sexta-feira, 3 de julho de 2015

FIM DO MUNDO II



O mês de junho passou e o mundo não acabou. Notou-se a passagem de um asteróide cuja rota não era de colisão com a Terra. A catastrófica previsão dos religiosos não aconteceu. Tal previsão foi objeto de artigo publicado neste espaço no mês de junho sob o título acima. Ainda bem que as copas de futebol feminino e masculino não foram suspensas e terminarão regularmente nesta primeira semana de julho com a humanidade viva. 

No citado artigo, advertimos sobre a compreensão do vocábulo “mundo” naquele tipo de previsão. Fizemos a distinção entre mundo físico e mundo espiritual para situar a tragédia cósmica no primeiro. Sendo o mundo físico extenso, incluindo desde a menor partícula da matéria até os bilhões de galáxias, cuja imensidão a nossa inteligência é incapaz de quantificar, afirmamos que não há certeza alguma sobre o seu fim. A única certeza que temos é a do fim da vida no planeta Terra em conseqüência da queima de todo o combustível do Sol, o que acontecerá daqui a um bilhão de anos. O mundo físico existia antes de nele surgir vida vegetal e animal. Há planetas em nosso sistema solar e em outros rincões do universo onde não existe vida vegetal e animal. Nenhum planeta se extingue só porque nele a vida se extinguiu. 

O “mundo” cujo fim é apregoado por líderes religiosos está circunscrito ao nosso planeta. A profecia de Jesus, por exemplo, refere-se ao fim da vida humana e não à extinção do planeta. Esse fim era iminente, ocorreria naqueles dias, porque deus estava descontente com as safadezas do povo daquela região do planeta. Inexplicavelmente, a profecia não se realizou e até hoje os humanos continuam a se reproduzir e a pecar. Sobre essa fantasia cabe um exercício de sensatez mediante a formulação de algumas perguntas.

Por que deus destruiria o universo com seus bilhões de galáxias, ou o sistema solar com todos os seus planetas, ou exclusivamente o nosso planeta, só porque João, casado com Teresa, comeu Maria, casada com Pedro? O adultério entre humanos justificaria tal destruição, mesmo que não houvesse vida em outros lugares do mundo? Inocentes pagarão pelos pecadores? Que justiça é esta? Divina que não é; talvez, satânica.

Por que deus destruiria o universo com seus bilhões de galáxias, ou o sistema solar com todos os seus planetas, ou exclusivamente o nosso planeta, só porque Ronaldo transa com Renato e Joana transa com Eunice? A pederastia e o lesbianismo justificariam tal destruição?

Por que deus destruiria o universo com seus bilhões de galáxias, ou o sistema solar com todos os seus planetas, ou exclusivamente o nosso planeta, só porque Eusébio desejou e provocou a morte de seu pai Alexandre, visando a entrar na posse da herança? As ações e os desejos malévolos dos humanos justificariam tal destruição?

Por que deus destruiria o universo com seus bilhões de galáxias, ou o sistema solar com todos os seus planetas, ou exclusivamente o nosso planeta, só porque Isaac cobra juros extorsivos de Maurício? A usura dos humanos justificaria tal destruição?

Por que deus destruiria o universo com seus bilhões de galáxias, ou o sistema solar com todos os seus planetas, ou exclusivamente o nosso planeta, só porque um grupo de depravados semeia o ódio e a discórdia visando a tomar posse do governo de uma nação? A ambição e a perfídia dos humanos justificariam tal destruição?  

Por que deus destruiria o universo com seus bilhões de galáxias, ou o sistema solar com todos os seus planetas, ou exclusivamente o nosso planeta, só porque um governo poderoso e criminoso provoca guerras para incrementar a venda de armas e invade países a fim de explorar petróleo? A prepotência e a rapinagem dos humanos justificariam tal destruição?   

Não há sentido nesse fim do “mundo” motivado apenas pelas fraquezas humanas, salvo se imaginarmos deus como um ser tresloucado, cruel, um Nero divino. 

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