quinta-feira, 13 de maio de 2010

FUTEBOL

A ESCOLHA DE DUNGA
O título deste artigo foi tirado do livro “A Escolha de Sofia”. Entre a sua filha e o seu filho, Sofia foi obrigada, por oficial alemão, a escolher qual deles ficaria no campo de concentração. Ficou o menino, por ser o mais sadio e forte, com mais chance de sobreviver. Nesse momento de angústia, prevaleceu o senso prático da mãe. Só a mulher que foi ou é mãe, saberá avaliar a dor de Sofia.
O técnico da seleção brasileira não foi obrigado a suportar tamanha crueldade, mas confessou ficar angustiado, dividido entre a emoção e a razão. Das suas entrevistas às emissoras de televisão, constata-se que prevaleceu o senso prático. Jogadores que ele gostaria que estivessem na seleção ficaram de fora pelas razões que apresentou.
Certamente, o técnico deu explicações em respeito à opinião pública que, na verdade está dividida; há brasileiros a favor e contra. A maioria dos jornalistas torceu o nariz à lista dos convocados. Alguns desses jornalistas, derrotistas, vaidosos e pretensiosos, ficaram desapontados porque o técnico não lhes deu acatamento, afirmaram que a seleção brasileira não terá êxito e torcem para que o futuro lhes dê razão.
Os critérios de escolha apontados pelo técnico merecem reparo. Idade, experiência, comprometimento, coerência, não convencem quem gosta de futebol e acompanha os campeonatos. Em 1958, quando a equipe brasileira conquistou a copa do mundo de futebol pela primeira vez, dela faziam parte jogadores com menos de 20 anos de idade, como Pelé e Mazzola. Ronaldo Gaucho e KK se negaram a participar da seleção em jogos anteriores. Os dois e todos os outros que manifestaram a vontade de não integrar a equipe brasileira mostraram de modo inequívoco a sua falta de comprometimento. Jamais deveriam vestir a camisa da seleção brasileira novamente. No entanto, o técnico convocou KK e não convocou Ronaldo Gaucho, o que significa falta de coerência. Além disso, KK sempre jogou melhor no seu clube do que na equipe brasileira.
O técnico tem liberdade de escolha e conhece muito bem o esporte ao qual dedica sua vida até o momento. Demonstrou isto não só em suas entrevistas como também em sua atuação à frente da equipe brasileira. Os jornalistas sabichões não sabem como digerir essa realidade e censuram a ausência de um jogador do Santos FC. Acontece que as molecagens desse jogador e as suas artimanhas para forçar faltas ou cometê-las podiam causar prejuízo à equipe brasileira durante as partidas. O técnico optou pela seriedade e pela experiência dos jogadores. Nisto, acertou. O clima carnavalesco da copa de 2006 não se repetirá. O cuidado com a produtividade da seleção brasileira prevalecerá. O interesse econômico dos jogadores e dos seus patrocinadores ficará em segundo plano, como convém. Cultivar-se-á o clima fraterno de alegria e respeito.
Em todo mundo, o Brasil é o país com maior quantidade de bons jogadores. Selecioná-los é tarefa muito difícil. O rendimento de cada jogador em campo não se conserva sempre o mesmo; há altos e baixos. Os clubes com maior potencial financeiro contratam os que se encontram em melhores condições. Desse modo, formam pequenas seleções.
Os clubes com menor potencial financeiro conseguem vencer os grandes justamente porque o jogador brasileiro é muito bom, seja do interior, seja da capital. A sensação do momento, no Brasil, o Santos FC, perdeu para o Santo André, para o Atlético Mineiro, para o Grêmio de Porto Alegre, no primeiro semestre de 2010. Em campeonato de futebol, nem sempre a melhor equipe sai vencedora. Foi assim com a seleção brasileira em 1950, com a húngara em 1954, com a holandesa em 1974 e com a brasileira em 1982. Mesmo sem uma grande equipe, o Brasil venceu as copas de 1994 e 2002. Talvez, vença a de 2010; qualidade e garra há de sobra.

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