Sobre
começo e fim do universo o saudoso filósofo paulista Vicente Ferreira da Silva
menciona abalizadas opiniões entre as quais a de Aristóteles: o vir-a-ser das coisas não tem começo nem
fim, constituindo uma eterna evolução; e também a de Kant: o conceito de uma totalidade de fenômenos
suscetível de começo e fim provém de uma totalização ilegítima que transforma a
experiência indeterminada e móvel do mundo num dado objeto fixo (“Obras
Completas”. São Paulo. Instituto
Brasileiro de Filosofia, 1966, vol.II p.121/124). Marcel Proust faz um
personagem dizer: A criação do mundo não
teve lugar no começo; ela ocorre todos os dias (“Em Busca do Tempo Perdido
- A Fugitiva”. Rio, Ediouro, 2002, vol.III, p.506).
De
acordo com as “escrituras sagradas” o mundo teve começo e terá fim; foi criado
há seis mil anos conforme as gerações desde Adão e Eva mencionadas no Gênesis.
No quadro cronológico feito pelo historiador judeu Flávio Josefo, o ano da
criação de Adão e Eva foi 4342
a.C. (Antigüedades
Judias. Madri. Akal/Clásica, 1997, tomo I p.7). O Vice-Chanceler da
Universidade de Cambridge, em 1654, reverendo John Lightfoot, depois de
meticulosos cálculos, constatou que Adão foi criado na manhã do dia 26 de
outubro de 4004 a.C.
às 9,00 horas (Edward McNall Burns. História
da Civilização Ocidental. Porto Alegre, Globo, 1955, vol. I p. 29).
O
mito da criação do mundo e do homem exposto nos textos religiosos dos hebreus,
cristãos e muçulmanos cede lugar ao novo conhecimento. Assim como a Terra não se
formou em seis dias e nem é o centro do universo, o ser humano também não saiu
da mão do divino oleiro e nem é o centro das atenções de Deus.
O
físico George Gamow expôs, em 1946,
a teoria do big
bang, que atribui a origem do universo a uma gigantesca explosão ocorrida
há bilhões de anos (10, 15, 20?) depois de uma formidável concentração de
energia. Falta explicar a origem dessa energia. Retorna a antiga tese da
geração espontânea retirada de cena por Louis Pasteur no que tange aos germes. Para
elaborar sua teoria, Gamow serviu-se da descoberta feita em 1929 pelo
astrofísico Edwin Powell Hubble de que as galáxias afastam-se umas das outras a
indicar que o universo está em expansão.
Na
opinião do físico Stephen Hawking, as galáxias situam-se na superfície de um
universo esférico à semelhança de um balão de borracha que se enche de ar
progressivamente. Destarte, o que se expande é o espaço e não as galáxias (O Universo em uma Casca de Noz.
SP, Arx, 2001). Essa teoria tem implicações. A esfera implica um centro; a
expansão implica uma força propulsora que, por sua vez, implica uma fonte (ou
geração espontânea). No entanto, o universo não tem ponto de partida e nem
lugar preferencial ou centro, segundo postulado copernicano.
A
existência de outros universos cada qual com seus bilhões de galáxias também é
objeto de especulação científica como informa o físico Brian Greene. As mesmas
leis da matéria vigoram em todos os universos. Ao invés de partículas
puntiformes, os componentes fundamentais da matéria são filamentos
unidimensionais chamados cordas. Cada
universo possui a mesma mistura de material e é sempre o mesmo em todas as
direções (O Universo Elegante. SP.
Cia. das Letras, 2001). Vislumbra-se aqui a unidade cósmica. Sem começo e sem
fim, o cosmos seria a expressão material e espiritual da eternidade; dimensões material
e espiritual imbricadas. O cosmos constituído de vários universos estaria
mergulhado em um oceano de energia criadora, mantenedora e transformadora.
Trabalhos
divulgados em filmes documentários exibidos na TV mostram como os primeiros
humanos saíram da África para os demais continentes. Utilizando computadores,
os trabalhos retrocedem 140 mil anos no tempo para explicar tal pressuposto. Entre
o leste africano (Etiópia) e o sul da Ásia Menor (Yemen) o nível das águas
baixou e a distância marítima encurtou. Os africanos atravessaram por aí e após
cruzar o deserto localizado na outra margem descobriram um lugar rico em água,
flora e fauna, cujo nome assemelha-se a Éden, o paraíso terrestre.
A
partir dos fósseis encontrados nas cavernas do Monte Carmelo pesquisadores
aventam outro possível itinerário dos nômades pelo nordeste da África (Egito) e
noroeste da Ásia Menor (Israel). Naquela época era menor e mais estreito o
deserto do Saara. Israel não existia, mas tão somente o espaço geográfico conhecido
como Canaã. Israel era apelido de
Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão. Os descendentes de Jacó tomaram seu
apelido, povo de Israel, constituído
de doze tribos. Abraão e cerca de 70 pessoas chegaram à Palestina (Canaã) por
volta de 1400 a.C.
e se depararam com povos habitando aquele território. Escritores exageram essa
data para dar ao povo hebreu antiguidade igual ou superior à dos outros povos
(Flavio Josefo, por exemplo, fixa a data em 2080 a.C.). O grupo de
Abraão e descendentes formam o povo
hebreu que manteve relações ora amistosas ora conflituosas com aqueles
povos. Nessa mesma região, já decorridos três mil anos, em pleno século XXI
d.C. israelenses e palestinos continuam a trocar gentilezas.
O
esforço para ajustar a teoria científica à teologia é recorrente. Einstein caiu
nessa esparrela, mas se redimiu a tempo de reformular sua teoria. Nos trabalhos
acima referidos nota-se a presença da versão bíblica (criação, paraíso, primeiro
casal) a guiar o pensamento do cientista. Bem mais sensato e honesto seria
livrar-se das algemas religiosas e partir do fato natural: a existência de
águas, plantas e animais nativos em todos os continentes desde que o planeta
reuniu condições propícias. Quando o meio favorável à vida se formou teve
início a cadeia evolutiva nos diferentes pontos do planeta. Assim como os
outros seres vivos, os humanos também são nativos de cada continente.
A
vida animal na Terra quase desapareceu por completo há 65 milhões de anos, em
conseqüência de terrível vulcanismo na Ásia (Índia) e da colossal colisão de um
meteoro com o solo da América (México). Decorridos mais de 60 milhões de anos
daquela catástrofe e depois de longa evolução ocorrida no reino animal nesse
vasto período, nasceram os humanos com tipos distintos na compleição física,
cor da pele, resistência ao ambiente, capacidade craniana, fala e cultura. Na
primeira fase da sua existência na Terra (eolítica, anos 1.500.000 a 300.000)
houve três tipos: Pithecanthropus (Java), Sinanthropus (Pequim) e Eoanthropus
(Piltdown). Na fase seguinte (paleolítica inferior, anos 300.000 a 25.000) teve
existência o gênero homo sob duas
espécies: o homem de Heidelberg e o homem
de Neandertal. O período seguinte (paleolítico superior, anos 25.000 a 10.000) foi do homo sapiens. Os dois períodos culturais
subseqüentes foram do homo sapiens
moderno: o neolítico (anos 10.000
a 3.000) e a civilização (Egito e Mesopotâmia 3.000 anos
a.C.) (E. M. Burns, obra citada, vol. I p. 29/71). Pesquisas antropológicas e
paleontológicas na América e na Oceania podem revelar outros tipos humanos.
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