domingo, 28 de maio de 2023

APOCALIPSE

O livro sagrado dos cristãos chama-se Bíblia, coleção de livros organizados em ordem cronológica e reunidos em dois blocos: [1] Antigo Testamento (AT) composto de 46 livros relativos à cultura hebraica [2] Novo Testamento (NT) composto de 7 livros relativos à cultura cristã. O conteúdo dos livros consiste em: [i] narrações históricas [ii] exaltação épica de episódios e de personagens de um povo [iii] literatura mundana (romance, poemas, ensaios, epístolas) [iv] literatura religiosa (mandamentos, orações, sermões, milagres) [v] regras éticas e jurídicas. Nos textos bíblicos há o pressuposto da escrita “sob inspiração de deus”. O selo da divindade outorga autoridade aos livros e torna convincentes as fantasiosas narrativas. Deus não mente. Aqueles que escrevem esses livros e/ou se autoproclamam mensageiros de deus é que são os mentirosos, estelionatários da fé religiosa, acumuladores de riquezas aqui na Terra. Na realidade, a “palavra de deus” é a palavra de homens cujo propósito é o de seduzir a massa ignara. 
A falta de certeza sobre os autores desses livros foi denunciada por Thomas Hobbes no seu clássico livro intitulado Leviatã (Madri. Editora Nacional. 1979. Pag. 448/454). Ele demonstrou que os livros foram posteriores aos acontecimentos e nenhum foi escrito pelos respectivos protagonistas. O Pentateuco (5 primeiros livros do AT) por exemplo, não foi escrito por Moisés. O filósofo inglês reproduz versículos do capítulo 14, do livro Esdras II (Neemias) da Bíblia, no qual o erudito judeu afirma ter escrito o Pentateuco sob inspiração do espírito santo, porque os originais tinham sido queimados. Esse capítulo 14 sumiu das modernas edições da Bíblia.   
Jesus, profeta israelita, nada deixou por escrito, nenhum evangelho, nenhuma carta, nenhum bilhete. Tudo foi ditado ou escrito por seus apóstolos e discípulos. Os analfabetos formavam a maioria da comunidade cristã. [O analfabetismo campeava nas idades antiga, clássica e medieval, incluindo ricos, remediados e pobres]. Os apóstolos e discípulos analfabetos ditavam as suas versões aos escribas, minoria que sabia ler e escrever e conhecia as leis do estado. Portanto, a fidelidade às palavras do profeta dependia: (i) dos ouvidos, do entendimento e da memória dos apóstolos e discípulos que o conheceram e com ele conviveram (ii) do filtro dos escribas daquilo que lhes era ditado. A partir do século IV (301-400), seleções, interpolações e ajustes hermenêuticos foram realizados nos textos religiosos pelo sacerdócio católico. O NT ficou composto de 4 evangelhos + atos dos apóstolos + 21 cartas + Apocalipse. O evangelho de Jesus destina-se aos pobres (Mateus 11:5). Servos, ovelhas, rebanho, expressões ali utilizadas para designar os pobres supõem a existência de um sujeito dominante. Quem tem servo é o dono da gleba. Quem tem ovelhas é o dono da fazenda. Quem conduz o rebanho é o pastor. Ser dono e ser pastor implica poder. Tratar o ser humano como animal irracional submetido ao poder do dono e do pastor é aviltante.
Destarte, paira incerteza sobre a autenticidade das mensagens atribuídas ao profeta. Suprema blasfêmia é afirmar ser Jesus a encarnação de deus. Muito do que está escrito no NT provavelmente não saiu da boca desse profeta e sim (i) da tradição hebreia muito forte no “apóstolo” Paulo e (ii) da interpretação dos exegetas. Paulo tinha servido à autoridade judia, seguia a religião judaica e perseguia os cristãos antes de aderir ao movimento. Depois de trair o estado judeu, Paulo, que não conheceu Jesus, autoproclamou-se apóstolo a fim de competir na comunidade cristã com a liderança de Pedro, apóstolo da primeira hora que convivera com o profeta. Paulo promoveu a expansão do cristianismo fora da Palestina [dentro, ele seria preso por deserção]. Ao estabelecer as bases estruturais e funcionais da nova seita, ele fundou a igreja católica. Essa organização submete a massa popular à elite sacerdotal. A submissão é obtida pelo terror, pelo imperativo de temer a deus, pelo medo do castigo divino que inclui padecimento da alma no inferno. A submissão do povo facilita o acesso da classe sacerdotal ao poder político. Disto, há exemplos nas antigas e nas modernas civilizações. Cabe lembrar: Islã significa submissão
O AT é o campeão desse processo social terrificante. As apavorantes mensagens partem de um deus tenebroso, vingativo, cruel, genocida, chamado Javé (Jeová para os protestantes cristãos). Enquanto a seiva do AT é ódio, guerra, sofrimento, castigo, a seiva do NT é amor, paz, bem-aventurança, perdão. No AT prevalece o materialismo; no NT, o idealismo. O primeiro livro do AT, intitulado Gênesis, abordou a criação do mundo. O último livro do NT, intitulado Apocalipse, abordou o fim do mundo. Os dois livros foram esterilizados pela ciência moderna. Ao explicar o fato de não seguir a religião dos seus pais (judaísmo), Einstein se referiu aos textos bíblicos como “contos da carochinha”. 
A autoria do Apocalipse é atribuída ao apóstolo João, que o teria escrito ou ditado no início do século II, quando estava foragido na ilha de Patmos (Turquia). Dizendo-se “arrebatado em êxtase” o apóstolo afirma ter escutado voz forte de alguém semelhante a Jesus, postado no meio de 7 candelabros. Não mencionou goiabeira, oliveira, figueira, nem árvore alguma. Do fantasma descrito como um robô ou uma nave metálica, ele recebeu instruções. Da plácida leitura, verifica-se que se trata de um livro confuso, atabalhoado, saído de uma mente perturbada. Nos anos 100-110, João estava idoso, possivelmente senil, quando escreveu ou ditou esse livro. Apocalipse significa revelação, palavra inicial do livro que leva esse nome. “Revelação de Jesus Cristo, que lhe foi confiada por Deus para manifestar aos seus servos o que deve acontecer em breve”. O fim de 2 trilhões de galáxias tarda a acontecer. O fim da vida no planeta Terra poderá ocorrer: (i) dentro de alguns milhões de anos quando acabar o combustível do Sol (ii) antes disto, em consequência (a) de guerras nucleares ou (b) de colisão com corpos celestes. Eventos com destruição em larga escala são vistos como apocalípticos, inclusive as guerras santas cristãs e islâmicas e as guerras profanas mundiais e imperiais. Líderes religiosos como Maomé e o papa Urbano II, e líderes profanos como Átila, Gengis Khan e Hitler, são vistos como anjos do apocalipse. 

Resumo dos livros bíblicos encontra-se neste blog, meses de março e abril de 2011, sob o título RELIGIÃO. 

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