sexta-feira, 15 de julho de 2016

FUTEBOL 2016

Da Copa América, disputada por seleções americanas em cidades dos EUA e da Copa Europa disputada por seleções europeias em cidades da França (junho/julho/2016), foi possível notar que os latino-americanos movem-se mais pela paixão, driblam mais, praticam mais o lado artístico do esporte, sentem necessidade de mostrar talento e de se exibir para o público e as câmeras de TV. Os europeus, na histórica posição de colonizadores, psicologicamente maduros, driblam menos, aprenderam a pedalar e a usar o calcanhar, apelam para o vigor físico, valorizam o conjunto, esquemas táticos sem grande variedade. Falhas comuns aos americanos e europeus: finalizações mal endereçadas, erros nos passes, deficiente trato da bola, desarmes sofridos por desatenção. Os árbitros europeus levam em conta o aspecto viril, não marcam falta só porque a disputa foi vigorosa, evitam interromper a dinâmica do jogo. Preferem advertências verbais, depois advertem por cartão (amarelo), são econômicos nas expulsões (cartão vermelho). Da arbitragem e das faltas sofridas, os europeus do norte pouco reclamam, não fazem cena teatral no choque com o adversário, nem são exibicionistas (o sueco Ibrahimovic é exceção). Os europeus do sul e os latino-americanos reclamam mais, algumas vezes, acintosamente. Na maioria das vezes, as reclamações são improcedentes.
Os telões colocados na parte superior interna dos estádios europeus atraíam olhares dos jogadores e dos torcedores. Quando focadas, as pessoas apontavam na direção dos telões, acenavam e vibravam de alegria, algumas fantasiadas, outras com os rostos pintados com as cores do seu país. Clima de festa e confraternização que incluía a contagem regressiva para o início de cada partida. Todos contavam em voz alta até o árbitro apitar. A execução dos hinos nacionais era o momento de exaltação cívica. A força emotiva da “Marselhesa” impressiona, parece um hino universal, apesar do teor revolucionário francês da sua letra. O reflexo mundial da revolução francesa de 1789, com o seu lema liberdade + igualdade + fraternidade, talvez seja a causa da vibração e do calor emocional sentidos por quem ouve o hino.
A equipe que estiver bem preparada do ponto de vista físico, técnico e psicológico e que demonstre força e determinação durante as partidas, tem condições de vencer, sendo irrelevante se é principiante como a da Islândia ou experiente como a da Alemanha. Nas copas de 2016, seleções tradicionais fracassaram. Na copa americana, por exemplo, a brasileira pentacampeã mundial (1958+1962+1970+1994+2002) e a uruguaia bicampeã mundial (1930+1950), as duas de longa experiência e tradição, ficaram na rabeira. A colombiana e a estadunidense obtiveram o terceiro e quarto lugares respectivamente. A argentina bicampeã mundial (1978+1986) manteve a tradição e ficou em segundo lugar. A chilena conquistou a taça pela segunda vez consecutiva.
Premiados pela insidiosa FIFA, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo tiveram desempenho modesto nas copas/2016; jogam melhor no Barcelona e no Real Madri. Embora goleadores, os dois são medianos em outros fundamentos do esporte: têm estrábica visão de jogo, sofríveis nas assistências e nas cobranças de faltas e de pênaltis, perdem a bola com muita frequência e facilidade. O robótico e previsível argentino, sem a criatividade, o carisma e a pujança de Maradona, marcou gols durante o torneio americano, porém sumiu na partida final, perdeu o pênalti e a taça. O vaidoso e midiático bailarino português, artista nos dribles (a maioria ineficaz), sem a densidade do genial Eusébio, só melhorou seu desempenho na partida semifinal, quando fez um gol, ajudou no setor defensivo e sua equipe se classificou para a partida final depois de vários empates no tempo normal das partidas anteriores. 
As seleções da Alemanha, Bélgica, França, Gales, Islândia, Itália, Polônia e Portugal classificaram-se para as partidas quartas-de-final. Deixaram para trás seleções experientes e tradicionais como a da Hungria e as campeãs mundiais: Inglaterra (1966) e Espanha (2010). Islandeses e galeses taticamente disciplinados e preparados fisicamente mostraram valentia, porém certa ingenuidade nas jogadas. Os islandeses lutaram bravamente contra a seleção da França visando a se classificar para a semifinal, mas perderam (5x2). Foram recebidos como heróis ao retornarem à Islândia. Seleções fortes como as da Bélgica, da Polônia e da Itália tetracampeã mundial (1934+1938+1982+2006) também não se classificaram. Na primeira semifinal, Portugal (2) x Gales (0), a seleção portuguesa que já foi vice-campeã venceu a galesa. Na outra semifinal, Alemanha (0) x França (2), a seleção alemã tetracampeã mundial (1954+1974+1990+2014), no frescor da última copa, mas sem o mesmo brilho, não conseguiu superar a seleção francesa campeã mundial (1998).
No tempo normal da última partida do torneio, França x Portugal empataram sem gols. No segundo tempo da prorrogação a seleção portuguesa marcou um gol. Sagrou-se campeã. Cristiano Ronaldo, solitária estrela do encontro, sofreu lesão na perna esquerda e foi substituído no início da partida. Houve equilíbrio técnico entre as duas seleções, apesar das táticas diferentes de cada equipe. O placar do tempo normal (0x0) e o escore mínimo da prorrogação (1x0) refletiram esse equilíbrio. As substituições feitas pelo treinador português produziram efeitos positivos. Os dois goleiros se destacaram pela excelente atuação. Portugueses e franceses esforçaram-se ao máximo. Alguns deles eram de origem africana, o que mostra o aspecto construtivo da imigração. A seleção francesa tinha leve favoritismo por jogar em casa diante da sua torcida e ter jogadores tão bons quanto os da seleção portuguesa. Os lusitanos superaram a perda da sua estrela, lutaram com bravura e venceram.   
Rotineiramente, a imprensa esportiva faz prognósticos fundados no passado glorioso de alguns jogadores, clubes e seleções. Encara como ponto de honra e selo de autoridade o acerto no prognóstico. Errar significa descrédito para o jornalista. No entanto, mais importante é o momento de cada atleta e de cada equipe, independente da tradição. No futebol masculino, extraordinárias seleções sofreram inesperadas derrotas em copas do mundo, como a húngara de 1954, a holandesa de 1974 e as brasileiras de 1950, 1982 e 2006.
Havia diferentes narradores e comentaristas das emissoras de TV nas cidades da França onde se realizaram os jogos da Copa Europa/2016. Falavam compulsivamente como se a tela do televisor nada exibisse. Alguns gritalhões e fanfarrões tentavam aumentar a temperatura emocional do espetáculo a fim de prender a atenção do público. Trocavam confetes. Caprichavam na senha para a entrada da propaganda comercial durante a transmissão do jogo. Há narradores que prestam informações sobre a cidade e o país onde se encontram, incluindo costumes, símbolos e imagens. Fazem sumárias biografias de jogadores e treinadores e breve histórico das equipes. Notam-se dois tipos de comentaristas: (1) o prático, que jogou futebol profissional, geralmente é conciso e objetivo, a experiência que adquiriu em campo confere relativa autoridade à sua opinião; (2) o teórico, que jogou na várzea ou nunca jogou futebol, geralmente é falastrão, quer mostrar que conhece bem o esporte e a psicologia dos jogadores e dos treinadores, ensina padre a rezar missa. Quando a sua análise choca-se com a realidade mostrada em campo, desconversa.
Após os primeiros 10 minutos de cada tempo da partida, o melhor é desligar o som do aparelho. Basta a imagem. Ao ligar o som nos momentos de substituição de jogadores, de alguma encrenca no campo ou na torcida, ou nos intervalos da prorrogação e da decisão por pênaltis, o telespectador ouve explanações sobre: (1) quem vai ser substituído, por quem e por que; (2) a gravidade da lesão; (3) a intenção do treinador; (4) o que deve ser feito; (5) como será o jogo dali para frente; (6) a violência das faltas; (7) a inadequada conduta dos briguentos; (8) os efeitos do cansaço na musculatura dos jogadores; (9) quem cobrará os pênaltis; e assim por diante.
Se a realidade não se amolda ao desenho traçado pelo analista, fica o dito pelo não dito. Às vezes, sem admitir o equívoco, o analista faz considerações à margem para justificar a profecia. 

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