sábado, 20 de abril de 2019

PÁSCOA

A páscoa é o coroamento da semana santa. De origem hebraica, esse palavra significa passagem, alusão ao êxodo comandado por Moisés, ou seja, a saída do povo hebreu do Egito com destino à “terra prometida”. Com essa palavra, os cristãos comemoram a ressurreição de Jesus, o Cristo, todos os anos, entre os dias 22 de março e 25 de abril, conforme decisão do Concílio de Niceia (ano 325). Sob ângulo histórico e doutrinário, páscoa também significa passagem do judaísmo ao cristianismo, nascimento da religião cristã, conversão de judeus e pagãos à nova religião.
No domingo de ramos, sétimo dia anterior ao domingo de páscoa, comemora-se a triunfal entrada de Jesus em Jerusalém, como líder popular e profeta carismático.
No sexto dia anterior ao domingo de páscoa, comemora-se a unção de Jesus em Betânia. Naquela ocasião, Judas Iscariotes, tesoureiro da irmandade, apoiado por outros discípulos ali reunidos, admoestou a mulher que untava o mestre com bálsamo de alto preço. Judas e seus apoiadores alegaram desperdício de dinheiro. Jesus defendeu a mulher. Há discrepância entre os evangelhos, porém, o fato de dispor do bálsamo indica que a mulher integrava o grupo como apóstola ou como simples seguidora de Jesus.
No quinto dia anterior ao domingo de páscoa é lembrado o anúncio feito por Jesus de que ele seria traído por um dos apóstolos. Jesus ocultou da assembleia – cuja maioria era ignorante e analfabeta – o trato sobre o episódio da traição que antes fizera com Judas Iscariotes, apóstolo presumivelmente letrado e inteligente. Os dois pretendiam encenar a profecia do Antigo Testamento sobre o sofrimento e a morte do messias.
No quarto dia anterior ao domingo de páscoa é lembrado o pacto entre Judas e os escribas e sacerdotes judeus visando a prisão de Jesus. A fim de convencê-los do local onde Jesus estava e, assim, garantir o sucesso da prisão e desdobramentos, Judas aceitou as 30 moedas oferecidas como recompensa. Depois, jogou-as fora.   
No terceiro dia anterior ao domingo de páscoa (quinta-feira) é lembrada a última ceia, quando Jesus reparte o pão, visto como seu corpo, e passa a taça de vinho, visto como seu sangue, ordenando que, em sua memória, esse ritual fosse repetido para sempre. A isto, a Igreja denomina eucaristia, conceito que implica as ideias de sacrifício (missa) e de sacramento (comunhão). Para dar exemplo de humildade a ser seguido, Jesus lavou os pés dos apóstolos naquela ocasião.
Nas culturas antigas, pessoas eram sacrificadas em ritual para agradar a divindade. O deus hebreu (Javé) dispensou o patriarca Abraão de imolar o filho Isaac. Depois disto, a vítima humana foi substituída por cordeiro. A Igreja cristã rejeitou a matança de cordeiros e criou a imagem de Jesus como o “cordeiro de deus” sacrificado para tirar os pecados do mundo. Na missa, a hóstia simboliza o corpo e o sangue de Jesus.
O segundo dia anterior ao domingo de páscoa (sexta-feira) refere-se aos padecimentos de Jesus. As apóstolas, as seguidoras e a mãe de Jesus, tudo presenciaram. Os apóstolos fugiram e se esconderam. As mulheres receberam o corpo retirado da cruz, limparam-no, besuntaram-no, cobriram-no e o colocaram no sepulcro adquirido por José de Arimateia, homem rico, simpatizante da obra e dos ensinamentos de Jesus.       
O primeiro dia anterior ao domingo de páscoa (sábado) refere-se à vigília pascal, período em que Jesus permaneceu no sepulcro. Arimateia, dono do sepulcro, cuidou da entrada e da saída. Os soldados romanos quebraram as pernas dos dois crucificados para que morressem antes do sábado, mas pouparam as de Jesus que, ainda vivo, porém desmaiado, foi retirado da cruz e colocado no sepulcro como se morto estivesse. Ali recuperou as forças e dali saiu ajudado por Arimateia.
No domingo de páscoa comemora-se a ressurreição de Jesus. Ao chegar pela manhã, a apóstola Maria Madalena encontrou o sepulcro vazio. Do lado de fora, Jesus apareceu e pediu a ela que fosse avisar os outros apóstolos. Avisado, Pedro tomou coragem, foi verificar e confirmou a notícia dada por Madalena. Enquanto isto, Jesus seguiu em direção à aldeia Emaús. No caminho, ele encontrou dois homens, com eles dialogou e na casa deles se hospedou. Depois, reuniu-se com os apóstolos, conversou, alimentou-se e para provar que estava vivo em carne e osso, exibiu as marcas no corpo, inclusive ao seu irmão gêmeo, o cético apóstolo Tomé.
Jesus retorna à Galileia, multiplica pães e peixes, abarrota a rede dos pescadores. Ao notar competição entre os apóstolos, dita-lhes novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amo. No começo da sua pregação, Jesus havia assim resumido os 10 mandamentos de Moisés: (1) amar a deus (2) amar ao próximo como si mesmo (ou como a si mesmo). Atribuiu tarefas aos apóstolos e lhes deu as últimas instruções. Depois, na presença deles, subiu aos céus de corpo inteiro, sem veículo algum, sem qualquer aparelho, passa pela Lua sem se congelar e pelo Sol sem se queimar.   
À luz da razão e das leis da natureza, falta veracidade não só à ressurreição, mas, também, de um modo geral, às escrituras dos judeus e cristãos. Assim, por exemplo, as leis da Física invalidam a versão bíblica da ascensão de Elias e de Jesus aos céus. Há quem sustente que o palestino galileu (Jesus) só existiu como personagem de ficção literária religiosa. Dos textos bíblicos, não há um só documento original. Há cópias, falsificações, mentiras, apologias, fantasias, espertezas. A partir do século II, os textos que formaram o Novo Testamento eram cópias de cópias de outras cópias, todas manuscritas. Só bem mais tarde foi inventada a imprensa (1455). Até a Idade Média, inclusive, a maioria dos copistas era constituída de monges. Trabalhavam no silêncio da biblioteca dos seus monastérios. A cada cópia, inevitável a intervenção do copista e/ou do superior hierárquico. Houve acréscimos e supressões, ora acidentais, ora intencionais. O mesmo se diga das inúmeras traduções de traduções de outras traduções (do aramaico para o grego, do grego para o latim, do latim para os diversos idiomas nacionais). A verdade original perdeu-se para sempre nas brumas do passado. 
Da análise lógica, histórica e sociológica dos evangelhos extrai-se a evidência de que: (i) a perseguição, prisão e crucifixão de Jesus teve, da parte dos escribas e sacerdotes judeus, motivação econômica e política (ii) Jesus não morreu na cruz, portanto, não ressuscitou, posto ser a morte o pressuposto da ressurreição.
Os médicos, atualmente, ressuscitam pacientes mediante descargas elétricas no coração. Jesus e apóstolos usavam apenas a palavra mágica imperativa: levanta-te. O espírito santo fazia o resto. Depois deles, a ressurreição saiu de moda. Hoje, no Brasil, alguns homens incorporam o espírito santo para curar mulheres mediante passes e contatos físicos sensuais. Os sacerdotes manifestam preferência por meninos, quiçá por interpretarem de modo literal um tanto peculiar a frase que Marcos atribuí ao profeta: “Deixai vir a mim os pequeninos”.

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