domingo, 13 de novembro de 2022

AMIZADE

Amigos residentes em Campinas/SP, enviaram nesta semana, via WhatsApp, texto sobre amizade. Começa com o pai aconselhando o filho a não esquecer os amigos. Prossegue com o filho narrando o seu aprendizado: (i) conservar os amigos, pois, deles podemos precisar (ii) comunicar-se regularmente com eles para não os perder (iii) os amigos sempre estarão prontos a nos ajudar nos tempos difíceis, a nos receber de braços abertos e a nos abençoar (iv) em torno da mesa, bebendo cerveja, vinho, chá ou café, num bar ou restaurante, à sombra de árvore ou em casa, os amigos conversarão sobre os velhos tempos (v) ao iniciar a jornada terrena não sabemos o quanto precisaremos dos outros. O texto provocou em mim as reflexões a seguir expostas. 
Amizade entre humanos implica (i) inimizade e confrontos: amor versus ódio, amigo versus inimigo (ii) coesão de grupos afins desde o nível familial até o nacional (iii) convergência habitual e divergência ocasional. 
Segundo o testemunho de Platão, filósofo grego, Sócrates afirmava que a amizade era o vínculo que mantinha as pessoas socialmente unidas. Referia-se não só às relações amistosas entre indivíduos como também às relações do povo com as instituições sociais e políticas, afeição responsável pela integridade da cidade (amor à pátria). 
Segundo o testemunho dos apóstolos, Jesus, profeta israelita, colocava no centro da sua doutrina: o amor, a paz, a fraternidade, a igualdade, a comunhão de bens, a obediência à autoridade de deus, à autoridade do estado e à autoridade do pai e da mãe. A ideia cristã de amor assemelha-se à socrática de amizade: afeição não só entre indivíduos como também entre as pessoas e as instituições (família + igreja + escola + estado). O amor de que falava o profeta caracterizava-se por ser incondicional e por sua fonte divina. 
Na vida real, os apóstolos competiam entre si, desentendiam-se, arreliavam. Amizade trepidante. Nem Jesus foi plenamente cristão, conforme se vê dos episódios da sua vida adulta narrados nos evangelhos. A instintiva preservação da vida, dos bens, da dignidade própria, leva os humanos a reagirem aos ataques. Ninguém oferece a outra face ao agressor (salvo por submissão, tortura ou covardia); nem tira a roupa e a dá a quem lhe pede (salvo sob ameaça de arma).  
Segundo os místicos, a tríade: Luz (inteligência) + Vida (movimento) + Amor (liga afetiva), é a chave do universo. Trata-se da energia cósmica tridimensional que está na raiz do mundo. O amor é a energia afetiva unificadora (i) de partículas em átomos (ii) de átomos em moléculas para consistência da matéria (iii) de moléculas em células para consistência dos seres vivos (iv) de seres vivos para coexistência, convívio e reprodução. 
Os humanos coexistem, mas, nem todos convivem. As diferenças de pensamento, de sentimento, de vontade, de interesse, de crença, de culto, tornam o convívio conturbado, infeliz, insuportável, ou, impossível. Por um lado, essas diferenças funcionam como barreiras à união das pessoas e, por outro lado, como causas da separação das pessoas que já estavam unidas. 
Segundo Augusto Comte, filósofo francês, a sociedade repousa no tripé: Amor (princípio) + Ordem (base) + Progresso (fim). Esse amor coincide com a amizade socrática ao significar laços afetivos entre as pessoas e também entre o povo e as instituições. A ruptura desses laços desagrega a sociedade, desestrutura o estado, enseja desordem e retrocesso. Esse amor é o “afeto que se encerra em nosso peito varonil... da amada pátria do Brasil”, nos versos do Hino à Bandeira.
Abençoar significa deitar bençãos sobre alguém, sobre alguma coisa ou sobre algum lugar. Bênção é ato de natureza religiosa e mística. Visa a proteção sobrenatural ou divina, invocada por alguém em benefício de outrem, de alguma coisa ou de algum lugar. No Brasil, principalmente nas grandes cidades, as bênçãos com ou sem o sinal da cruz, com ou sem a imposição das mãos, dadas pelos pais aos filhos, pelos avós aos netos, pelos amigos a terceiros, constituem antigo costume ora revogado pelo desuso. Continua em vigor a benção sacerdotal, porém, mais mecânica do que consagradora e protetora. Amigos abençoarem e receberem de braços abertos quem está em dificuldade (principalmente financeira) é pouco frequente. Na sociedade ocidental, a regra é “salve-se quem puder”. A perda de um ente querido ou de um bem valioso como a liberdade, a saúde, a moradia, o emprego, estimula a solidariedade. A ajuda mútua mais frequente ocorre entre os pobres. Iguais na miséria, nas dificuldades e na dor, solidarizam-se. Instituições públicas prestam assistência emocionalmente apática. 
Ao iniciar a jornada terrena, a criança nada sabe e seus amigos são: a mãe (quando não há infanticídio), o pai (quando não há abandono), os irmãos e parentes (quando não há indiferença), os médicos e enfermeiros (quando não há negligência). A criança e os que a cercam dependem dos bens produzidos pela sociedade. Nas respectivas camadas sociais, os grupos solidarizam-se conforme os seus sentimentos e/ou interesses. Prezam as instituições que os favoreçam. O interesse pela vida é a espinha dorsal da amizade que une os humanos. Liberdade, igualdade, fraternidade, utilidade, são vértebras dessa espinha juntamente com outros valores como: honestidade, verdade, justiça, bondade, santidade. A interdependência dos humanos é fenômeno natural e social gerado pela afetividade da energia cósmica (instinto gregário). 

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