quarta-feira, 15 de julho de 2020

OLAVISMO

Ocasionalmente usado nos meios de comunicação, o termo “olavismo” significa o conjunto das ideias e das ações defendidas por Olavo de Carvalho, brasileiro, nascido em Campinas/SP/1947, jornalista, escritor, astrólogo, domiciliado desde 2005 no condado de Richmond, estado de Virginia/EUA. Além de alguns livros, o citado jornalista publicou artigos em jornais e revistas, a maioria deles no Diário do Comércio, o restante no Digesto Econômico, Época, Folha de Londrina, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Zero Hora. Reuniu 193 desses artigos numa coletânea organizada por seu discípulo Felipe Moura Brasil intitulada “O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Idiota” (Rio de Janeiro, Record, 2014, 615 páginas). Nos artigos selecionados, o autor usa muito a palavra “idiota”, cuja origem grega menciona. O olavismo é o eixo ideológico da política do atual presidente do Brasil, inclusive em matéria de educação, saúde, ciência, direitos dos trabalhadores e das minorias. 
Nas suas gravações audiovisuais, esse jornalista também usa expressões chulas e ofensivas. Sem formação acadêmica, autodidata, ele aparece na campanha presidencial de 2018 como guru do candidato da extrema direita. Discípulos civis, militares e evangélicos desse guru passaram a integrar o novo governo de feição nazifascista aderindo, ipso facto, à nova política, inclusive à de cunho genocida adotada diante da pandemia provocada pelo coronavirus
Os textos selecionados passam a impressão de que o autor escreve com o cérebro e pensa com o fígado. No seu repertório de palavras, transparecem ressentimento e mágoa ante o não reconhecimento do seu valor pela comunidade científica, acadêmica e intelectual do Brasil. Coloca abaixo dele todos os jornalistas, escritores, professores, cientistas, filósofos e políticos do Brasil. A todos denigre e lança na vala comum dos cegos, ignorantes e incapazes. Radicalmente contra o comunismo e o socialismo, a sua crítica feroz e de baixo calão estende-se aos governos de esquerda em geral. Aborda os mais diferentes assuntos com foco na realidade brasileira: juventude, educação, cultura, linguagem, moral, religião, loucura, ciência, política, economia. Revela animosidade doentia em relação a tudo que contraria a sua doutrina conservadora. Estimula o ódio e prega a extinção física dos esquerdistas. No entanto, a crítica mordaz aos esquerdistas aplica-se, ipsis litteris, aos políticos da direita e a ele próprio. Exagera na boa qualificação da direita e na desqualificação da esquerda, bem como, nas quantificações sem base em pesquisas idôneas. Rotula de comunista quem dele diverge. Tal e qual ao jornalista italiano Benito Mussolini, também ele, jornalista brasileiro, na sua empírica formação política, partiu da extrema esquerda e aportou na extrema direita. 
Da apresentação da coletânea, consta ser, o autor, professor de filosofia nos EUA e organizador de cursos e palestras. Nos textos, o autor informa que ensina para empresários. Certamente, ele não é professor universitário. Todavia, mesmo sem título acadêmico, nada impede a pessoa de ser escritor, astrólogo, jornalista e/ou filósofo. A fim de valorizar os seus escritos, o autor da coletânea cita filósofos antigos e modernos de grande aceitação no mundo ocidental. Desanda vitupérios sobre alguns deles. Invoca a religião católica, os filósofos da patrística e o esoterismo oriental. Ataca o ensino, os professores e os alunos brasileiros. Qualifica de precária a inteligência dos brasileiros, afirma a decadência da produção literária, das teses universitárias, dos comentários de jornal, da opinião das autoridades e das discussões públicas. Acusa o vazio das ideias na seara cultural, a estupidez dos raciocínios, a miséria da linguagem e a incapacidade para distinguir entre o essencial e o acessório, o decisivo e o irrelevante. 
O autor da mencionada coletânea coloca no elenco dos problemas brasileiros (junho/2011): a destruição completa da cultura, a ausência de educação, o consumo de drogas, os assassinatos (40 a 50 mil por ano), a falta de mão de obra qualificada de nível superior, a monstruosa dívida pública, a impossibilidade de concorrência democrática tendo em vista a direita estar unida com a esquerda, a debilitação alarmante da soberania nacional. No seu entender, a causa dessa decadência reside na geração de falsos intelectuais morbidamente presunçosos que hoje dominam tudo: o sistema educacional, os partidos políticos, a burocracia estatal, “o diabo” (suponho que nesta expressão ele inclui a imprensa). A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil. Intitula-se último sobrevivente da alta cultura que poderia salvar o Brasil da favelização intelectual, missão que caberia à classe acadêmica se não fosse decadente. Diz que a ele cabe ensinar os brasileiros a verem as coisas como elas são realmente. Verifica-se da sua autoglorificação que a "autoadoração abjeta" que ele atribui à elite intelectual brasileira aplica-se a ele próprio. 
Na opinião desse jornalista, o traço característico da classe intelectual do Brasil nos últimos 30 anos (1978/2008) tem sido o espírito de solidariedade grupal mafiosa, coeso, ciumento, impenetrável. Aponta como fatores desse fenômeno: (i) fusão indissolúvel do ofício intelectual com a militância partidária esquerdista (ii) intimidade promíscua da imprensa com a universidade o que gera ascensão dos professores esquerdistas (iii) secreta consciência que a classe intelectual tem da sua própria inépcia. “A mediocridade é apenas um padrão estatístico distribuído anonimamente na multidão”. O autor da coletânea se diz salvador daqueles que não conseguem enxergar o mundo tão bem quanto ele enxerga. Lamenta que não compreendam a sua mensagem. Opõe-se à homossexualidade e nega a autonomia, no Brasil, das culturas negra e indígena. Considera legítimo o golpe militar de 1964. Longe de se caracterizar pela crueldade repressiva, a resposta militar (aos terroristas da esquerda) se destacou pela brandura de sua conduta e pela sua habilidade de contornar com o mínimo de violência uma das situações mais explosivas já verificadas na história deste continente. Cita a mortandade bem maior em Cuba, na Rússia, na China e também nos países da América Latina em que houve golpe de estado desferido pela direita. 

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