sábado, 22 de abril de 2017

"PAISECO"

Chama-se medalha uma peça de metal de duas faces, forma circular, oval ou de cruz, destinada a condecorar alguém por motivos relevantes, atos heroicos na paz ou na guerra, vitórias em competições esportivas, extraordinária prestação de serviços à pátria ou à humanidade. A medalha representa prêmio por ação nobre, ou reconhecimento do valor de uma pessoa. O outorgante pode ser uma instituição (câmara legislativa, tribunal, exército), ou uma pessoa autorizada (rei, presidente, comandante) sobre cuja legitimidade não paira dúvida.
A medalha tem valor econômico segundo a qualidade do metal (bronze, prata, ouro) e o custo da fabricação e do cerimonial. Além disto, tem valor honorífico, moral e histórico que corresponde à dignidade (real ou presumida) do outorgante. Quem a recebe deve merecer a honraria ou a homenagem.    
No Dia do Exército (19/04/2017), várias pessoas foram agraciadas com medalhas, entre elas, algumas desonestas, indecorosas, arbitrárias, traidoras, como Michel Temer e Sérgio Moro. A outorga satisfez a vaidade dos agraciados, porém, aviltou o valor da medalha. Indignado e envergonhado com a desfaçatez dos seus patrocinados, Duque de Caxias, patrono do exército, provavelmente revirou-se no túmulo. Sensatos foram Roberto Barroso e Edson Fachin, ministros do supremo tribunal, por não comparecerem à cerimônia. Receber a medalha os colocaria no mesmo nível dos delinquentes e rebaixaria ainda mais o tribunal de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes. O mesmo aviltamento ocorre quando tribunais concedem medalhas a pessoas moralmente desqualificadas.    
Verificou-se também na referida cerimônia, subversão da hierarquia. O presidente da república, chefe das forças armadas, condecorado por seu subordinado, o comandante do exército. O inverso é que devia ocorrer: o chefe condecorar o subalterno. No entanto, prevaleceu a realidade histórica da república brasileira: a autoridade militar (que golpeou a monarquia e instituiu a república oligárquica) acima da autoridade civil. Isto lembra a coroação dos reis europeus. Ao colocar a coroa na cabeça do monarca, o Papa exibia a superioridade da sua autoridade espiritual. O presidente da república pode receber medalha do presidente do congresso nacional, do presidente do supremo tribunal, ou de autoridade civil de outro país de escalão semelhante, mas não de quem está abaixo da sua posição institucional.    
O povo pode questionar a homenagem: que relevantes serviços os homenageados prestaram à nação brasileira? Os condecorados não valem sequer o metal das medalhas que receberam. Agiram contra o interesse nacional e a vigente ordem jurídica; golpearam a democracia; cuspiram na Constituição da República promulgada por assembleia nacional constituinte; usaram de artimanha, traição e arbitrariedade; tramaram a expulsão do cargo presidencial legitimamente ocupado por mulher honesta, independente e corajosa para nele colocar homem desonesto, dependente e covarde; levaram o estado brasileiro à bancarrota; deixaram milhões de brasileiros desempregados, milhões de famílias na miséria e no desespero.
Na opinião do atual e ilegítimo presidente da república, o Brasil não é um “paiseco”. A gíria do presidente colide com a realidade histórica. Em 1822, ao se romper o vínculo político que unia o artificioso reino do Brasil ao reino de Portugal, nasceu o autêntico estado brasileiro. Desde aquele ano o Brasil tem sido um paiseco, isto é, um país de merda, republiqueta de bananas, governado por uma elite cafajeste cujos membros se revezam no poder, golpe atrás de golpe. Riquezas naturais e patrimônio estratégico entregues ao estrangeiro; elite rica, povo pobre e miserável. Melhoria esporádica em alguns períodos: [1] econômica e social (1930/1953); [2] econômica (1964/1984); [3] política, econômica e social (2003/2014).
Desde a década de 1940, quando o Brasil enviou força expedicionária à Itália, na segunda guerra mundial, para lutar ao lado dos ianques, até a presente data (2017), o exército brasileiro tem sido submisso ao imperial governo dos EUA. Nutrido pela cultura civil e militar estadunidense, o exército brasileiro coloca os ideais e interesses dos EUA acima dos interesses do Brasil. A segurança nacional dos EUA prevalece sobre a segurança nacional do Brasil. Urge, pois, reorganizar o exército mediante ampla reforma política, moral e jurídica. A nação necessita de um exército a serviço do povo e não apenas a serviço da elite. 
Do ponto de vista natural, territorial e demográfico, o país é um gigante. Do ponto de vista governamental, o país é um anão safado. Do ponto de vista orgânico, o país é um animal invertebrado e desfibrado. Durante o governo Silva (2003/2010), qualifiquei os administradores de vira-latas em artigo publicado no jornal impresso “Tribuna da Imprensa” do Rio de Janeiro. O então ministro Guido Mantega, em canal de televisão, com a carranca de quem estava ofendido, defendeu-se: “nós não somos vira-latas”. No entanto, os fatos provaram que tanto eles como os antecessores e os sucessores, eram e são todos uns vira-latas.      
Somos ou não somos um paiseco

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