sexta-feira, 8 de junho de 2018

FUTEBOL NÚMEROS ET CETERA

O Centro Internacional de Estudos do Esporte, sediado em Neuchätel, cidade suíça, fundado em 1995 pela FIFA em parceria com o governo e a universidade, publicou lista dos 100 jogadores de futebol mais caros do mundo. Entre os 10 jogadores mais caros, 5 são de clubes ingleses: Tottenham, Liverpool, Manchester City e Manchester United. O primeiro lugar coube a Harry Kane, do Tottenham, valendo 201,2 milhões de euros e o décimo lugar a Ramelu Lukaku, do Manchester United (163,4 milhões). Neymar, do PSG, ocupa o segundo lugar (195,7 milhões); Messi, do Barcelona, o quarto (184,2 milhões) e Salah, do Liverpool, o quinto (171,3 milhões).
Esses valores estratosféricos demonstram como o interesse econômico transformou o esporte em indústria e os jogadores em mercadoria. Essa mudança começou na Europa Ocidental, anos 70, século XX, estendeu-se para a América e foi encampada pela FIFA. Os jogadores são utilizados como garotos-propaganda. Daí, a importância da presença deles em campo, ainda que estejam sem condições físicas e técnicas. Os estádios de futebol permitem ampla visibilidade das marcas comerciais estampadas nos uniformes dos jogadores. Certa vez, Ronaldo Nazário foi além do uniforme: saiu andando do campo e pendurou no pescoço as chuteiras de determinada marca a fim de torna-la bem visível ao público do estádio e ao telespectador. As emissoras de TV também driblam a lei e recheiam a transmissão dos jogos com propaganda fora dos intervalos. Domínio do dinheiro e da esperteza onde a moral e a decência não entram.     
A copa do mundo de futebol masculino Rússia/2018 será disputada por 32 seleções nacionais, sendo 14 europeias (7 da Europa Ocidental, 4 da Europa Oriental e 3 da Escandinávia), 8 americanas (5 da América do Sul, 2 da América Central e 1 da América do Norte) 5 africanas (3 da África morena e 2 da África negra) 4 asiáticas (2 da Ásia amarela e 2 da Ásia morena) 1 australiana (Oceania).     
Para compor a seleção brasileira, o treinador convocou 23 jogadores, sendo 3 goleiros, 8 defensores, 7 armadores e 5 atacantes, nem todos em boas condições físicas e técnicas. O Centro Internacional acima citado, servindo-se de metodologia que leva em conta o desempenho dos jogadores e a frequência de jogos de que eles participam em determinado período, concluiu que em 2018: (i) a seleção espanhola será campeã (ii) a brasileira vice-campeã (iii) a francesa ficará em terceiro lugar e a alemã em quarto. Cuida-se de cálculo probabilístico.
Por se basearem em números reais, os calculadores aspiram a se aproximar da certeza. Em que pese o seu valor, a matemática nem sempre se dá bem com o esporte. Ainda que os dados da experiência sejam valiosos ao exame racional, a intuição mental e sensorial às vezes é mais eficiente.
O resultado das competições esportivas surpreende em função do imponderável, de fatores individuais (físicos, temperamentais, psicológicos) coletivos (táticos) sociais e políticos, que escapam ao cálculo. Em jogo duríssimo, quando há paridade de forças entre as equipes, um único lance de um jogador habilidoso pode ser decisivo. Na seleção brasileira esse jogador pode ser Coutinho, Firmino, Gabriel, Marcelo, Neymar. Esta é a vantagem numérica da brasileira sobre as demais seleções que têm apenas um Cavani, um Salah, um Ronaldo, um Messi.
A perda de um jogador taticamente importante no esquema do treinador influi no resultado da partida. Contusões graves tiram-no de campo, às vezes, provocadas intencionalmente pelo adversário. Fingindo inocência, há jogadores, como Sérgio Ramos do Real Madri, que batem pra valer. Outros, como alguns jogadores europeus, africanos e asiáticos, batem - não por maldade - e sim porque lhes falta habilidade e refinamento. Entrevistado há algum tempo, Pelé contou, em tom confidencial (como se fosse possível confidência em canal de televisão!) que seus companheiros combinaram, durante jogo da seleção, um deles acertar no adversário que estava batendo pra valer. O brasileiro escolhido não precisou cumprir a missão porque o próprio Pelé acertou o gringo quando surgiu a ocasião. Às vezes, quando o árbitro é omisso ou conivente, há necessidade de a vítima aplicar com jeitinho um “chega pra lá” a fim de o agressor desistir de dar pancadas.     
O futebol do século passado empolgava mais o povo brasileiro do que o futebol do presente século. Sem grande envolvimento do público, a equipe nacional fica pouco estimulada. Paira uma atmosfera de desilusão ou indiferença criada pela segunda derrota na própria casa. A primeira (1950) deprimiu o brasileiro por quase 50 anos. A frustração e a angústia geradas pela segunda (2014) talvez não durem tanto. A estas duas, acrescente-se a derrota para a seleção italiana na copa da Espanha (1982). Portanto, três grandes decepções que marcaram a alma nacional. O mercantilismo que cercou o esporte levou o torcedor ao descrédito. Além disto, mudou a mentalidade de parcela da população cuja autoestima tornou-se menos dependente do sucesso da seleção de futebol masculino.
O retrocesso econômico e social, a instabilidade política e a insegurança jurídica, reinantes no país, geram acabrunhamento, infelicidade, desespero, revolta, o que repercute no comportamento do povo em relação ao futebol e ao esporte em geral. A Constituição da República Federativa do Brasil tem sido usada no banheiro como papel higiênico pelo presidente da república, por parlamentares, ministros, juízes, membros do ministério público, pela elite econômica (banqueiros, industriais, comerciantes, fazendeiros, donos de empresas jornalísticas) e por uma fatia da camada remediada da população. Por enquanto, a Constituição tem sido respeitada pelos militares, por sacerdotes católicos, literatos, cientistas, filósofos, professores e parcela das camadas remediada e pobre da nação.

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