segunda-feira, 13 de junho de 2022

ELEIÇÕES 2022 - V

Considerada a totalidade do corpo eleitoral do Brasil (147 milhões de eleitores) verifica-se  que o atual presidente da república foi eleito por uma numerosa minoria (57 milhões de eleitores) e não pela também numerosa maioria (47 milhões que votaram no candidato da esquerda + 42 milhões que se abstiveram = 89 milhões de eleitores). Basta o cálculo aritmético para constatar a preferência do povo brasileiro pela forma democrática de governo. Povo brasileiro aqui entendido no estrito sentido jurídico: a parcela da população composta de mulheres e homens titulares dos direitos políticos (sufrágio universal, voto direto e secreto, alistamento eleitoral, elegibilidade) e não no amplo sentido sociológico de nação brasileira (comunidade indeterminada no tempo formada de pessoas com vínculos históricos, sentimentais e morais) e tampouco no sentido demográfico de população brasileira (quantidade de crianças, adolescentes, adultos, brasileiros e estrangeiros, residentes no país).
A citada preferência, já manifestada na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, vem sendo confirmada, desde então, nas sucessivas eleições municipais, estaduais e federais. No segundo turno das eleições de 2018, a maioria do povo brasileiro postou-se a favor da democracia, quer votando na esquerda, quer votando em branco. O vacilo ensejou vitória à extrema-direita. A vontade da maioria do povo brasileiro a favor da democracia merece respeito. Extremos do espectro político, a extrema-direita e a extrema-esquerda, autocráticas por natureza, são incompatíveis com a democracia desenhada pelo legislador constituinte brasileiro (1987-1988). As posições intermediárias aos dois extremos caracterizam a democracia nacional. No vigor do estado democrático de direito, ninguém pode ser ofendido, perseguido, preso, exilado ou morto, pelo fato de estar filiado a partido situado nesse espaço intermediário. Outrossim, em defesa da liberdade e da democracia, combater os extremistas da direita e da esquerda é necessário, justo e inadiável. Algures, o estadista irlandês John Philpot Curran (1750-1817) advertia: “A eterna vigilância é o preço da liberdade”. Nessa vigilância, os meios de comunicação social têm papel relevante. 
Nas repúblicas subdesenvolvidas da África e da América, a liberdade está presente no discurso e ausente na realidade social. O racional está sombreado pelo emocional, sufocado pelo medo e pela sensação de impotência, enganado pelo ilusório, minado pelo preconceito, pela leviandade, pela ignorância, enfim, pelas características negativas da pessoa natural. Aquela numerosa minoria vencedora da eleição presidencial de 2018 deu prova da costumeira irracionalidade dos eleitores. A massiva desinformação veiculada pelas redes sociais naquela ocasião contribuiu para (i) a vitória do candidato da extrema-direita (ii) reintroduzir o nazifascismo no governo do Brasil. Na sociedade civil brasileira, o nazifascismo foi introduzido na década de 1930. Ocupou o governo do estado até 1945. Depois, em 1964 até 1985. Por último, em 2019 até 2022. 
No segundo turno das eleições de 2018, o candidato à presidência da república mais qualificado do ponto de vista moral, intelectual, cultural e profissional (o petista Haddad) perdeu para o candidato menos qualificado (o nazifascista Bolsonaro). O candidato vitorioso, imprestável para servir como oficial do exército [tenente afastado compulsoriamente com a patente de capitão] foi guindado, pelo voto da numerosa minoria do corpo eleitoral, ao posto máximo da hierarquia militar: comandante supremo das forças armadas. O Brasil passou a ser governado por um dejeto do exército. Moralmente, o exército ficou acima do presidente eleito. Poeticamente, o novo presidente saiu do ânus da tropa. 
O presidente eleito foge do trabalho como o diabo foge da cruz. Preguiçoso, prefere o divertimento, o desfrute das benesses do poder. Faz turismo oficial interno e internacional. Exibe-se em desfiles de motocicletas. Excede-se nos gastos com o cartão corporativo (dinheiro do tesouro nacional). Enaltece a ditadura e o torturador. Vê com naturalidade e frieza o sofrimento e a morte de seres humanos. Debocha das vítimas da pandemia. Presta continência a bandeira de estado estrangeiro. Menospreza as instituições democráticas da sua pátria. Ataca a magistratura. Tenta desmoralizar o processo eleitoral ao levantar dúvida descabida sobre a segurança das urnas eletrônicas. Predispõe-se a tumultuar as eleições na certeza de que as perderá. Por ação e omissão, facilita a exploração ilegal da Amazônia, o extermínio dos indígenas e a degradação do meio ambiente. Chama seus desafetos para a briga corporal como se fosse moleque de rua. Mentiroso compulsivo, amoral, desprovido de bons sentimentos, deficiente intelectual e cultural, grosseiro, corrupto, despreparado para o cargo, ele tem sido uma desgraça para os negócios de estado, para o bem-estar da população e para a imagem do Brasil. A probabilidade desse presidente obter a mesma votação de 2018 é mui remota. Da parte maior daqueles 57 milhões de eleitores, quem não se abstiver, migrará para a terceira via ou palmilhará a primeira via pavimentada pelo concerto dos partidos da esquerda e da direita liberal democrática. A segunda via, vereda sombria da extrema-direita, terá menos prosélitos. Aproxima-se do final o mais vergonhoso capítulo da história republicana do Brasil (2014-2022).


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