A palavra nazista deriva de nazi, abreviatura de Nacional
Socialista, nome do partido alemão de direita que se contrapõe a sozi, abreviatura de Socialista, nome do partido alemão de
esquerda, na primeira metade do século XX. A palavra nazista também é utilizada como xingamento. Nazista é o adepto do nazismo, seja indivíduo, grupo ou partido
político. Caracteriza-se pela aversão ao marxismo, à democracia e às raças
não-arianas. Ódio, intolerância e violência prevalecem na conduta dos nazistas.
Nazismo é exercício autocrático do poder político por uma elite civil/militar
que acumula funções legislativa e executiva, supressor da oposição, instaurador
de um regime racista de tendência totalitária e de caráter nacionalista,
idealista e romântico [predomínio da vontade e do sentimento sobre a razão],
sustentado pelo capital financeiro e estribado na força e na censura.
O nazismo tem as seguintes características que o
diferem do fascismo italiano: (1) superioridade racial como fundamento; (2)
valorização do camponês, considerado o portador das altas qualidades
germânicas; (3) misticismo e pretensão messiânica; (4) menosprezo aos judeus
por não serem alemães e nem arianos e sim uma comunidade fechada de semitas determinada
pelo sangue. Por haver martirizado Jesus, o Cristo, o povo judeu era repudiado
pelo povo cristão e de modo exacerbado pelos nazistas. Entretanto, se não fosse
o martírio não haveria “ressurreição”, nem cristianismo; haveria isto sim, uma
pequena seita, entre outras, pulverizada na areia do tempo.
Sangue e solo eram as chaves da ideologia nazista. O corporativismo italiano
não vingou na Alemanha. No Reichstag (Parlamento) havia representação política
(por distritos) e não representação econômica (por sindicatos). O nazismo incentivava
o fanatismo; assemelhava-se à religião por seu dogmatismo, ritualismo,
expansionismo e pela cruz gamada (suástica) símbolo místico do culto à pátria (círculo
externo) e da irmandade secreta (círculo interno).
Após a derrota na guerra
(1914/1918), instalou-se o caos na Alemanha. Caíram o imperador e a monarquia.
Instaurou-se a república, cuja Constituição resultou do consenso entre os
chefes dos partidos socialista, centrista e liberal, em torno dos seguintes
preceitos: sufrágio universal, representação proporcional, governo de gabinete,
direitos à liberdade, à segurança, à propriedade, ao emprego, à educação, à
proteção do trabalhador e da família contra os riscos da economia industrial
(1919).
Entre os fatores da gestação
e do crescimento do nazismo contam-se: (I) a inconformidade com a Constituição
de Weimar; a idílica vivência com o governo monárquico dificultava a confiança
dos alemães no governo democrático; a ordem constitucional republicana refletia mais o
espírito estrangeiro do que o espírito germânico; (II) o caos na sociedade
alemã gerado pela severidade do Tratado de Versalhes; em assuntos externos, a
Alemanha perdeu autonomia; internamente, havia tensão nas camadas sociais e
perplexidade no corpo eleitoral; a moeda alemã se desvalorizou ante a
desenfreada e colossal inflação de 1923; ruína geral do setor privado;
oportunismo de especuladores (principalmente judeus).
A reação do Estado alemão às condições humilhantes em
que fora lançado pelos vencedores da primeira guerra mundial correspondeu à sua
tradição guerreira cujo símbolo era o exército. Sair da humilhação e exibir
grandeza e orgulho nacional era ponto de honra. O governo alemão resolveu
ignorar as cláusulas restritivas do Tratado de Versalhes: aumentou o efetivo do
exército, restabeleceu a força aérea, a frota de tanques, navios e submarinos e
incrementou a produção de material bélico.
O movimento nazista teve início em uma cervejaria de
Munique (Baviera, 1919), onde o ferroviário Anton Drexler e seis companheiros,
entre um caneco e outro, fundaram o Partido
Operário Alemão com etílica e pretensiosa plataforma: (1) rejeitar o Tratado
de Versalhes; (2) extinguir o sistema parlamentar; (3) fortalecer o poder
central; (4) confiscar lucros de guerra; (5) nacionalizar os trustes; (6)
distribuir os lucros das grandes indústrias; (7) dividir as grandes casas de
comércio em pequenas unidades de vendas a retalho; (8) proibir especulação
imobiliária; (9) vedar obtenção de renda sem trabalho; (10) punir a usura com
pena de morte; (11) cassar a cidadania dos judeus; (12) aumentar os benefícios
aos necessitados.
Adolfo Hitler comparecia às reuniões do grupo na
cervejaria como espião militar. No entanto, acabou por aderir ao novo partido e
se desligar do exército onde obtivera a graduação de cabo e fora condecorado com
a cruz de ferro por bravura na primeira guerra mundial. Artista obscuro
(pintor), sem formação acadêmica, Adolfo acreditava na superioridade da raça
ariana e nos políticos racistas de Viena. Responsável pela propaganda, ele muda
o nome da agremiação para Partido
Operário Alemão Nacional-Socialista, vulgarizado como nazi (1920).
Os comunistas hostilizaram a social democracia. O fascismo e a social democracia são irmãos
gêmeos, dizia Stalin. Isto favoreceu o avanço do nazismo. Inicialmente, o
movimento nazista contou com parcela da classe média, antigos oficiais do
exército, pequenos fazendeiros, estudantes universitários e trabalhadores desempregados.
No contexto social e econômico do período de 1920 a 1940, o povo alemão
ansiava mais por segurança do que por liberdade. Ante o crescimento do partido
comunista e da sua influência no Parlamento, a burguesia reagiu. O nazismo
ganhou impulso na grande depressão alemã a partir do colapso da Bolsa de NY em
1929. O pequeno partido nazi crescera
e se fortalecera no curso dos 10 anos seguintes à sua singela fundação e,
agora, pleiteava para Adolfo, o cargo de Chanceler (1932). Vigorava o sistema
parlamentar: o Presidente da República era Chefe de Estado e o Chanceler era
Chefe de Governo. O Chanceler dependia da confiança do Parlamento e nenhum conseguia
maioria. Então, industriais e banqueiros exigiram a chancelaria para Adolfo
(1933). O Presidente Hindenburg cedeu e nomeou Adolfo.
Graças ao resultado do plebiscito realizado depois da
morte do Presidente (1934), Adolfo assumiu a Chefia do Estado e do Governo (führer und reichskanzler) apoiado no
voto popular. O nacionalismo adquiriu força total. O direito devia espelhar o
espírito do povo alemão (volksgeist).
Adolfo suprimiu a união dos trabalhadores, perseguiu os comunistas, dissolveu o
Parlamento, convocou novas eleições e obteve aumento de cadeiras para o seu
partido. Mediante aliança partidária, formou maioria no Parlamento que lhe concede
plenos poderes. Nessa ditadura eletiva para vencer crise conjuntural, Adolfo
encarna o volksgeist e personaliza o poder e o direito.
A bandeira do partido nazi substitui a da república. A nova Alemanha, III Reich sucessor
dos impérios dos Hohenstaufen e Hohenzollern, se propôs a: (1) purificar a
sociedade mediante a exclusão ou eliminação dos judeus, ciganos, negros e
outros elementos estranhos à raça ariana; (2) condicionar a mente e o coração
do povo ao regime nazista; (3) relegar ao segundo plano a lealdade à família, à
classe e à religião; (4) enfrentar qualquer nação que oferecesse resistência à sua
expansão; (5) esmagar o inimigo sem concessões, com raiva, bravura e heroísmo;
(6) vingar a humilhação sofrida em 1919, na assinatura do Tratado de Versalhes.
Esse ideário e esses
propósitos encontravam mínima resistência interna. O regime nazista era
imensamente popular e o uso que fazia dos recursos nacionais não era
questionado. A Alemanha gastava com armamento mais do que os outros países
europeus e se tornou uma potência militar e econômica. O êxito estrondoso
arrebatou de Adolfo a sensatez e a lucidez essenciais a um estadista. Ele
provoca uma guerra mundial terrível. O povo alemão sabia da existência dos
campos de concentração, dos comboios ferroviários conduzindo prisioneiros e dos
fornos crematórios, conforme atesta a mensagem com fotografias do campo de
Buchenwald enviada à revista Vogue pela
jornalista Lee Miller: Não há dúvida de
que civis alemães sabiam o que acontecia. O desvio da ferrovia para o campo de
Dachau passa próximo às casas com trens de deportados mortos ou semimortos.
Espero que a Vogue sinta que pode publicar essas fotografias. (Francine
Prose em “A Vida das Musas”. Rio, Nova Fronteira, 2004, p.324 + Antonio
Sebastião de Lima em: (I) “Poder Constituinte e Constituição”. Rio, Plurarte,
1983, p.109/110, nota 2b; (II) “Teoria do Estado e da Constituição”. Rio,
Freitas Bastos, 1998, p.88).
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