sexta-feira, 17 de junho de 2016

FUTEBOL

12/06/2016. Domingo. Dia dos namorados. Copa América de futebol masculino. A seleção brasileira perde para a seleção do Peru pelo escore mínimo (1 x 0). Provavelmente, pesou no ânimo dos jogadores a saudade das namoradas. Os brasileiros exibiram um futebol moderno com alguma deficiência no setor de armação. Todos os jogadores se esforçaram, movimentaram-se pelos dois lados do campo e pelo centro. Depois do gol da seleção peruana, Lucas podia ter entrado e jogado ao lado de William, Coutinho e Gabriel, municiados por Lucas Lima. A brasileira necessitava de êxito nas finalizações. A adversária estava fechada no setor defensivo.
Goleador no clube = goleador na seleção. Por que nem sempre essa igualdade ocorre? Dificuldade maior diante de seleção estrangeira? Falta de entrosamento com os companheiros? Castradoras instruções do treinador? Pressão interna e externa? Fator psicológico?
Sem discrepar da média geral do torneio, a equipe brasileira e a peruana apresentaram falhas individuais, erros na assistência e no domínio da bola. O ataque peruano foi menos frequente e impetuoso do que o brasileiro, porém levou mais sorte: em boa jogada pela direita, já avançado o segundo tempo da partida, o atacante peruano cruzou fortemente para a pequena área brasileira, a bola bateu no braço do seu companheiro que ali se postara e entrou no gol. Os brasileiros reclamaram do toque e pleitearam a invalidade do gol. O árbitro e os auxiliares conferenciaram entre si e decidiram pela validade do gol. Os brasileiros sentiram o golpe (agora esportivo e não político). Os peruanos se fecharam ainda mais na defesa. Apito final. A seleção brasileira estava fora da Copa América/2016, ainda na fase de grupos.    
Procurar culpados pela derrota nada resolve, muito menos crucificar o treinador que, aliás, não goza da simpatia das tendenciosas e argentárias emissoras de rádio e televisão. Dunga é econômico no sorriso e não bajula a imprensa. Isto irrita os jornalistas amestrados. Convém lembrar: sob o comando de Felipe Scolari, o queridinho dos jornalistas amestrados, a seleção brasileira, jogando no Brasil, na Copa do Mundo de 2014, arrastou-se até levar uma chapoletada de 7 a 1. Tal como naquela ocasião, agora também a CBF demitiu o treinador. Então, a boçalidade da emotiva imprensa esportiva suplicou por seu outro queridinho no comando da seleção: Tite, treinador do Corinthians. A CBF contratou-o.
Nenhum treinador do passado e do presente revelou-se milagreiro. A mudança na comissão técnica não é garantia de que doravante a seleção vencerá todas as competições. Múltiplas são as causas da derrota. Há que se considerar todo o ambiente que envolve a seleção brasileira: jogadores, comissão técnica, cartolas, patrocinadores, torcedores, imprensa, mentalidade dominante, costumes, fatores psicológicos, econômicos e políticos. Quem conquistará a Copa Mundial da Safadeza: o Congresso Nacional (Câmara dos Deputados + Senado Federal), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ou a Federação Internacional de Futebol (FIFA)?
O futebol brasileiro não é mais hegemônico embora o Brasil ainda seja um celeiro de bons jogadores. O futebol de outros países latino-americanos e europeus nivelou-se ao brasileiro e até o superou parcialmente. Inigualável no passado, como se viu nas copas de 1938, 1950, 1958, 1962 e 1970, apesar de não vencer todas, o futebol brasileiro mostrava beleza e excelência em níveis individual e coletivo e era admirado por outros países. Pouco importava se havia dois ou três jogadores que vestiam a mesma camisa e ocupavam as mesmas posições nos seus diferentes clubes, pois todos entravam na seleção e jogavam juntos porque eram craques e sabiam se comportar em campo sem medo de perder. Havia ousadia, mais coração e menos cálculo, ao enfrentar os adversários. Basta lembrar a partida final da Copa de 1958.
A década de 70, do século XX, foi um divisor de águas no futebol mundial. Nesse período teve início a decadência do futebol brasileiro e a ascendência do futebol europeu. A Europa estava recuperada dos estragos sofridos em decorrência da segunda guerra mundial. Em nível de seleção masculina, depois de conquistar a taça, a brasileira adotou um futebol retranqueiro, sob disciplina militar, com altos e baixos na sua trajetória até chegar ao ponto negativo máximo em 2014. Ao contrário do que acontecia no século XX, a auto-estima de muitos brasileiros não mais depende do sucesso no futebol. As gerações de brasileiros posteriores à década de 80 aceitam a nova realidade mais facilmente do que as gerações anteriores. O futebol continua muito interessante para o mercado e para o faturamento das emissoras de televisão.
Com o engessamento dos jogadores dentro de esquemas táticos, a seleção passou a depender da excelência e da personalidade de algum jogador como Romário, Ronaldinho Gaúcho, Robinho. Raras vezes na  história do futebol se viu tantos craques reunidos numa única seleção como na brasileira que disputou a Copa Mundial de 2006. No entanto, apesar disto e do alto nível da sua comissão técnica, a seleção brasileira fracassou de modo retumbante naquela Copa.
O jogador da vez agora é Neymar, incensado pela imprensa esportiva nacional, jogador cuja molecagem em nada engrandece a seleção. A sua atuação em campo é inferior à dos jogadores retro mencionados. O cai-cai é sua especialidade; a ridícula brabeza de guri mimado, a sua característica; as caretas risonhas, a sua marca de garoto-propaganda. A imagem e a fama azeitadas pela mídia e pelo marketing pesam mais do que a real eficácia. A seleção brasileira necessita de liderança efetiva dentro do campo. Liderança nominal não resolve, ainda mais a de um moleque. Com ou sem esse jogador, a seleção ganhará, empatará e perderá como qualquer outra.
A duradoura crise no meio esportivo brasileiro estender-se-á até a Copa Mundial de 2022. A saída passa por retirar das mãos dos cartolas a organização e os assuntos das seleções de futebol e de outras modalidades esportivas. O Ministério dos Esportes assumiria essa responsabilidade. Com os cartolas ficariam apenas os clubes e associações esportivas em geral.    
As seleções que disputam os torneios de futebol merecem respeito. Desqualificar qualquer uma delas por não ter “tradição” é sinal de preconceito. Dizer que é vergonha perder desta ou daquela é depreciar a vencedora. Ideias preconcebidas impedem os azedos críticos de enxergar o que está se desenrolando no estádio. Equipes sem “tradição”, como as da Bolívia, Equador, Peru, Venezuela, podem apresentar bom e competitivo futebol. O estilo barcelonense é imitado por equipes que disputam a Copa América. A velocidade dos jogadores e a rápida troca de passes são constantes a indicar bom preparo físico e treinamento tático. Nos jogos, há escores mínimos e amplos. A seleção brasileira vazou sete vezes o gol da seleção do Haiti, mas diante da seleção peruana não fez um gol sequer. A seleção uruguaia, com toda a sua “tradição”, foi eliminada também na fase de grupos. A venezuelana, sem “tradição”, passou invicta para as quartas-de-final. Enfrentará a seleção argentina.       
Na copa europeia de futebol (UEFA – EURO/2016), ora em andamento, os atuais campeões do mundo jogam como se não o fossem e se esforçam na busca de resultados positivos. Venceram a seleção da Ucrânia e empataram com a da Polônia. Expressões fisionômicas limpas, sem máscara, eles jogam sem salto alto, sem requebros e sem desmunhecar. Alguns deles aprenderam a driblar e a usar o calcanhar. Jogam de modo sério, vigoroso e bem entrosado. Entre eles há jogadores excelentes, como Kroos e Boateng. Todos eles mostram amor e respeito à camisa da sua seleção.

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