sábado, 4 de junho de 2022

FUTEBOL

Seleção brasileira de futebol masculino. Copa do Mundo/2022. Catar, Emirados Árabes. Jogo amistoso contra a seleção da Coreia do Sul (02/06/2022). Vitória da seleção brasileira: 5x1. Do lado brasileiro, 2 gols de pênaltis e 3 de finalizações com a bola em movimento. Do lado coreano, 1 gol com a bola em movimento. 
No programa esportivo do canal ESPN de 02/06/2022, Neymar foi  incensado como herói e colocado ao lado de Pelé. O apresentador citou os 73 gols de Ney e os 77 gols de Pelé, pela seleção brasileira. Com os olhos arregalados, o apresentador exibia quatro dedos da mão esquerda e, como se anunciasse algo fantástico, disse que faltavam apenas 4 gols para Ney se igualar a Pelé. 
Cabotinagem no mundo esportivo. Pelé é visado por ser, ao lado de Garrincha, o maior jogador de futebol do mundo no século XX. Até hoje, jogador algum se igualou a esses dois jogadores brasileiros. Muitas são as tentativas da parte da imprensa esportiva brasileira e argentina de ofuscar esses dois gênios do futebol mundial. Como iguais ou superiores a esses dois brasileiros são citados os argentinos Di Stefano, Maradona e Messi, os portugueses Eusébio e Cristiano Ronaldo, os franceses Platini e Zidane e o inglês Beckham. Ouvidos, Messi, Zidane e Beckham rejeitaram expressamente a comparação. Maradona reconhecia os méritos daqueles dois brasileiros geniais e não escondia a sua admiração por Rivelino. A imprensa esportiva internacional reconhece a destacada posição de Pelé e Garrincha na história do futebol. A imprensa esportiva brasileira costuma comparar jogadores nacionais e estrangeiros. Movidos pelo sensacionalismo e pelo complexo de inferioridade decorrente da mentalidade colonizada, jornalistas esportivos brasileiros, sem critério adequado, sem considerar época, arte e técnica, comparam os jogadores. Parcela da população brasileira sofre desse complexo que o dramaturgo Nelson Rodrigues apelidara de complexo de vira-lata. Para essa gente, tudo o que se diz e o que se faz nos outros países é superior ao que se diz e ao que se faz no Brasil. 
Insuficiência de dados para o cálculo correto. A igualdade entre praticantes do mesmo esporte não se estabelece apenas pelo quantitativo da sua produção, mas, também, pelo qualitativo. Além da verificação nominal estática (no caso, o número de gols), a comparação exige também dados circunstanciais próprios da dinâmica do esporte (no caso, partidas jogadas, qualificação dos adversários, gols de bolas paradas ou resultantes das tramas coletivas, regularidade no bom desempenho). A  escolha dos dados para comparação há de ser racional e sensata a fim de se chegar à igualdade ou à desigualdade entre os jogadores comparados. O cálculo há de ser criterioso. Dados acidentais devem ser descartados como, por exemplo, afirmar que Ney fez mais gols do que Pelé (i) contra equipes que têm camisas azuis ou (ii) contra equipes que têm mais jogadores brancos ou (iii) contra equipes que têm jogadores com pênis volumosos ou (iv) contra equipes que admitem estupradores. Para que a opinião do apresentador do referido programa de TV e também de outros protagonistas da cena esportiva seja revestida de seriedade e honestidade perante o público, necessário seguir alguns procedimentos, tais como: [1] Verificar a quantidade de partidas que Pelé e Ney disputaram pela seleção brasileira e de gols que cada um deles finalizou. Com base nesses dados, obtém-se a média aritmética. Assim, por exemplo: Pelé: 77 gols em 10 partidas, média = 7,7; Ney: 77 gols em 20 partidas média = 3,8. Conclusão: objetivamente, segundo esse cálculo, a produtividade de Pelé na seleção brasileira foi maior do que a de Ney. [2] Verificar a qualidade das seleções adversárias. Exemplo: Jogando pela seleção brasileira, quantos gols Pelé marcou e quantos Ney marcou diante das seleções da Alemanha, Argentina, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália. Se Pelé marcou 50 gols e Ney 10, conclui-se que o craque mais novo não superou o mais antigo. [3] Verificar os gols resultantes da cobrança de pênaltis. Exemplo: Dos 77 gols de Pelé, 10 foram de pênaltis; dos 73 de Ney, 20 foram de pênaltis. Conclusão: o craque mais novo não superou o mais antigo em gols com a bola em movimento. [4] Verificar (i) os gols de cabeça, de chutes com o pé direito e com o esquerdo de cada um desses jogadores (ii) de quantas copas do mundo eles participaram e de quantas eles saíram vencedores. Exemplo: Pelé participou de 4 copas do mnndo, venceu 3, fez gols de cabeça e de chutes com os dois pés. Ney participou de 2 copas, nunca venceu, nem fez gol de cabeça. 
A comparação feita pelo apresentador do referido programa de TV peca pela insuficiência de dados e pela parcialidade. Mesmo com o peso do seu dinheiro, o milionário jogador não consegue igualar-se a Pelé e nem comprar a opinião de todo o mundo esportivo.

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