sábado, 1 de junho de 2019

CARTA AO ALÉM II

Penedo/Itatiaia/RJ, 1º de junho de 2019.
Prezado João.
Espero que tu estejas bem nessa cósmica dimensão espiritual. Aqui, na dimensão material, andamos sob chuvas, raios e trovoadas. Na carta anterior, citei o governo Cardoso como o mais corrupto e te informei que (i) a ladroagem continua (ii) nos últimos 5 anos, o Brasil regrediu 150 anos (iii) nos últimos 10 anos, o pessoal da direita regrediu à Idade da Pedra (iv) nos últimos 15 anos, o pessoal da esquerda sofreu os efeitos soporíferos e entorpecentes da “mosca azul” (Machado de Assis). Agora, com o canal telepático novamente aberto, receptivo à tua imediata resposta, eu vou te informar sobre as vestais da apelidada “república fascista de Curitiba”. Não, João, não houve divisão territorial. Fisicamente, a república brasileira contínua integra, salvo o Norte, onde parcela do território foi entregue aos EUA. O apelido foi dado por um político e advogado carioca para identificar o grupo nazifascista constituído de policiais, procuradores e magistrados. Sim, João, estou lembrado: força expedicionária brasileira enviada à Itália para combater o fascismo e o nazismo na segunda guerra mundial. Voltas que o mundo dá!
A divisão ideológica permanece, João, como em outros países, só que a polarização extremou-se e a violência tornou-se exacerbada. O grupo nazifascista é coeso e atua como partido político com o objetivo declarado de combater a corrupção e com os objetivos não declarados (i) de desmoralizar os governos petistas vinculando-os à corrupção e (ii) de impedir a eleição de candidato petista à presidência da república. Esse grupo descobriu a pólvora. Até as pedras da rua sabiam que nas empresas estatais e na administração pública direta municipal, estadual e federal, a corrupção é antiga, notória e persistente, motivo de troça popular trovada: “se gritar pega ladrão, não sobra um meu irmão”. Compositor aproveitou essa trova jocosa na letra da sua música (Chico Buarque). A ladroagem começou na época colonial (o santo do pau oco na mineração, te lembras?) e chegou aos nossos dias vigorosa e volumosa. Não há obra pública sem propina, superfaturamento e desvio de verba e de material.
As vestais concentraram seus esforços nos dois objetivos não declarados da operação que mencionei. Arrostaram normas constitucionais e legais, arrastaram o ex-presidente da república a um processo judicial fraudulento e o condenaram sem prova idônea. Serviram-se de delação obtida sob coação e de argumentos falaciosos com aparência jurídica, esperteza enganosa conhecida como lawfare. Por que vestais? Ironia, João. Explico. Os participantes desse grupo aparentam pureza moral que não possuem na realidade. “Moralistas sem moral” (Dilma Rousseff). Acoitados na operação denominada lava-jato, esses indivíduos praticaram maldades, falsidades, ilegalidades. A operação foi apelidada “lava-jato” por delegada da polícia federal inspirada nos postos de lavagem de automóveis de Curitiba. Exato, João, aquela mesma que provocou o suicídio do reitor da Universidade de Santa Catarina. Ele foi preso ilegalmente, seviciado e humilhado pelos policiais na prisão. Não sei te informar se foi apurada a responsabilidade administrativa e criminal da delegada e dos policiais.
Meu caro João: tanto vai o jarro à fonte que um dia quebra (ditado popular). As vestais tentaram embolsar cerca de dois bilhões de reais referentes à multa aplicada à empresa estatal (Petrobras). O dinheiro seria destinado a uma fundação por elas criada. A esperteza foi descoberta e impugnada. O escândalo ganhou manchetes. A malandragem foi arquitetada nos EUA para gerar multa e com ela compensar o serviço do grupo nazifascista. As vestais relacionam-se com autoridades estadunidenses das quais recebem orientação (principalmente do departamento de justiça e da CIA).
Tu, que fostes “presidente desta terra descoberta por Cabral” (Juca Chaves), sabes que os gringos são excelentes manipuladores e meticulosos conspiradores. Eles são de “fritar bolinho em geladeira” (baú das relíquias). Fizeram da polícia, do ministério público e da magistratura tupiniquim instrumentos dos seus interesses. Acantonaram a esquerda e engendraram o impedimento da presidente Rousseff. Apoderaram-se do petróleo, de minerais, de empresas públicas estratégicas. Introduziram no mercado brasileiro os seus produtos tecnológicos e industriais visando a primazia em face dos produtos de outros países. Visando a influir nas eleições, ensinaram ao pessoal da direita o “caminho das pedras” (Jesus sobre as águas). O capitão eleito presidente faz, com explícita sabujice, o gesto de continência à bandeira dos EUA. Tu fostes militar, João, sabes o que isto significa. Presta-se continência ao superior hierárquico ou à bandeira do seu país, nunca a autoridade e a símbolo estrangeiros, salvo a cortesia diplomática em local e hora adequados. 
Não te irrites. Vamos deixar as mães fora disso, João. Eu sei: há pessoas como tu que, desiludidas com os animais racionais, preferem a companhia de cavalos, cachorros e pássaros. Tá OK. Sigo com os informes.
Embora unidas diante do público externo, as forças armadas estão divididas internamente: linha dura versus linha moderada; bloco nacionalista versus bloco entreguista (que está no governo). O que dizes? Isto não é novidade para ti? Tudo bem, João, mas creio ser novidade para a geração atual. Quanto as igrejas: (i) a católica posiciona-se a favor dos trabalhadores, dos pobres e dos injustiçados, (ii) a evangélica posiciona-se ao lado do governo, dos ricos e dos bandidos do colarinho branco. Os sindicatos posicionam-se contra as reformas nas áreas tributária, trabalhista e previdenciária. Os estudantes saem às ruas protestando contra o corte no orçamento das universidades públicas, contra a censura e a favor da liberdade de ensino. Professores, profissionais liberais, cidadãos desempregados, mulheres, negros, índios e homossexuais, manifestam-se contra o autoritarismo do governo e a discriminação ilegítima.
Os chefes dos 3 poderes da república reuniram-se e firmaram pacto a favor do governo e contra as liberdades civis e os direitos sociais. Sim, João, o presidente do supremo tribunal participou. Concordo contigo: incrível! A harmonia entre os poderes converteu-se em cumplicidade entre os poderes. A independência, a imparcialidade e o decoro do tribunal foram para o brejo.
Baderna? Discordo, João. Creio que podemos ver assim: de um lado, movimento social revolucionário e, de outro, movimento político golpista. Baderna e balbúrdia são termos usados pela extrema direita no governo para golpear a democracia cuja implantação tu defendestes com ardor. O pacto entre os chefetes é sintomático. Todavia, há notícia de pedidos de impeachment do presidente da república por sua indecorosa conduta e por seu ato de explícita submissão a bandeira estrangeira. Concordo, João: a sabujice do presidente humilhou a nação brasileira e menosprezou a soberania nacional.
Com a tua licença, fecho o canal telepático e encerro esta missiva. Aceite o meu fraternal e saudoso abraço. Deus esteja contigo.
Antonio.     

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