O terreno da espiritualidade é metafísico e nele se
caminha tendo como farol a intuição. De acordo com os ensinamentos dos místicos
orientais, penetrar no mundo espiritual exige um procedimento prévio: esvaziar
a mente, o que significa afastar preocupações, sentimentos e pensamentos
mundanos no processo de harmonização. As categorias tempo e espaço
condicionadoras da mente humana são inoperantes no mundo espiritual. A
atividade lógica do ser humano coloca ordem nas idéias, porém, o raciocínio
dificulta a harmonização com o plano espiritual. A mente vazia é a senda para o
êxtase espiritual.
No livro “O Triunfo da Vida Sobre a Morte”, o filósofo
e teólogo Huberto Rohden diz o seguinte: Entre
o entendimento intelectual do homem profano e o compreender espiritual do
iniciado medeia um grande sofrimento. Ninguém chega a Deus só pela força do
pensamento. Certo. Há outras exigências, tais como: vontade determinada a
esse fim, boas ações, rituais, tudo com desprendimento e amor que torne
possível um ambiente de alta freqüência vibratória. Na metafísica religiosa
prepondera a fé, contudo, o raciocínio é indispensável a uma fé lúcida. Durante reportagem em
evangélico canal de TV (08/07/2015), no decorrer de uma convenção internacional
de adventistas, onde os fiéis se apresentam com os trajes típicos dos seus
países, todos se declarando felizes, um deles, peruano, diz que aguarda a
“volta de Jesus”, crença geral daquela igreja, apesar das evidências em contrário. Isto
ilustra o que se entende por fé cega.
De um modo geral, os místicos acreditam na
reencarnação. Alguns acreditam que Jesus é um dos grandes mestres da humanidade
que, nesta Era de Aquário, reencarnou entre os curdos. Se isto for verdade, o
irmão adventista, que se dizia feliz, pode ficar mais feliz ainda, ao saber que
o seu amado Jesus voltou e vive entre nós em carne e osso. O Pai Celestial de
Jesus gosta de enviar o filho a regiões inóspitas. Primeiro, à Palestina, onde
o filho levou bordoadas e foi crucificado. Agora, ao Curdistão, território
encravado entre o Irã, Iraque, Síria, Turquia e Armênia, cujo povo tem
bandeira, luta pela independência e por reconhecimento internacional.
Guerrilha, mortes, sofrimento, pobreza, cotidiano da nação curda. O divino
filho podia ter reencarnado no Brasil, neste paraíso tropical, ingressar na
política e se dar muito bem presidindo a Câmara ou o Senado. Acontece que deus
não é brasileiro. Deus é pai ou é padrasto? Pai bondoso e amoroso não envia o
filho para aquele caldeirão infernal. Este planeta azul tem lugares mais
aprazíveis.
Lao Tse, filósofo e historiador chinês do sexto século
antes de Cristo, contemporâneo de grandes mestres da humanidade como Kong Fu
Tse (Confúcio), Pitágoras e Sidarta Gautama (o Buda, histórico herdeiro de um
principado no Nepal), expõe o seu pensamento no livro “Tao Te King” (Caminho que Conduz a Deus). A
bipolaridade cósmica representada no diagrama chinês tei-gi (yang x yin) permeia a filosofia de Lao Tse. Este livro
singelo influiu na cultura oriental e deu origem ao Taoísmo. Ensina que o Tao é a fonte do profundo silêncio que o
uso jamais desgasta. O Tao é como uma
vacuidade, origem de todas as plenitudes do mundo. O Tao desafia inteligências aguçadas, desfaz as coisas emaranhadas,
funde todas as cores em uma só, unifica todas as diversidades. Quanto mais
falamos no Universo [Infinito, Absoluto] menos o compreendemos; melhor é
auscultá-lo em silêncio. O
céu e a terra são eternos porque radicam em algo além deles mesmo. Antes que o
céu e a terra existissem havia o SER sem forma, imóvel, o vácuo, o nada, berço
de todas as possibilidades. O valor do físico está no metafísico. Todas as
coisas visíveis são setas que apontam para o invisível. O SER jaz nas
profundezas do insondável. Tudo o que existe egressa do SER e regressa ao SER.
Para além da palavra e do pensamento situa-se o Tao, poderoso, insondável, eterno
servidor da vida, seio materno do Universo, pátria de todos os seres, querência
dos bons, refúgio dos maus, ciclo do ser e do existir. Quem quer ver a
divindade não a verá, porque ela é invisível. Nenhum caminho parcial conduz à
meta total; só na visão do todo se encontra a divindade. Quem sintoniza com a
alma do Infinito alcança a sabedoria; assemelhar-se-á em tudo ao Infinito. Paz
e amor é sabedoria. De nada adianta extinguir ódios quando ficam
ressentimentos. Inteligente é quem conhece o outro. Sapiente é quem conhece a
si mesmo. Tolo é quem julga poder substituir pela inteligência a cultura do
coração. A sabedoria radica na simplicidade.
Para conhecer o mundo, desnecessário viajar pelo
mundo. Posso conhecer os segredos do
mundo sem olhar pela janela do meu quarto, diz Lao Tse. Quem conhece a sua
própria ignorância revela a mais alta sapiência. Quem ignora a sua própria
ignorância vive na mais profunda ilusão. Quem se ergue às alturas sem desejos,
enche de silêncio o coração. Quem se junta ao Uno não tem desejos; onde não há desejos, há paz; onde há paz, há
harmonia e felicidade. Quem harmoniza os seus atos com o Tao se torna um com ele.
O mundo é uma entidade espiritual que se plasma por suas próprias leis. A
moralidade e o direito nasceram quando o homem deixou de viver pela alma do
Universo. Em tempos bons, apreciamos a justiça.
Em tempos maus, recorremos ao direito.
Verdade e justiça geram benevolência. Ilusão e direito geram violência. Quem se
guia pela voz da consciência só atende à voz do dever e não insiste em seus
direitos.
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