quarta-feira, 3 de setembro de 2025

FUTEBOL

O treinador europeu contratado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) convocou jogadores brasileiros para formar a equipe masculina que enfrentará as seleções do Chile no dia 4 e da Bolívia no dia 9 de setembro/2025. Craques ativos e consagrados ficaram fora da lista: Rodrygo, Vini, Coutinho, Dudu, Gabigol, Hulk, Lucas Moura, Thiago Silva. Os dois primeiros jogam na Espanha; os demais, no Brasil. Como noticiado pela imprensa, o selecionador pretende testar jogadores que ainda não conhece bem. Dos 24 jogadores da lista de convocados, 6 atuam no Brasil: Hugo Souza (goleiro do Corinthians), Vitinho (lateral do Botafogo), Jean Lucas (volante do Bahia), Fabricio Bruno e Kaio Jorge (zagueiro e atacante do Cruzeiro), Samuel Lino (atacante do Flamengo). Dos restantes, 17 jogam na Europa e 1 na Arábia Saudita. Essa preferência do selecionador indica certa cautela ante a proximidade dos jogos e o pouco tempo disponível para ampliar o seu conhecimento. Provavelmente, assim raciocinou: Os jogadores brasileiros no exterior não seriam contratados por clubes europeus e árabe se não exibissem nível técnico e desempenho acima da média; tê-los na seleção brasileira, portanto, significa boa aposta e boa chance de êxito. Ademais, eles estão sob comando de treinadores europeus. Isto facilita o meu trabalho como treinador também europeu.  
Depois de cumpridos os dois compromissos imediatos, haverá nova convocação. A lista de convocados será atualizada conforme o tempo disponível do selecionador para observação e estudo. No momento, embora trabalhe em ambiente cultural distinto do europeu, o treinador italiano parece incluir na sua análise, além da capacidade física e técnica dos jogadores, o critério comportamental, elemento ético influente nas relações internas, no desempenho em campo e na imagem da seleção. Mostra-se determinado a vencer a Copa/2026.
Quanto ao ambiente natural, a seleção brasileira enfrentará adversária invencível: a altitude boliviana. As adversárias humanas são vencíveis. Entretanto, o preconceito não é bom conselheiro. Nas seleções adversárias certamente estarão os melhores jogadores chilenos e bolivianos. Mui remota se afigura a possibilidade de a seleção brasileira fazer com elas o que o Flamengo, clube carioca, fez com o Vitória, clube baiano, em jogo do campeonato nacional: 8 x 0. Mais provável, algo semelhante ao jogo do Bahia, clube baiano, contra o Fluminense, clube carioca, nesse campeonato: 1 x 0. No mundo, sob aspecto técnico, o futebol sul-americano está entre os melhores. Portanto, o desdém é incompatível: (i) com essa realidade (ii) com o devido respeito entre os competidores (iii) com o espírito esportivo.  
A situação da seleção brasileira é cômoda, pois, já está classificada para disputar a Copa/2026. Eventual derrota ou empate agora não pesará na balança. O afeto do povo pela seleção neste século XXI está morno se comparado com a fervura no século XX. As novas gerações não vêem na seleção a “pátria de chuteiras” do período da ditadura militar (1964-1985). O perfil do craque brasileiro mudou de lá para cá. Ficou irreconhecível para os ainda vivos aficionados do esporte bretão daquela época. Ganhos e padrão de vida altíssimos, hipervalorização dos craques, conforto, mimo, salão de beleza; mercantilização, modernidade, derrotas acabrunhantes; tudo a contribuir para a evaporação do encanto.  
No que concerne aos treinadores no Brasil, nota-se invasão estrangeira. O sucesso do português que treina o Palmeiras provocou febre nos dirigentes dos outros clubes por treinadores portugueses. Trouxeram até um venezuelano português (nascido na Venezuela de pais portugueses). Durante 23 anos esse português venezuelano rodou por 12 clubes em vários países de distintos continentes, com média de permanência de 2 anos em cada clube, apimentada com desavenças e resultados pífios. O campeonato mundial de clubes de futebol masculino/2025 mostrou ao mundo esportivo que os treinadores brasileiros são tão bons quanto os treinadores portugueses. As derrotas das seleções brasileiras nas copas mundiais dos últimos 20 anos têm como causa diversos fatores e não só a qualificação profissional dos treinadores. Cabe lembrar que as seleções campeãs mundiais de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, foram treinadas por brasileiros. 
Há treinadores brasileiros e portugueses com traços comuns: autoritarismo, arrogância, vaidade. Eles não suportam o brilho dos craques. Apagam as estrelas. Querem os holofotes voltados para si e mostrar ao público como eles são isonômicos, justos, inteligentes e capazes. Sempre acham ocasião para justificativas capengas a fim de manter na penumbra os craques que os sombreiam. Mal disfarçam o ciúme diante da consagração dos craques pelo público e pela imprensa esportiva. 
Esse tipo de treinador posta-se como estrela de maior grandeza. Os craques devem abdicar da personalidade própria e se comportar como planetas a girar submissos em torno do treinador. Esse tipo, seja português de Portugal, seja português da Venezuela, de Macau, de Moçambique, chega ao Brasil com a pose de rei da cocada preta, colonizador a constranger colonizado. 

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