A
decisão do torneio de futebol da liga dos campeões da Europa será entre clubes
alemães no final de maio em
Londres. Nas partidas semifinais Borússia Dortmund venceu o
Real Madri na primeira (4x1) e perdeu na segunda (0x2), mas se classificou pelo
placar agregado (4x3); Bayern de Munique venceu o Barcelona nas duas partidas
(4x0 e 3x0). As semifinais foram disputadas em 23 e 24/04/2013 na Alemanha e em
30/04 e 1º/05/2013 na Espanha. Futebol vigoroso e de bom nível.
Paul
Breitner, ex-jogador da seleção alemã, entrevistado no canal 30 (ESPN) em abril
de 2013, antes das referidas semifinais, disse que na copa de 1974, vencida
pela Alemanha, a melhor seleção foi a da Polônia e não a da Holanda; que os
alemães têm espírito de equipe, perseguem a vitória como principal objetivo e
exibem habilidades individuais somente no final da partida quando em vantagem
no marcador; que para eles, futebol não é diversão; que ao se convencer de que
tinha o melhor futebol do mundo, a seleção alemã começou a decair; que os
brasileiros colocam a vitória em segundo ou terceiro plano, pois preferem
exibir suas qualidades individuais em primeiro lugar.
Em
que pese a opinião de Breitner, o fato é que na copa de 1974 o melhor
desempenho foi da seleção holandesa sem desdouro algum para a seleção polonesa.
Por capricho dos deuses do futebol a taça foi para a Alemanha, premiada por seu
esforço e dedicação. Pelo que se viu no torneio da liga dos campeões da Europa,
o futebol alemão está no ápice. Quanto aos brasileiros, jogam para vencer (às
vezes, para empatar). Vê-se um futebol alegre, mas também objetivo, viril e até
violento. Os árbitros toleram carrinhos e cotoveladas. Os jogadores se
aproveitam da leniência arbitral, o público começa a gostar do cheiro de sangue
como na luta de gladiadores e o estádio de futebol toma a feição de um coliseu
romano.
Ao
contrário dos alemães, os brasileiros não separam a arte de jogar futebol da
estratégia que visa a vitória; não separam beleza de um lado e eficiência de
outro. Os brasileiros sabem praticar o futebol solidário sem abdicar do talento
individual. Abusam do individualismo quando não conseguem dosá-lo. Com o seu
tradicional e admirável modo de jogar foram vice-campeões em 1950 e campeões em
1958, 1962 e 1970. Breitner deixou transparecer despeito. A criatividade, a
flexibilidade e a versatilidade dos brasileiros parecem incomodá-lo. Da
habilidade individual de alguns alemães saem jogadas inventadas por
brasileiros. A Alemanha nunca teve jogadores com a criatividade e as performances
de Petronilho, Heleno, Zizinho, Didi, Zico, Romário, Ronaldinho (para não
alongar a lista, cito na ordem cronológica sem incluir outros craques
notáveis). Aliás, não só a Alemanha, mas país algum apresenta uma lista tão
extensa de jogadores excepcionais como o Brasil, desde a fundação da FIFA em
1904 até agora (2013). Outrora, o
futebol dos brasileiros era admirado e imitado. Ainda treinador do Barcelona, clube
campeão do mundo, Guardiola confessou que havia adotado o futebol brasileiro que
seu pai e seu avô tanto admiravam. Certamente, pela idade, os ascendentes de
Guardiola referiam-se às seleções brasileiras de 1938 a 1970 e ao Santos FC
da era Pelé.
Houve
retrocesso quando o futebol brasileiro fugiu das suas características para
imitar os europeus. O vigoroso futebol de
resultado de que são adeptos os alemães aniquilou o estilo brasileiro. O bom
jogador se torna sofrível ao ficar preso na camisa-de-força imposta por
treinador colonizado e retranqueiro. Algumas derrotas da seleção brasileira
devem ser atribuídas a esse tipo de treinador. O craque necessita de certa
liberdade a fim de render tudo o que pode e fazer tudo o que sabe em campo. Vence, perde
ou empata quem joga. O treinador ora ajuda, ora atrapalha. No jogo de
24.04.2013, em Belo
Horizonte, entre as seleções brasileira e chilena (2x2) as
duas equipes estavam incompletas. As vaias foram imerecidas.
Imagens
e pensamentos quando se cristalizam na mente impedem a clara percepção dos
fatos presentes. O discurso se torna repetitivo e irrefletido. A insistência na
convocação de KK serve de exemplo. Considerado o melhor do mundo pela FIFA, este
jogador não estava bem na copa de 2010 (África do Sul). Submetido a cirurgia, ainda
está sem a antiga habilidade. Ronaldinho não é o mesmo da época em que recebeu
o título de melhor jogador do mundo, mas está em boa forma física e técnica,
presta assistências incríveis e graças à sua arte surpreende o adversário com
seus gols. Quem aposta todas as fichas em Neymar arrisca-se a perder. Bom
jogador, ele não tem culpa se em campo não é tudo aquilo que a ala carnavalesca
da imprensa esportiva criou. Outros jogadores e equipes também são colocados
nos cornos da Lua por exagerados elogios insistentemente repetidos sem
corresponderem à realidade. Os componentes da mencionada ala carnavalesca não
têm olhos para as deficiências dos seus ídolos. Parcela do público se deixa
levar pela onda.
Desde
2002, a
seleção brasileira de futebol masculino experimenta jejum em copas do mundo
semelhante ao do período de l970 a 1994. Ansiedade, intranqüilidade, vontade de
resolver tudo sozinho e sair consagrado, desejo de ser herói aplaudido pelo
mundo, medo de errar, desânimo durante a partida, apelo à violência, são
fatores que influem no desempenho de alguns jogadores. A estes faria bem o
afeto dos pais, esposas, amigos, clérigos e psicólogos. A qualidade técnica do
jogador e o seu valor de mercado não devem impressionar o psicólogo, pois à sua
frente está um homem com virtudes e fraquezas. Tal assistência ajuda os
jogadores e contribui para o bom entrosamento da equipe durante as partidas.
Algumas
seleções perderam o futebol ingênuo e o espírito olímpico da primeira metade do
século XX. Para elas não basta competir. Importante é conquistar o título de
campeão. A partir dos anos 60 e 70, os europeus começam a apresentar um futebol
eficiente e bem estudado, fruto da inteligência, da tecnologia, da importação
de craques da América do Sul (brasileiros e argentinos na maioria) e de um
trabalho metódico desde as categorias de base. Eles deram ênfase ao aspecto
coletivo do esporte ao verificar que lhes faltava habilidade individual como a
dos jogadores brasileiros e argentinos. O futebol africano e asiático trilha o
mesmo caminho, inclusive com treinadores importados e consegue boas classificações
a cada copa mundial. Isto complica a vida das seleções americanas e européias. O
horizonte da copa de 2014 está nublado. O sucessor do exorcizado fantasma de
1950 começa a rondar. Se a taça for erguida por mãos estrangeiras não será o
fim do mundo. Haverá outras copas. Sem neurose, a seleção brasileira será
hexacampeã no devido tempo. Por enquanto, o essencial é competir bem. A vitória
depende dos deuses.
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