sábado, 20 de novembro de 2010

ESPORTE

Amizade há de prevalecer no mundo esportivo. A rivalidade entre equipes não se confunde com inimizade, como bem demonstrou a confraternização entre Ronaldo Gaúcho e Messi após o encerramento do jogo amistoso da seleção brasileira contra a seleção argentina na quarta-feira (17/11/2010). Durante o jogo houve pancadaria e ofensas verbais de ambos os lados. Na linguagem esportiva, amistoso significa jogo fora de campeonato, sem implicar troca de gentilezas, beijos e abraços entre os jogadores. Essa troca, quando acontece, há de ser moderada para resguardar a virilidade. Censura-se o oposto: botinadas, cotoveladas, tapas, carrinhos. A desculpa recorrente de que o contato físico é inevitável camufla a deslealdade. Dessa desculpa o jogador se aproveita para agredir o adversário. Essa conduta ilícita se espalhou como praga nos campos de futebol, com o beneplácito dos árbitros. A expulsão do jogador deve ser resposta imediata à violência praticada, sem panos quentes. As comissões de arbitragem nacional e internacional devem instruir os árbitros a esse respeito e exigir obediência à sua orientação. O futebol feminino, até o momento e enquanto não seguir o péssimo exemplo do masculino, mostra como é dispensável a violência; bastam técnica e boa educação, sem prejuízo do espírito guerreiro. O espetáculo ganha em beleza e proporciona maior satisfação aos apreciadores do esporte.

O jogo amistoso tolera menor empenho dos atletas, admite especial cuidado para evitar lesões e aceita exibição de talento despreocupada com o resultado. Apesar disto, jogo é jogo. Ainda que não haja troféu à vencedora e o início da partida seja cuidadoso, ambas as equipes atuam para vencer. Em campeonato, a equipe só joga para perder: (i) em troca de dinheiro; (ii) com o propósito de entrar em grupo constituído de equipes mais fracas e, desse modo, assegurar boa classificação; (iii) por determinação superior dos dirigentes do esporte (cartolas). A seleção brasileira de futebol parece ter sofrido tal experiência na copa de 1998. Afastaram Romário. A responsabilidade passou para Ronaldo Nazário, que amarelou e passou mal. Os jogadores brasileiros pareciam zumbis na partida contra a seleção francesa. Ficou a impressão de que os dirigentes da federação internacional de futebol (cartolas) favoreceram a equipe da casa (França).

Depois de vencer 5 copas do mundo, a seleção brasileira não precisa provar mais nada. Convém livrar-se do sentimento de inferioridade. Ante as provocações dos argentinos ou de qualquer outra equipe, os brasileiros devem ficar indiferentes e altaneiros. Em campo, jogando leal e eficazmente, os brasileiros mostrarão o seu valor. Para acalentar amor próprio, os brasileiros têm a seu favor a realidade histórica. Além das vitórias em campeonatos e jogos amistosos, o Brasil dispõe das únicas estrelas de primeira grandeza do futebol mundial: Leônidas, Zizinho, Didi, Garrincha, Pelé, Romário, Ronaldo Gaúcho, na ordem da antiguidade. Argentina e países europeus só possuem estrelas de segunda grandeza e, assim mesmo, em número pequeno: Beckenbauer, Bob Charlton, Cristiano Ronaldo, Di Stefano, Eusébio, Fontaine, Gerd Muller, Kócsis, Maradona, Messi, Platini, Puskas, Riquelme, Zidane, enquanto o Brasil tem dezenas: Ademir Menezes, Ademir da Guia, Amarildo, Cafu, Djalma Santos, Domingos da Guia, Falcão, Gerson, Giovane, Jairzinho, Júnior, Nilton Santos, Paulo César, Reinaldo, Rivaldo, Rivelino, Roberto Carlos, Robinho, Sócrates, Tostão, Vavá, Zé Roberto, Zico, para citar apenas alguns na ordem alfabética. Na constelação das estrelas de terceira grandeza incluem-se americanos, europeus e africanos como Anelka, Baggio, Ballack, Batistuta, Beckham, Breitner, Cambiasso, Cruyff, Cubillas, Deco, Eto´o, Klinsmann, Klose, Lato, Lineker, Malouda, Nasri, Ribery, Robben, Rummenigg, Sneijder, Totti, Valderrama, Vieri, enquanto o Brasil tem uma plêiade: Adriano, Alex, Bebeto, Careca, Carlos Alberto, Clodoaldo, Coutinho, Diego Tardelli, Dirceu Lopes, Edmundo, Edu, Felipe Coutinho, Ganso, Juan, KK, Leivinha, Lúcio, Luis Fabiano, Luis Pereira, Maicon, Miller, Nelinho, Neymar, Nilmar, Palhinha, Pato, Pepe, Pinheiro, Raí, Renato Gaúcho, Roberto Dinamite, Ronaldo Nazário, Zagalo, Zito, e por aí vai.

Os argentinos foram campeões mundiais. Como qualquer outra seleção, a brasileira não é invencível. Cedo ou tarde, os argentinos a venceriam. Melhor agora do que nos jogos da copa do mundo. Os argentinos são habilidosos, têm muita garra, empenham-se muito nas partidas. O último jogo entre as duas seleções foi equilibrado. O gol no minuto final da partida foi acidental. De modo algum evidenciou superioridade. Resultou de uma bela trama dos adversários e da característica rompedora de Messi na seqüência dos dribles. O gol foi produto do acaso. No decorrer da partida, Messi teve melhor oportunidade e errou. Esse jogador foi desarmado inúmeras vezes pela defesa brasileira. Ronaldo Gaúcho sofreu menos desarmes.

A convocação de Ronaldo foi acertada, porém, como estrela de primeira grandeza na história do futebol, ele precisa readquirir confiança no seu potencial. Ao passar a bola para Neymar, quando podia ter chutado diretamente no gol, Ronaldo mostrou insegurança ou excesso de solidariedade decorrente, quiçá, de eventuais pressões que sofre na Europa. Às vezes, ele se excede nas gentilezas quando, por exemplo, apanha a bola com as mãos e a entrega nas mãos do adversário para cobrança de falta ou reposição de bola na lateral do campo, o que pode ser mal interpretado como sinal de fraqueza ou atitude de menosprezo. O adversário que vá buscar a bola onde ela se encontra, ou espere pelo gandula. Ao voltar para seu clube, seria bom que Ronaldo colocasse os aborrecimentos e os contratempos na geladeira e se dedicasse de corpo e alma ao futebol. Creio que muitos brasileiros aguardam por isto. Além de uma boa conversa com psicólogo, seria bom que ele perdesse mais um pouco de peso para ganhar em velocidade e desenvoltura. Talento há de sobra.

Nesta fase experimental da seleção brasileira, seria producente a permanência em campo de Vítor, Daniel Alves, Lucas, Ronaldo Gaúcho e Robinho durante os 90 minutos (salvo contusão ou exaustão física) visando ao entrosamento e confiança. Os demais jogadores podiam ser substituídos logo no início do segundo tempo, sem tardança, com tempo suficiente para os substitutos desenvolverem o seu potencial técnico. O treinador observa todos os jogadores nos treinos. Os torcedores, apreciadores e simpatizantes da seleção brasileira só têm essa chance nos jogos. O grande mestre Didi cunhou a frase que ficou célebre no meio esportivo: treino é treino, jogo é jogo. Seria interessante que nos próximos jogos, mantidos aqueles cinco, os seis jogadores que atuassem no primeiro tempo fossem substituídos de uma só vez no segundo tempo. A quantidade das substituições nos jogos amistosos pode ultrapassar o limite regulamentar se houver acordo. Há tempo suficiente para essa experiência. A próxima copa acontecerá só em 2014. Por ser no Brasil e dispormos de jogadores e treinador excelentes, não significa vitória fácil da nossa seleção. Lembrai-vos de 1950.

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