sábado, 15 de dezembro de 2018

SEM NOVIDADE NO FRONT

A militarização do governo brasileiro que terá início em janeiro de 2019 já era esperada depois da vitória do candidato do PSL. Desde 1889, os militares se consideram supremos zeladores da república brasileira. O candidato vencedor no pleito presidencial de 2018 sempre esteve ao lado da tropa e nunca abdicou da sua condição de militar reformado. Publicamente, ele (i) elogiou um torturador oficial do exército já falecido (ii) censurou a ditadura militar por não haver matado mais pessoas (iii) referiu-se ao estupro como aceitável conforme a aparência da mulher (iv) discriminou a mulher e o homossexual (v) postou-se como inimigo da esquerda nacional e dos governos de esquerda dos outros países (vi) portou-se com a volúpia messiânica do líder nazista (vii) mostrou-se bajulador e imitador do medíocre e estouvado presidente da Casa Grande do Norte.
Desde a década de 1940, o governo dos EUA, vitorioso na guerra mundial, potência hegemônica no Ocidente, considera-se tutor dos países latino-americanos. A presença de oficiais generais no governo brasileiro garante a continuação dessa tutela. As forças armadas brasileiras são submissas ao sistema de segurança daquele país.
O candidato eleito escolheu um general para vice-presidente e uma dezena de oficiais generais, alguns da ativa, outros reformados, para seu ministério. Certamente, nos demais escalões da administração pública haverá mais militares nomeados. Cerca de 90 milhões de eleitores nele não votaram. Esse número corresponde à população do Brasil em 1970. Ele obteve 57 milhões de votos. O candidato vencido obteve 47 milhões de votos. Os eleitores que se omitiram somam 42 milhões. Esses números indicam que [i] 39% do eleitorado brasileiro filia-se à direita (moderada + extremada) [ii] 32% do eleitorado filia-se à esquerda (moderada + extremada) [iii] 29% do eleitorado compõe-se de moderados omissos da direita e da esquerda (desiludidos, apáticos, revoltados). Possivelmente, haverá nomes de eleitores falecidos que ainda constam do registro eleitoral.
O candidato vencedor seguiu a trilha aberta por Fernando Collor: (i) fundou um partido para ele próprio a fim de realizar seus propósitos com independência dos demais partidos (ii) investiu no descontentamento de parcela da população com os desmandos dos governos que o antecederam (iii) alicerçou seu discurso na restauração da moralidade e no combate à corrupção (iv) usou a sua formação militar como garantia de um governo honrado e honesto.
As práticas ilícitas desse cidadão quando parlamentar e quando candidato à presidência da república, noticiadas na imprensa e na rede de computadores, inclusive no que tange às verbas de gabinete e à utilização de informações falsas a seu favor e contra os seus adversários, comprometem os requisitos de honradez e honestidade. A farda, tampouco, garante esses requisitos. Basta lembrar do período autocrático militar, as construções de Itaipu, Transamazônica, Ponte Rio-Niterói e das famosas comissões de Delfim Neto & Cia. No que concerne à roubalheira, a diferença entre o governo civil e o governo militar é apenas quantitativa: no civil, a ladroagem foi bem maior do que no militar. No que concerne ao patrimônio econômico e estratégico da nação, o governo da direita, tanto o civil como o militar, caracteriza-se pelo entreguismo; o governo da esquerda, pelo nacionalismo.  
A presença de oficiais generais garante a eficiência do governo. Os militares são organizados e práticos. Ainda quando fora do quartel, na administração pública, levam a sério a espinha dorsal da tropa: hierarquia e disciplina. Além disto, eles estão sempre atualizados com os problemas brasileiros e com os principais assuntos internacionais. Eles são adeptos da doutrina da segurança nacional elaborada na escola estadunidense. Serão respeitados pela população na medida em que não coonestarem a usual e costumeira ladroagem no governo federal e respeitarem as liberdades públicas.
O general vice-presidente assumirá interinamente a presidência da república durante o afastamento do titular para tratamento de saúde. Na hipótese de impedimento total, ou de incapacidade definitiva do titular, o general governará o país até 2022 e poderá ser reeleito para o quadriênio seguinte. 
A parcela do corpo eleitoral que escolheu o candidato do PSL ansiava pelo retorno dos militares sob o novo ambiente constitucional. Essa parcela materializou a profecia do general Figueiredo: “vocês ainda sentirão saudade do governo militar”. A ascensão dos militares sob tal ambiente só foi possível com o golpe civil de 2016 e a segregação do líder popular mediante processo judicial fraudulento. Esse líder teria vencido as eleições presidenciais de 2018 caso não fosse impedido de concorrer.

Nenhum comentário: