domingo, 6 de junho de 2010

FUTEBOL

O TÉCNICO E A IMPRENSA
Há técnicos de futebol que graças à facilidade de expressão gostam de se relacionar com a imprensa enquanto outros, por timidez, impaciência e/ou dificuldade de expressão dela se esquivam. Os técnicos concedem entrevistas coletivas por dever de ofício. Das entrevistas isoladas pode resultar ganho extra ao entrevistado. O despreparo profissional, a vaidade ou compulsão leva alguns entrevistadores a se sobreporem aos entrevistados e a desvirtuarem a entrevista com suas próprias versões e impressões.
A informação sobre os exteriores e os bastidores do esporte interessa a um grande público. O papel da imprensa é veicular essa informação. A imprensa inclui jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão (“mass media”) e atua nos setores informativo, instrutivo e recreativo com programas, textos, sons e imagens. Versa técnica, arte, ciência, religião, misticismo. Contribui para a formação do universo mental dos povos.
No interesse público, a imprensa promove debates e as mais variadas campanhas: combate às doenças, defesa do meio ambiente, assistência às vítimas de catástrofes, prevenção de acidentes, alfabetização, paz, fraternidade. O serviço de rádio e televisão pode ser prestado por empresas particulares mediante concessão do poder público, o que implica limitações administrativas. Nas democracias autoritárias da América Latina, o comunicador pode ser afastado das suas funções quando insiste na crítica desfavorável aos governantes. Se prestigiar o atrevimento do seu comunicador, a empresa emissora arrisca-se a perder a concessão.
Ativada por seres humanos, a imprensa reflete as virtudes e os vícios dos seus agentes e atua para o bem e para o mal. No futebol, constante é a pressão da imprensa para impor táticas e formações de equipe aos técnicos. Há críticas destrutivas e ofensivas quando o técnico não segue as diretrizes sugeridas pelos agentes da imprensa. Ciosos dos seus próprios direitos, tais agentes não respeitam direitos alheios, inclusive os relativos à intimidade. Exemplo recente: com máquinas fotográficas e filmadoras, repórteres perscrutavam quartos do hotel em que os jogadores se hospedaram na África do Sul (copa de futebol de 2010). Ciosos do seu trabalho, os repórteres não respeitam o trabalho alheio: afrontam decisões da comissão técnica da seleção de futebol e pretendem interferir no método de trabalho adotado.
Na “Era Dunga” desmontou-se o circo em torno da seleção brasileira. A decisão da comissão técnica de treinar sem a presença da imprensa e do público evita que os jogadores se distraiam e percam a concentração no trabalho. Os jogadores necessitam de um ambiente tranqüilo para buscar entrosamento e bem assimilar as táticas. No ensaio há paradas, repetições e mudanças. Nos jogos amistosos, o público que se impacienta com as interrupções no treino, pode ver a seleção em atividade contínua no campo, além de conversar com os jogadores e obter autógrafos nos salões do hotel e nas ruas da cidade. Para atender a imprensa, há local e horário reservados com diferentes jogadores, o que revela cuidadosa e racional organização.
A imprensa perdeu a neutralidade quando as finanças assumiram importância vital. Paris, 11 de julho de 1848. No derradeiro número do jornal “Povo Constituinte” que abrira falência, Lamenais escreve: “Hoje é preciso ouro, muito ouro para exercer o direito de falar. Nós não somos ricos. Silêncio aos pobres!”. A imprensa moderna é uma indústria capaz de distorcer fatos e forjar situações de acordo com os propósitos dos seus donos, dos seus agentes ou dos seus anunciantes. Orientadora de condutas e formadora de opinião, a imprensa exerce pressão tanto sobre o governo como sobre o povo. No regime autocrático, ela atua com as rédeas curtas do governo; no regime democrático, com as rédeas soltas. A democracia, solidária à informação, permite o contraditório. O governo serve-se da imprensa para buscar aprovação do povo à sua política, sondar a opinião pública e se informar sobre as necessidades da nação. Exercendo o seu poder de persuasão, a imprensa atua a favor ou contra o governo, constrói e destrói reputações, apóia e combate candidaturas. No século XVIII (1701-1800), Edmund Burke, membro do parlamento inglês, mencionando os três poderes do Estado (legislativo, executivo e judiciário) afirmava: a imprensa é o quarto poder.

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