quinta-feira, 17 de junho de 2010

FUTEBOL

DINHEIRO E FUTEBOL.
Sócrates, médico, excelente jogador da seleção brasileira de 1982, marcou presença na festa de abertura da copa do mundo de futebol de 2010. Comentou o caráter mercadológico do evento. De fato, as copas servem de vitrine para promoção de produtos e pessoas (técnicos, jogadores, dirigentes, comunicadores). O amor à camisa empalideceu, mais em nível de clube e menos em nível de seleção. Diante da evidência dos fatos no mundo do futebol, inegável que o amor ao dinheiro superou o amor ao clube. A atitude dos torcedores de atirar moedas no campo de futebol ou de acenar com cédulas quando os jogadores mostram falta de empenho durante o jogo indica a noção que o povo tem do aspecto mercantil do esporte.
Inventado e praticado pelos ingleses, o futebol foi trazido da Inglaterra para o Brasil por um brasileiro cujo pai era inglês. Inicialmente, era esporte de uma elite branca. No Paraná, havia elencos só de brancos (por isso mesmo, o Coritiba FC era apelidado de “coxa-branca”). Negros buscaram meios de clarear a pele para jogar em algum clube. No Fluminense, clube do Rio de Janeiro, os jogadores de pele escura usavam pó de arroz. Com o passar do tempo, a perícia individual superou o preconceito. Nos clubes, a necessidade de vitórias e títulos nivelou as epidermes. A partir dos anos 70, visando a obter um rico patrimônio, os brancos da classe média brasileira voltam a se interessar pela prática do esporte como profissionais.
Praticado na várzea pelos pobres (brancos, negros, mulatos), o futebol exigia apenas uma bola e dois paus fincados em lados opostos de um campo a guisa de traves do gol. O travessão era uma linha imaginária entre os dois paus acima da cabeça do goleiro. As discussões eram inevitáveis quando bola alta entrava no gol. Cara ou coroa: um time tirava a camisa e outro não; sem camisas versus com camisas. Em nível popular e âmbito nacional, o brasileiro tinha sua música, dança e festa: samba, chorinho, maxixe, carnaval. Faltava um esporte. O futebol preencheu essa lacuna. Massificou-se. Clubes foram criados, estádios construídos, torneios organizados com o comparecimento do público e ingressos cobrados. Jogadores da várzea ingressaram nos clubes. O esporte profissionalizou-se: jogadores contratados e remunerados. Os clubes criaram a categoria juvenil com o propósito de preparar os jovens para jogar no time principal. As mulheres aderiram ao esporte. Neste século XXI, a brasileira Marta consagrou-se como a melhor jogadora de futebol feminino do mundo.
Empresas industriais, comerciais, prestadoras de serviços, incluíram o futebol nos seus interesses. Marcas de produtos, nomes de empresas, logotipos, são exibidos nos estádios, nos bonés e nos uniformes dos jogadores e da comissão técnica. Para exibir marcas e modelos, jogadores penduram chuteiras no pescoço e beijam bolas. Clubes disputam a compra de jogadores. Os preços sobem a alturas estratosféricas. Desse mercado mundial participam jogadores, técnicos, entidades desportivas, veículos de comunicação social, empresas públicas e privadas. Os jogadores ambicionam ingressar nos clubes ricos da Europa, ganhar altos salários, rendas da propaganda e do patrocínio, além das mordomias. Não há lugar para amor à camisa. A fidelidade saiu de moda. Diante do encolhimento da várzea no Brasil, da valorização dos jogadores e do crescimento do mercado, os clubes criaram também a categoria infantil. Proliferam escolas de futebol particulares fundadas e dirigidas por ex-jogadores. Instrutor de uma dessas escolas afirma na TV: os jovens querem se dedicar ao futebol pelo dinheiro.

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