sábado, 13 de julho de 2024

FUTEBOL IV

Copa América/2024. Sede: Estados Unidos da América. Jogo: Seleção da Colômbia x seleção do Uruguai. 10/07/2024. Ao vencer a uruguaiana (1x0) a colombiana classificou-se para disputar a partida final com a seleção argentina. A colombiana teve um jogador expulso no minuto final do primeiro tempo e jogou todo o segundo tempo com um jogador a menos. Apesar disto, manteve o bom nível técnico e a firme disposição para garantir a vitória; dobrou o cuidado no sistema defensivo sem se descuidar do setor ofensivo; alternou recuo e ataque. A uruguaiana, embora jogando pesado, não conseguiu empatar e levar a disputa para os tiros diretos. Amargou a desclassificação. Terminada a partida, inconformados com a derrota, jogadores uruguaios, ainda em campo, agrediram os vencedores e invadiram a arquibancada. 
Na destemperada conduta, um deles mostrava à arquibancada os dedos das suas mãos somados para indicar o número de vitórias da sua seleção nesse torneio. Equivocou-se. Aquelas vitórias (menos 4) aconteceram em outro cenário no antigo campeonato sul-americano oficial. Não se há de confundir com o contexto da Copa América. As edições do campeonato sul-americano terminaram em 1967. As edições da Copa América começaram em 1975 com estrutura e funcionamento próprios. Entre uma edição e outra da Copa América havia intervalos de dois a três anos. Atualmente, o intervalo é de quatro anos. Assumiu o padrão FIFA. Compõe-se de: 
[1] 10 membros permanentes: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela. 
[2] 10 membros temporários: México (9 edições), Costa Rica (6 edições), Estados Unidos (5 edições), Jamaica (3 edições), Panamá (2 edições), Canadá, Haiti, Honduras, Japão e Qatar (1 edição cada).
As seleções brasileiras venceram 6 edições, as uruguaias venceram 4, as argentinas venceram 3, as chilenas venceram 2, a colombiana, a paraguaia e a peruana, cada uma venceu 1 edição. Hoje, sábado, 13.07.2024, as seleções do Canadá e do Uruguai disputarão o terceiro lugar. Amanhã, domingo, 14.07.2024, as seleções da Argentina e da Colômbia disputarão o primeiro lugar. Prognóstico: colombiana campeã, argentina vice, uruguaia em terceiro e canadense em quarto lugar.
Nos jogos até agora realizados, as infrações em campo impressionam pela violência empregada. Assistimos a um festival de carrinhos, rasteiras, pontapés, pisadas, caneladas, cotoveladas, tapas, empurrões, agarrações, puxões, gravatas, discussões, ofensas físicas e morais no campo e nas arquibancadas. As equipes transformaram o futebol em arte marcial. Péssima imagem. Circo de horrores. Espetáculo deprimente. A arbitragem devia ser rigorosa, menos condescendente e usar mais o cartão vermelho. O papel do árbitro é importante no aperfeiçoamento do futebol latino-americano. Ele não deve embarcar nas agressivas reclamações e nas enganosas encenações dos jogadores. O árbitro não está obrigado a suportar as grosserias e as atitudes ameaçadoras dos reclamantes. Ao treinador e à comissão técnica cabe educar os seus pupilos. À entidade organizadora cabe apurar responsabilidades. 
Nesta Copa, o espírito desportivo empalideceu. Argentinos e uruguaios fizeram dos jogos batalha campal. Essa escola bélica e violenta devia abrir as portas para a filosofia olímpica: “O importante é competir”. Essa frase, aceita como princípio ético universal, foi dita pelo Barão de Coubertin, francês criador dos jogos olímpicos da Idade Moderna (1894). Ele se esforçou para fazer do desporto uma forma de despertar (i) o amor pela paz entre as nações (ii) e o respeito e a amizade entre atletas de diferentes nacionalidades. 
Competir é essencial. Vencer, empatar ou perder é circunstancial. Boa educação, lealdade e elegância no trato, são atributos da civilidade que cabem nas relações desportivas. O jogador civilizado é melhor estimado do que o jogador troglodita. Tecnicamente, durante o jogo e para alegria de mentecaptos e catecúmenos, o troglodita pode até conseguir bom resultado. No coração obscuro do troglodita só há réstia de amor. No coração claro do civilizado há bons sentimentos que determinam a boa e fraterna conduta dentro e fora dos estádios. 
No futebol brasileiro houve jogadores cujo desempenho provou ser possível compatibilizar excelente qualidade técnica com o comportamento ético. Entre eles, sem desdouro para os omitidos de igual quilate, mas, só a título de ilustração, podem ser citados: Ademir da Guia, Alex, Bebeto, Cacá, Didi, Djalma Santos, Falcão, Gérson, Júnior, Sócrates, Tostão, Zico, Zinho. Esmeravam-se em bater na bola e não nas pernas ou no rosto do adversário. 
Afirmava-se, outrora, como justificativa para a grosseria e a violência nos jogos: "Futebol é pra macho". Nos dias atuais, o futebol também é para mulheres. Elas mostram que combinar boas maneiras e força física é realmente possível. Futebol feminino vistoso, disputas vigorosas porém leais. Raríssimas vezes, vê-se jogadora cair e permanecer no gramado se contorcendo e encenando. Normalmente, ela se levanta de imediato e continua a jogar sem estardalhaço. Nota-se o espírito esportivo sintonizado com valoroso ímpeto guerreiro.

Nenhum comentário: