpóreos (pessoas desencarnadas, santos, anjos, deuses). Cuida-se de assunto metafísico, campo da incerteza e da intuição pura incompatível com a lógica demonstrativa.
Os planetas do sistema solar, com exceção da Terra, são desabitados e circunscritos ao reino mineral. Isto acontece em 99,9% do universo, sem humano algum para prestar culto a divindades, sem estradas, pontes, viadutos, veículos, naves espaciais, cidades, casas, prédios, palácios, escolas, hospitais, igrejas, nações, sociedade, estado, moral, direito, economia, tecnologia, arte, ciência, filosofia, religião, misticismo. Tudo isto somente existe na Terra, planeta habitado por animais racionais; tudo isto constitui, no seio da natureza, uma esfera própria: o mundo da cultura criado por humanos, para fins humanos, segundo leis humanas e leis naturais. 
A existência ou inexistência de deus, portanto, é problema exclusivo dos animais racionais que vivem na Terra; problema inventado por humanos. Contudo, poderá ser problema também de outros seres inteligentes, necessitados dessa muleta espiritual, que porventura habitem planetas de outras galáxias. Em relação aos terráqueos, os supostos alienígenas poderão estar, cultural e espiritualmente, mais atrasados, no mesmo nível, ou mais avançados. No que concerne à existência da divindade e do mundo espiritual, os supostos alienígenas poderão acreditar ou não, ter ou não ter doutrinas e práticas religiosas.
Destarte, no sistema solar em que vivemos, religião só existe em nosso planeta e faz parte do mundo da cultura. Daí, a impropriedade, o exagero e a ausência de modéstia de qualquer religião ao se atribuir extensão “universal”. Ao sucumbirem perante o medo, a ignorância e a fragilidade, os humanos imaginam a existência de divindades poderosas das quais esperam auxílio e às quais pretendem se ligar. Desse modo, foram gerados a religião, o sacerdócio e a classe sacerdotal. Numa época em que os povos da Terra eram politeístas, surge o monoteísmo no Egito, publicamente, sob o reinado do faraó Aquenaton. [Nome egípcio com grafia portuguesa de igual valor ao da grafia inglesa]. Posteriormente, sob a liderança de Moisés, os hebreus captaram o monoteísmo egípcio. Herdaram-no a seguir: (i) os cristãos, sob a liderança de Jesus (ii) os muçulmanos, sob a liderança de Maomé. O deus criado pelos humanos acabou cultuado, temido e adorado como sendo o criador e senhor do universo.  
Desde as primeiras civilizações (Egito, Mesopotâmia), a religião institucionalizada esteve jungida ao poder político. Em grau menor, isto prossegue nos dias atuais, apesar de, na Europa e na América, a partir do século XVIII, terem sido consideradas (i) a distinção entre poder espiritual e poder secular (ii) a separação entre igreja e estado. As crenças e práticas religiosas continuam vigentes no seio das nações, embora a influência da religião nos negócios de estado não seja tão intensa como na Idade Média. Em alguns países, na época atual, a religião destaca-se na política ao ser colocada acima do estado (judaísmo, islamismo). As igrejas cristãs (católica e protestante) influem em países onde a Bíblia concorre com a Constituição. Nos EUA, por exemplo, o cristianismo protestante é dominante. Os presidentes estadunidenses são todos protestantes (exceção: Kennedy). No Brasil, o cristianismo católico, embora dominante desde o período colonial, agora sofre a concorrência do protestantismo; o espiritismo está bem difundido, praticado por grande parte da população; o judaísmo, apesar do menor número de praticantes, mostra-se mais influente na política e na economia. 
A presença dos protestantes cresceu no Brasil. Os cultos são autênticas sessões de hipnose coletiva. O protestantismo (de maior ênfase na parte hebraica do que na parte cristã da Bíblia) nunca foi tão calvinista como atualmente, máquina de fazer dinheiro e enriquecer suas igrejas, seus bispos e pastores. Invadiu a política. Misturou religião com negócios de estado. Atitudes autoritárias. Supremacia da Bíblia. Laicidade do estado neutralizada pela religiosidade. Por via oblíqua, desrespeita-se a republicana decisão do legislador constituinte de vedar religião oficial. O fato de existirem religiões ativas, com direitos assegurados na Constituição, é colocado em plano secundário (catolicismo, espiritismo, judaísmo, islamismo, budismo).


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