sábado, 27 de fevereiro de 2021

FUTEBOL

Neste fevereiro de 2021 chegou ao fim o campeonato brasileiro de futebol masculino de 2020. O Flamengo FR sagrou-se campeão embora perdendo a última partida para o São Paulo FC.  Ao empatar com o Corinthians em jogo sem gols válidos, o Internacional de Porto Alegre perdeu a chance de ser campeão; ficou um ponto atrás do clube carioca. Isto provocou comentários desairosos sobre a arbitragem. O VAR prejudicou intencionalmente o clube gaúcho e beneficiou o clube carioca? Não, por impossibilidade lógica e psicológica. Faltam à máquina, vontade, raciocínio e senso do dever. Logo, não está sujeita a julgamento ético por seu bom ou mau funcionamento. Impróprio atribuir-lhe culpa ou inocência. Caso a máquina apresente defeito, a oficina será o seu destino. O que nela foi registrado deve ser examinado com cautela e honestidade. Quem examina e interpreta o conteúdo do registro é o ser humano sujeito a erros e fraquezas. O operador do VAR pode estar de boa-fé ou de má-fé. O árbitro da peleja deve aceitar ou rejeitar o aviso e a interpretação do operador. O aviso resulta de detalhe que o árbitro não percebeu. A interpretação está sujeita a chuvas e trovoadas. O congelamento da imagem pode enganar o analista. O jogo é dinâmico. A imagem congelada não revela essa dinâmica. O que parece uma dolosa agressão pode, na verdade, ser apenas uma jogada ríspida, involuntária, sem a gravidade ou o abuso que autoriza a expulsão do jogador. 

Antigamente, esse esporte foi mais brutal. Dizia-se que futebol era para "homem", cabra macho. O esporte evoluiu como arte nos últimos 70 anos, embora alguma violência sobreviva pontualmente. Assim, por exemplo, há 40 anos, aproximadamente, o treinador do Flamengo promoveu a substituição de um jogador e instruiu ao que entrava em campo (salvo engano, chamava-se Almir) para agredir um jogador adversário que vinha batendo forte nos atletas flamenguistas. A missão foi cumprida com êxito. Na Copa de 1962, no Chile, durante uma partida, os jogadores brasileiros combinaram acertar um adversário violento. A prática do futebol ficou mais civilizada ao ser estendida às mulheres. O futebol feminino ganhou prestígio internacional. A brasileira Marta, por 6 diferentes anos, foi eleita a maior jogadora de futebol feminino do mundo. A arbitragem também evoluiu. Todavia, a desconfiança sobre a honestidade permanece. O árbitro tem sido a "Geni" do jogo. Nem todos os lances faltosos são percebidos pelo árbitro principal e pelos árbitros auxiliares. Daí, o valioso auxílio do VAR. Esse instrumento ajuda a corrigir erros da arbitragem em tempo real. Havendo divergência, prevalece a opinião do árbitro sobre a opinião do operador.  

No âmbito desse esporte, os aficionados exigem do árbitro o impossível: a perfeição! Arbitragem perfeita não é coisa deste mundo. O erro da arbitragem é tolerável quando involuntário, pois resulta da imperfeição do ser humano. O erro da arbitragem é intolerável quando voluntário, pois resulta da desonestidade; beneficia uma equipe e prejudica a outra. A arbitragem evoluiu para melhor, inclusive com o uso de cartões (o gesto substituiu a palavra), com a atuação de árbitros auxiliares, com dispositivos eletrônicos de comunicação, vigilância e controle. Outrora, pontificavam Vianna e Marques como exemplos de bons árbitros. Hoje, o número de bons árbitros aumentou, alguns excelentes. Os erros voluntários e involuntários diminuíram. 

Às vezes, os erros são gerados pela equivocada compreensão e aplicação das regras do futebol. As dificuldades sobre se na jogada houve mão na bola ou bola na mão, por exemplo, parecem superadas. A Comissão de Arbitragem é muito importante para, sem espírito punitivo, esclarecer e resolver as contradições na compreensão e aplicação das regras. A regra do impedimento devia ser extinta ou reformada, pois, frequentemente, enseja malícia e injustiça. O modo rigoroso e minucioso pelo qual essa regra vem sendo interpretada e aplicada é incompatível com o espírito esportivo; beneficia o sistema defensivo em detrimento do sistema ofensivo. A única posição punível devia ser a "banheira". A jogada devia ser invalidada só quando o atacante ficasse aguardando o passe do companheiro a uma distância de dois corpos do último defensor. Esse tipo de atitude estática é incompatível com a dinâmica do jogo e com o princípio da lealdade. Fora dessa hipótese, a movimentação do atacante seria válida por conexão com o sistema ofensivo. Desse modo, seriam evitados episódios prejudiciais às equipes, ao espetáculo e à dignidade do esporte.  

Cabe ao sistema defensivo ficar atento para impedir a vantagem do atacante. Se os defensores, intencionalmente, movem-se e deixam o atacante na banheira, devem arcar com as consequências. Nesse caso, o atacante não deve ser prejudicado pela malícia do defensor. Afigura-se ridículo e de extremo mau gosto invalidar jogada - às vezes bela jogada - por causa da diferença de uma unha, de um pé, de uma perna, de um ombro ou de 10 centímetros num retângulo de 110m x 75m.  O futebol é arte esportiva e não ciência exata; esporte e não concurso de matemática; espetáculo para o público e não palco para árbitro e para operador do VAR exibirem acuidade ótica. Nessa arte, há valor estético acima desse casuísmo minucioso e ridículo. 


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