domingo, 11 de junho de 2023

FICÇÕES BÍBLICAS

Verdade, honestidade intelectual e neutralidade são valores raros nas obras de artistas, cientistas, evangelistas, eclesiásticos, historiadores, em meio a batalhas e tensões provocadas por crenças, ideologias, interesses materiais e objetivos estratégicos. Na Bíblia, tanto o Antigo Testamento (AT) como o Novo Testamento (NT) caracterizam-se por suas tintas teológicas e apologéticas. No templo de Jerusalém, Jesus referia-se à sua fé e à sua doutrina quando diz aos judeus: conhecereis a verdade e a verdade vos livrará. Entretanto, na Bíblia prepondera a seguinte mensagem subliminar: conhecereis a mentira e a mentira vos tornará fiéis à igreja e submissos aos sacerdotes.
Admoestado por seus seguidores pelo fato de se reunir com publicanos, Jesus se justifica: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Pecado é toda ação ou omissão contrária à “lei de deus” ou à “vontade divina” . Para o judeu, o pecado deve ser punido. Para o cristão, o pecado deve ser perdoado. Atualmente, 2 bilhões e 200 milhões de cristãos mostram-se dispostos a ser enganados. Acreditam nas fantasias da Bíblia. Abdicam da racionalidade em prol dos sentimentos. Colocam a fé religiosa acima da certeza científica; o sonho acima da realidade, o que justifica o poeta, porém, favorece a ação dos estelionatários e dos demagogos.
A história da vida do profeta Jesus recebe tratamento homeopático por tradição oral e escrita a partir dos 40 anos da crucifixão. Manuscritos, epístolas, evangelhos, atos dos apóstolos, livros, atas de concílios, vão se acumulando com adições e exclusões. Levam em seu bojo contradições e ficções. Recebem interpolações. Servem a manipulações. Mudam a data e o lugar do nascimento. Vacilam entre reis, magos e pastores, visitantes do recém-nascido. Escolhem no primeiro semestre de cada ano a semana santa: quinta-feira para última ceia pascal e prisão; sexta-feira para crucifixão e morte; sábado para repouso no sepulcro; domingo para ressurreição. Como se fosse possível (i) atribuíram virgindade a mãe de 5 meninos (Tiago, Jesus, José, Judas e Simão) e duas meninas (ii) inventaram mãe para Deus (iii) e santificaram humanos sem natureza humana. 
Na quinta-feira que antecedeu a páscoa, ao reunir-se com os apóstolos para a ceia pascal, Jesus  instituiu a eucaristia: tomai e comei, isto é o meu corpo (o pão); bebei dele (do cálice) porque este é o meu sangue (o vinho); fazei isto em minha memória. Tal celebração, denominada Corpus Christi pela igreja católica, acontece 60 dias após o domingo de páscoa, sempre numa quinta-feira. Nota-se por dois fatos convergindo para tornar realidade as profecias do AT, que Jesus tinha certeza da sua prisão e da sua morte: [1] O fato de ele mesmo, durante a ceia, ter chamado Judas Iscariotes, tesoureiro do grupo e o mais esclarecido dos apóstolos, para uma conversa em particular. A seguir, Judas saiu para logo retornar com os milicianos. [2] O fato de ser pública e notória a disposição dos fariseus e dos saduceus para matá-lo.
O então governador romano da Judeia, Pôncio Pilatos, no intuito de agradar Cláudia, sua esposa cristã, tentou evitar a morte do profeta. Por ser Jesus galileu, Pilatos o enviou ao rei Herodes Antipas, tetrarca da Galileia. Ante a recusa do profeta em se defender, Herodes o devolveu a Pilatos. Além da sua insistência na recusa de se defender das acusações e de afrontar Herodes e Pilatos, Jesus também mentiu ao admitir ser rei. A sua conduta era a de quem nutria o firme propósito de ser crucificado a fim de realizar as profecias. Sem morte não haveria ressurreição. Isto frustraria o projeto messiânico. A prisão, o julgamento, a morte e a ressurreição seriam a induvidosa confirmação de que, realmente, era ele, Jesus, o messias esperado. 
Os sacerdotes, escribas e anciãos judeus persuadiram o populacho a exigir a execução da sentença de morte proferida pelo Sinédrio sem as garantias processuais. Sob o domínio de Roma, a autoridade judia estava impedida de executar pena de morte. Para conseguir a crucifixão, os fariseus e os saduceus acusaram Jesus também de sedição contra Roma por se declarar “Rei dos Judeus”, portanto, inimigo do império romano. Com esse argumento, eles colocaram Pilatos numa apertada saia justa, apesar de Jesus afirmar que o seu reino não era deste mundo. Depois de rejeitadas as suas sugestões de liberar o profeta, Pilatos propôs, como último recurso, uma troca: Barrabás, agitador homicida, no lugar de Jesus. A turba postada em frente ao pretório escolheu liberdade para Barrabás e morte para Jesus. Simbolicamente, Pilatos lavou as mãos. A decisão dos judeus ofendia a sua consciência jurídica de cidadão romano. 
Os soldados romanos, tão logo saíram por uma das portas da cidade, aliviaram a carga de Jesus. Passaram a cruz para Simão de Cirene. Começava a desforra de Pilatos diante da teimosia e do atrevimento dos judeus. Tão logo Jesus foi pregado na cruz, José de Arimateia, judeu rico, discípulo do profeta, acompanhado de um centurião como testemunha, na forma protocolar, entrevistou-se com Pilatos e obteve autorização para retirar o corpo da cruz. Experiente e vivaz, Pilatos sabia que ainda não decorrera tempo suficiente para o óbito. Ao fechar os olhos para esse importante detalhe, ele contentou Cláudia sem contrariar Roma. Depois disto, Pilatos também aderiu à fé religiosa da esposa. 
Jesus foi retirado da cruz em menos de duas horas contadas do início da via crucis. Isto significa que ele ficou pregado no madeiro por 30 minutos, no máximo. Ao contrário dos ladrões nas cruzes ao seu lado, que tiveram suas pernas quebradas para apressar a morte antes do sábado, Jesus foi poupado e manteve as suas pernas inteiras. José de Arimateia envolveu o corpo do seu mestre em pano de linho e o levou para o sepulcro da sua propriedade nas imediações do Gólgota. A mãe de Jesus, a irmã dela (tia de Jesus) e Maria Madalena (amada de Jesus) auxiliadas por Arimateia e dois terapeutas (mencionados como anjos nos evangelhos) cuidaram do “morto” e prepararam a “ressurreição”. Graças à cumplicidade de Cláudia e Pilatos, Jesus saiu vivo dali e rumou para a Galileia sem ser molestado. Ao invés da túnica de profeta, ele vestiu roupas comuns, cabelos cortados e barba raspada. Os apóstolos não o reconheceram de imediato.    

Bíblia Sagrada. São Paulo. Editora “Ave Maria”. 58ª edição. 1987. Mateus 9: 13 + 12: 46/47 + 13: 53/56 + 26: 17/29, 47/57 + 27: 11/24, 34/35, 38, 57 + 28: 01/20. Marcos 03: 31/33 + 14: 12/25, 43/53 + 15: 01/15, 21, 36, 42 + 16: 01/09. Lucas 22: 17/19 + 23: 2/6, 13/27, 50/56 + 24: 01/14, 66/71. João 8: 32 + 18: 13, 19/24, 28/40 + 19: 01/16, 25, 30, 33, 38/42 + 20: 01/18 + 22: 07/20, 47/54.
Bíblia Sagrada. Rio de Janeiro. Edição Barsa. 1967.
Lewis, Harvey Spencer – La Vida Mística de Jesús. Califórnia. Amorc. 10ª edição. 1967.
Lima, Antonio Sebastião de – O Evangelho da Irmandade. Resende/RJ. RTN Editora. 2006. 
Rodriguez, Pepe – Mentiras Fundamentales de la Iglesia Católica. Barcelona. Ediciones BSA. 2011. 

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