domingo, 16 de janeiro de 2022

POLÍTICA & JORNALISMO

Certa vez, perguntado por uma repórter porque ele “só pensava em política”, Leonel Brizola, político inteligente, experiente, hábil nas entrevistas, respondeu sem responder, como sempre fazia diante de perguntas impertinentes. Ele aproveitava o ensejo da pergunta para falar sobre outro assunto que entendia mais oportuno e conveniente. 
A repórter certamente não aprendera o significado de política, pois, do contrário, saberia que se dedicar “só” à política não é pouca coisa e tem relevância social. Desde a Grécia antiga (500 a.C.) política significa arte de governar a cidade (polis). O conteúdo dessa arte na época contemporânea é mais extenso do que na Antiguidade. Implica elevado grau de complexidade nas relações nacionais (internas) e nas relações internacionais (externas), problemas e busca de soluções nessas duas dimensões da vida de uma nação e da vida de um estado.    
Internamente, a arte de governar o estado tem por finalidade geral o bem comum e por finalidade especial (i) o bem-estar da população (ii) a segurança dos cidadãos, da sociedade e do estado (iii) o desenvolvimento econômico e social em amplitude pública e privada (iv) o essencial reconhecimento da dignidade da pessoa humana (v) a materialização dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade (vi) a eficácia dos direitos humanos. 
Conforme a conjuntura nacional e internacional, cada governo programa a sua ação e estabelece as suas prioridades em sintonia com aqueles valores e objetivos fundamentais. Entretanto, há governantes que adotam políticas governamentais divorciadas desses valores e objetivos, seguem sua própria vontade, suas próprias ideias e buscam realizar particulares interesses, seus e/ou do grupo a que pertencem. Esse tipo de governante faz da sua vontade pessoal, vontade geral; do seu interesse particular, interesse público; do privilégio, direito.
Externamente, a arte de governar compreende (i) a defesa da independência do estado no âmbito da comunidade internacional (ii) relações pacíficas de cooperação entre os povos, sem intervencionismo (iii) respeito à autodeterminação das nações e à igualdade entre os estados. No plano dos fatos, há governos de estados com pretensões hegemônicas e ações imperialistas que violam regras da ética e do direito internacional e buscam a satisfação dos seus interesses econômicos e estratégicos mediante astúcia diplomática, persuasão por seu potencial bélico ou uso efetivo das armas.  
Desde o século XIX, na Europa e na América, o jornalismo se constituiu em moderno, importante e poderoso meio de comunicação e expressão de ideias, de formação de opinião, de propaganda, de publicação de notícias, de vulgarização do conhecimento científico e tecnológico. De modo explícito ou camuflado, donos de empresas jornalísticas e jornalistas profissionais associam-se ao poder econômico e tomam partido nas disputas políticas. A independência e a confiabilidade da profissão jornalística, se um dia existiu, há muito tempo deixou de existir. No terreno das comunicações, século XX, o jornal impresso passou a sofrer concorrência da radiodifusão e da televisão. Todos esses veículos serviram – e ainda servem, juntamente com a rede de computadores – de instrumento para doutrinação e propaganda liminar e subliminar, de natureza política e comercial, além do serviço que prestam na divulgação artística, científica, filosófica, ideológica, religiosa, cultural. Desabrido engajamento político partidário, ideológico e religioso nos dias atuais.  
Assalariados ou livres de patrões, jornalistas valem-se de expedientes honestos e desonestos, de mistificação, manipulação, notícias falsas, escamoteamento da verdade, a fim de (i) apoiar ou combater governos (ii) contestar ou enaltecer ações da autoridade pública (iii) defender candidatura de político a cargo eletivo e atacar o seu adversário. No âmbito internacional, a cobertura do conflito no Golfo Pérsico pela CNN tornou-se o símbolo do jornalismo falso, tendencioso e desonesto. No âmbito nacional, a cobertura da operação lava-jato pela Globo tornou-se o símbolo do jornalismo falso, tendencioso, desonesto e politiqueiro. No conflito do Golfo, houve morte de pessoas inocentes. Na operação lava-jato houve prisão e sequestro de bens de pessoas inocentes.
A repórter que interpelou Brizola, se ainda estiver viva e amadurecida pelo tempo, saberá que alguém se preocupar “só” com política já é muita coisa. Saberá, ainda, que ao fazerem certas perguntas, os jornalistas revelam implicitamente seus próprios pensamentos, sentimentos e intenções. No citado episódio, por exemplo, a repórter se revelou adepta da direita, fiel ao seu patrão e contrária ao socialismo democrático do entrevistado. O tom da pergunta, inclusive, era de censura. Imparcialidade zero.   

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