terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CIVILIZAÇÃO III

Considerando que, aproximadamente, o homem surgiu neste planeta há 1 milhão e 500 mil anos e que a primeira civilização surgiu há 6 mil anos, conclui-se que essa espécie animal levou 1 milhão e 490 mil anos para passar do estado natural ao estado de civilização. Na África Central, na Austrália e no Brasil, no século XX (1901-2000), antropólogos encontraram tribos ainda no estado natural semelhante ao do período paleolítico (25.000 a 10.000 a.C.). Na maior parte da sua existência, a humanidade viveu longe do mar, na barbárie, nas trevas da ignorância e da superstição, aterrorizada pelas feras e pelos fenômenos da natureza (raios, trovoadas, tempestades, inundações, estiagens, eclipses). O tipo de vida da espécie humana pouco se diferenciava do modus vivendi das outras espécies do reino animal. Após o transporte fluvial e vencido o temor do mar, os humanos iniciaram a arte da navegação marítima (10.000 a 1.000 a.C.).
A “idade de ouro” da humanidade é mito inspirado na importância do trigo para as comunidades primitivas. Ao se tornarem sedentários e se dedicarem à agricultura, os humanos cultivaram o trigo, alimento de vital importância cuja espiga dourada tornou-se o símbolo da idade do ouro vegetal que precedeu a do ouro metal. Acreditar numa idade de ouro paradisíaca anterior ao período histórico; acreditar na divindade de um menino nascido de mulher virgem (fábula das antigas civilizações dos caldeus e dos hindus); acreditar na visita de reis que levam presentes a um deus encarnado parido num estábulo; acreditar no caráter sagrado de textos saídos da imaginação e da malícia de escritores bíblicos, todos judeus espertalhões e mistificadores que viveram na época do exílio na Babilônia (589 a.C.); acreditar em tudo isto e mais em outras fantasias do gênero é o mesmo que acreditar em Papai Noel.
Por que o animal humano demorou tanto a civilizar-se? Em escala cósmica, a demora foi pequena se considerados os bilhões de anos do planeta. Em escala humana, entretanto, a demora foi enorme se estimada em 60 anos a duração média da vida do homem. Essa enorme demora se deve a diversos fatores: (i) estado selvagem no qual a humanidade iniciou a sua vida neste planeta (ii) meio ambiente inóspito em terra e no mar (iii) inteligência inculta do homem primitivo (iv) imitação dos usos e costumes, inércia dominante nos primórdios. Some-se a isso, o imperador e conservador pai de família, a falta de cooperação e a beligerância entre as famílias (o estranho era visto como inimigo e ladrão). Isto custou: (a) 500 mil anos até que as famílias se reunissem em tribos (b) mais centenas de milhares de anos até as tribos se organizarem em cidades e atingirem o grau de cultura que tipifica a civilização: urbanismo, tipos de escrita, técnica, arte, ciência, filosofia, religião institucionalizada, governo fundado no binômio comando + obediência, na força militar, na tradição e no direito.
A natureza humana contribuiu para a demora. Duas forças estruturam-na: a demoníaca e a angelical. A força demoníaca confina a conduta dos humanos à esfera material do mundo. O polo positivo da força demoníaca vibra no sentido de preservar o indivíduo, a espécie e o planeta. O polo negativo provoca maus pensamentos, maus sentimentos, má conduta (ódio, feroz competição, traições, mentiras, fraudes, roubos, raptos, estupros, homicídios, batalhas, guerras).
Durante 1 milhão de anos, a força angelical permaneceu inexpressiva. Limitou-se a criar divindades, cultos e rituais com pajelança e sacrifícios humanos, conduta primária insuficiente para elevar a personalidade anímica acima da esfera material do mundo. O polo positivo da força angelical provoca bons pensamentos, bons sentimentos, boa conduta, vibra no sentido da paz e do amor, eleva a personalidade anímica às vibrações de alta frequência da esfera espiritual do mundo. O polo negativo leva o homem a desprezar a sua natureza animal e a esfera material do mundo; desperta no homem o desejo de viver para o mundo espiritual exclusivamente. Nenhum desses polos da força angelical prevaleceu sobre os polos da força demoníaca até a presente data, salvo num reduzidíssimo número de indivíduos que viveram em diferentes épocas do período civilizado da história humana. Daí, a lenta marcha cultural até a renascença europeia.  
Espiritualmente, a humanidade estagnou no neolítico (idade da pedra polida) e continua dominada pelo polo negativo da força demoníaca. Materialmente, a humanidade evoluiu. A partir do século XVII (1601-1700), o progresso material acelerou-se em direção ao espaço social, ao espaço sideral e ao espaço atômico. Notável desenvolvimento científico e tecnológico e maior conforto.

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