domingo, 4 de junho de 2023

SÁBADO versus DOMINGO

A religião judia e a religião cristã têm seus dias da semana destinados ao culto da divindade. O "dia de deus" dos judeus é o último dia da semana: o sábado. O "dia do senhor" dos cristãos é o primeiro dia da semana: o domingo. Os judeus mantiveram-se fiéis à letra do Antigo Testamento (AT). Segundo o Gênesis, o deus do povo hebreu criou o mundo em 6 dias e descansou no sétimo. Daí, os hebreus santificarem o sábado. Nesse dia é proibido trabalhar. Reservaram-no para o culto do seu deus Javé, deus do ódio, da guerra, do sofrimento, tenebroso, vingativo, cruel, justiceiro, genocida. Segundo o Novo Testamento (NT), o Pai Celestial, deus dos cristãos, é justo e misericordioso, deus do amor, da paz, da bem-aventurança e do perdão. Antes da existência do universo não havia tempo, espaço e movimento. Portanto, não havia dia, semana, mês, ano, ou qualquer medida de tempo. Não houve dias e nem semana gastos na criação do mundo. Havia Deus autoconsciente, sem forma, sem idade, sem lugar, sem movimento, vibrando em si mesmo com sua própria energia. Da explosão dessa energia concentrada (Big Bang) e dentro dos parâmetros postos pela inteligência divina, resultaram o tempo, o espaço, o movimento e o universo.  
Quando o sacerdote Esdras escreveu o Pentateuco (500-400 a.C.), já existiam: [1] o universo, há 13 bilhões de anos [2] a humanidade, há 4 milhões de anos [3] o homo sapiens, há 200 mil anos [4] o homem civilizado, há 4 mil anos. As civilizações do Egito e da Mesopotâmia (Suméria, Babilônia, Assíria, Pérsia) pontificaram nesta primeira fase civilizada da evolução humana. O calendário (divisão do ano em 12 meses, da semana em 7 dias, do dia em duas metades de 12 horas cada uma) foi inventado pelos sumérios por volta de 2.700 a.C. Depois, os caldeus, hebreus, romanos, maias, até o papa Gregório XIII (1582), também criaram os seus calendários lunares, solares e sem astros. Destarte, a criação do mundo mencionada na Bíblia faz parte das inúmeras fantasias nela contidas. 
No estado hebreu da Palestina havia seitas ramificadas do judaísmo, tais como: fariseus, saduceus, essênios, nazaritas. A estas, somou-se a seita israelita do profeta Jesus. As seitas tinham em comum o monoteísmo e a herança hebraica. Divergiam em alguns costumes sociais e aspectos da liturgia. Os fariseus questionaram o fato de Jesus e seus apóstolos trabalharem aos sábados: Por que fazeis o que não é permitido no sábado? Jesus respondeu com a frase de Davi: O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. O profeta nega a intenção de revogar a lei. "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas". Entretanto, ele violou a lei ao trabalhar aos sábados. Os profetas hebreus tinham autoridade para ditar normas que podiam contrariar (abolir) vigentes regras escritas ou  consuetudinárias. Como israelita que era, Jesus censurava a hipocrisia dos sacerdotes judeus. Em parte, isto era reflexo da histórica divergência entre a ortodoxia dos hebreus judeus e a flexibilidade dos hebreus israelitas. O profeta e seus apóstolos, por serem israelitas, eram seletivamente tratados em Jerusalém pelo coletivo “gentio”, forasteiros oriundos da Galileia. O grupo liderado por Jesus, com sotaque regional, era considerado estrangeiro em relação à Judeia, apesar de politicamente vinculado ao estado palestino (Judeia + Samaria + Galileia) então sob a chefia do rei Herodes e a tutela de Roma. 
Posteriormente à morte de Jesus, a seita israelita por ele fundada adotou o domingo como dia santificado em homenagem à ressurreição ocorrida no dia seguinte ao sábado. A crucifixão foi na sexta-feira, o corpo permaneceu no sepulcro durante o sábado e "ressuscitou" no primeiro dia da semana. Para os apóstolos e discípulos desse profeta, o primeiro dia da semana converteu-se em “dia do senhor” (dominus). Isto sombreou a homenagem ao Pai Celestial. A fé em Jesus prevaleceu sobre a fé em deus. Esse fato integra o processo de endeusamento do profeta e enseja a blasfêmia do dogma da “santíssima trindade” (deus = Jesus = espírito santo). 
No evolver da obra dos apóstolos e discípulos, a seita israelita de Jesus assume a estrutura e o funcionamento de religião, expressão cultural de uma comunidade no que concerne à relação dos seus membros com deus. Os fiéis dessa comunidade eram conhecidos como cristãos, isto é, adeptos da doutrina de Cristo. Esse apelido lhes foi dado pela primeira vez na Antioquia (Síria), quando Paulo e Barnabé lá estiveram por um ano a fim de ensinar a doutrina cuja autoria era atribuída a Jesus, o Cristo. Institucionalizaram-se como cristãs: a religião e a igreja correspondente.   
O "dia de deus" assenta-se numa das muitas falsidades da Bíblia: o descanso de deus no sétimo dia. A vida social ensina que todo trabalhador necessita de um período de descanso, inclusive o escravo. O autor do texto obedece ao propósito que permeia o AT: criar um deus à imagem e semelhança dos humanos. Os autores bíblicos concebem deus com características humanas: pensamento, sentimento, vontade, interesse, necessidade, bondade, maldade. Visto como onipotente, onipresente, onisciente, eterno e criador do universo, Deus jamais necessitaria de descanso ou de qualquer outra coisa. Sentir necessidade é próprio da fraqueza humana e não da fortaleza divina.   

Bíblia. Gênesis 2: 3. Êxodo 20: 11. Mateus 5: 17. Marcos 2: 23/28. Lucas 6: 1/5 + 14: 1/5. Apocalipse 1: 10. Atos dos Apóstolos 11: 26. Carta aos Colossenses 2: 16/17.
Burns, Edward McNall – História da Civilização Ocidental. P. Alegre. Globo. 1955.
Greene, Brian – O Universo Elegante. SP. Companhia das Letras. 2001.
Hawking, Stephen W. – Uma Breve História do Tempo. Rio. Rocco. 1988.
Lewis, Harvey Spencer – La Vida Mística de Jesús. Califórnia. Amorc. 1967.
Lima, Antonio Sebastião – O Evangelho da Irmandade. Resende. RTN. 2006.  

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