Há poucas referências sobre a
aparência de Jesus. Sabe-se que ele usava barba e cabelos compridos, vestia
túnica branca e andava de sandálias, porque este era o figurino dos essênios. Há
dúvida quanto à compleição física. Desconhece-se a fisionomia, a cor dos olhos,
dos cabelos e da barba. Alguns lhe atribuem nariz adunco típico dos judeus.
Acontece que Jesus e seu grupo não eram judeus e sim galileus arianos (apenas
Judas era da raça judia semita). Os judeus desprezavam-nos por serem gentios (estrangeiros) e não seguirem a
doutrina judia. Como lembra Harvey Spencer Lewis, os galileus eram
ridicularizados pelos judeus: da Galiléia
nada de bom pode sair (La
Vida Mística de Jesús. San José, Califórnia, Gran Logia
Suprema de Amorc, 1967, pág. 178). Os judeus perguntavam ironicamente: É acaso da Galiléia que há de vir o Cristo?
Não diz a escritura: o Cristo há de vir da família de Davi e da aldeia de Belém
onde vivia Davi? (Jo 7: 41/42). Contemporâneos de Jesus, aqueles judeus
sabiam que ele não nascera em Belém e nem descendia de Davi. O próprio Jesus se
excluiu da nação judia ao discutir com eles: Bem sei que sois a raça de Abraão, mas quereis matar-me porque a minha
palavra não penetra em vós (Jo 8: 37). O local do nascimento e a linhagem
dos pais eram relevantes para a legitimidade dinástica e a qualificação de
Jesus como o messias referido na bíblia (antigo testamento). Em seus
evangelhos, Marcos e João silenciaram sobre isto, sintonizados com o protesto
dos judeus e com a conduta de Jesus.
Além
da hebraica, havia outras etnias na Palestina. A variedade étnica sempre foi
uma característica daquele território cujo tamanho lembra o território do
estado brasileiro das Alagoas. Quando o pequeno e insignificante grupo de
hebreus guiado por Abraão lá chegou havia inúmeros povos habitando a região com
seus próprios costumes e crenças (como se cada município do estado das Alagoas
fosse habitado por um povo diferente). As relações entre esses povos nem sempre
foram amistosas. No curso dos séculos, aquele grupo cresceu, tornou-se uma
nação e se constituiu reino. Depois de Salomão, o reino bipartiu-se: Judá (duas
tribos do povo hebreu) ficou ao sul da Palestina (Judéia, capital Jerusalém) e
Israel (dez tribos do povo hebreu) ficou ao norte (Samária e Galiléia). Após a
expulsão das dez tribos, o norte foi povoado por migrantes do império assírio.
No século II a.C. havia judeus naquela região, mas foram removidos para a
Judéia com apoio de Judas Macabeo. Destarte, na época de Jesus, a Galiléia “dos
gentios” era habitada pelos descendentes dos referidos migrantes e outras
etnias.
Os evangelhos colocam os judeus
em posição oposta à de Jesus e seu grupo. Deixam claras: (i) a separação entre
judeus e galileus; (ii) a diferença de origem e de doutrina. Nos Atos dos
Apóstolos (1: 19) lê-se: Tornou-se este
fato conhecido aos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi
chamado, na língua deles,
Hacéldama, isto é, Campo de Sangue. Aqui, Pedro distingue o modo de falar
dos judeus do modo de falar dos galileus. Os dois grupos estavam submetidos às mesmas
leis romanas e judias do período em que a Palestina estava sob domínio
estrangeiro (Roma).
No
século I d.C. (1-100) os judeus se dividiam politicamente em dois blocos: um
favorável à paz com os romanos; outro favorável à guerra de libertação. Neste
segundo bloco destacavam-se os zelotes
(zelavam pela liberdade da pátria). Quanto à religião, dividiam-se em dois
ramos: fariseus e saduceus. Na Palestina havia seitas sem fidelidade à religião
hebréia, como a nazarita e a essênia. Estas duas se reuniam no monastério do
Monte Carmelo, segundo H. Spencer Lewis (obra citada, pág. 107/108). Algumas
seitas e parcela do povo palestino discordavam do pagamento de tributo a
Roma.
Josefo (37-101 d.C.) historiador
judeu, na coleção de textos de sua autoria tece elogios a Jesus sem tocar na
aparência física e insinua que ele era mais do que homem (divino) porque foi
autor de feitos extraordinários (Antigüedades
Judías. Madri, Akal/clásica, 1997, tomo II, livro XVIII, p. 1089, parágrafo
63). No torvelinho daquele século um judeu ou um romano jamais faria tal
elogio. Os evangelhos começavam a ser escritos. É possível que algum apóstolo
tenha servido de fonte a Josefo. Todavia, o mais provável é aquele encômio de
evidente coloração cristã ter sido interpolado pela igreja no século IV
(301-400) para reforçar a crença na historicidade e no poder divino de Jesus.
A
conduta enganadora de Josefo enfraquece a credibilidade dos seus escritos. Na
Galiléia, aos 30 anos de idade, Josefo comandou tropas judias na revolta
palestina contra os romanos (anos 66/70). Na série “Guerra dos Judeus” de sua autoria,
composta de sete livros (Curitiba, Juruá, 2012) ele conta que se escondeu em
uma cisterna com 40 soldados (livro III, pág. 61/70). Descoberto o esconderijo,
os emissários dos generais romanos Vespasiano (futuro imperador de Roma) e Tito
(filho de Vespasiano) prometeram poupar a vida dos prisioneiros caso se
entregassem. Os soldados preferiram morrer a se entregar. Favorável à proposta
dos romanos, Josefo discorre sobre o caráter insensato e pecaminoso do
suicídio. Os soldados não se convenceram, insistiram no suicídio coletivo,
chamaram Josefo de traidor e covarde e avançaram para matá-lo. Josefo recuou,
concordou com os soldados e determinou que a execução fosse por sorteio: o
primeiro sorteado seria decapitado pelo segundo, o segundo pelo terceiro sorteado,
o terceiro pelo quarto e nesta seqüência até o final. O último tiraria a
própria vida. Assim fizeram. Josefo e outro ficaram por último, desistiram do
suicídio e se entregaram aos romanos. Josefo caiu nas graças de Vespasiano e
Tito, assessorou-os na vitória sobre os judeus e na destruição do templo (ano
70). Trocou o nome judeu (Yossef ben
Matitahu ha-Cohen) por nome latino (Tito
Flavius Josephus), obteve cidadania romana e serviu aos imperadores
romanos.
Celso, filósofo romano, no livro
“A Palavra Verdadeira”, escrito no século II d.C. (101-200) informa que Jesus
era um homem feio e de baixa estatura. Este dado contraria a tese de que Jesus
é uma lenda; que Jesus nunca existiu. Celso afirma que o judaísmo e o
cristianismo são caudatários da filosofia grega e romana; que não há originalidade
nas doutrinas judaica e cristã; que ambas são cópias de outras religiões; que a
circuncisão foi copiada dos egípcios; que Jesus nasceu do adultério de Maria e
atribuir-lhe natureza divina é um absurdo; que Jesus escolheu marinheiros e um
coletor de impostos para divulgar idéias perversas; que Jesus os ensinou a
mendigar e a roubar; que os seus seguidores o abandonaram quando Pilatos o
prendeu e o condenou à morte.
Orígenes, teólogo cristão, no
livro “Contra Celso”, escrito no século III (201-300) contestou as assertivas do
filósofo romano, mas silenciou sobre a aparência de Jesus. Orígenes demonstrou conhecer
o livro de Celso ao fazer as citações e respectivas críticas. Depois da
contestação, o livro de Celso desapareceu. O sumiço é atribuído à igreja
católica. Os textos eram manuscritos e tinham como suporte tabuas de madeira
cobertas de cera e rolos de papiro ou pergaminho. Cópias eram raras e o acesso
restrito. O grosso da população não sabia ler e escrever. Os copistas do rei, do
sacerdócio ou do proprietário copiavam cartas e documentos contábeis entre
outros.
A
difusão de textos só aumentou a partir do século XV (1401-1500) quando
Gutenberg inventou a técnica de impressão com tipos móveis (tipografia). Apesar
desta invenção e do crescimento demográfico, o acesso ao livro continuou
privilégio da minoria porque a maioria dos europeus era pobre e analfabeta. No
século XX (1901-2000) aumentou o número de letrados na Europa e na América, os
preços baixaram e maior parcela da população teve acesso a livros, jornais e
revistas.
A imagem de Jesus em pinturas, esculturas, cartazes, é
a de homem europeu, bonito, feições suaves e gestos afeminados. A elegância e a
beleza física do pregador ajudam a tornar palatável a sua mensagem. Perfil
diferente se extrai da bíblia (novo testamento): homem temperamental que
destrata os seus opositores e não titubeia em usar a força física. Em Curitiba,
meados do século XX, dizia-se que “todo
baixinho é invocado”, para significar arreliento.
Jesus (baixinho, feio e briguento) foi preso pelos soldados judeus, julgado e
condenado à morte – não por Pilatos – e sim pelo Sinédrio, tribunal judaico
formado por sacerdotes, escribas e anciãos. Pilatos queria soltar o
prisioneiro, mas diante da ameaça dos judeus de denunciá-lo ao imperador romano
por proteger um subversivo que pretendia ser rei, ele declara a inocência de
Jesus e lava as mãos (Mt 16: 59/66 + 27: 20/24; Mc 14: 53/64; Lc 22: 52; Jo 18:
12).
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