sábado, 18 de maio de 2013

AMIZADE



Amizade, ligação afetiva entre pessoas, expressão do amor universal condicionada no tempo, cessa com a morte. Permanece a  lembrança. Em vida, a amizade pode se esvair por cortes nas artérias sociais e psicológicas. Ascensão ou declínio social pode gerar novas amizades e arrefecer as antigas. A inveja, a falsidade, o rancor, são agentes corrosivos da amizade. Entretanto, o reconhecimento de virtudes no invejoso, no hipócrita, no rancoroso, pode manter a relação amigável no limite do suportável.

A simpatia, a dedicação, o espontâneo respeito, são formas de amor que ensejam laços de amizade. O amor é a força afetiva fundamental do universo. Manifesta-se de vários modos: coesão das partículas; atração dos corpos; união dos membros da família, da tribo, da cidade, da nação; zelo pela natureza, pela sociedade, pelo bem próprio e pelo bem alheio; apreço pelos valores morais e religiosos; devoção a Deus.  

Charles de Gaulle e Harry Truman, quiçá influenciados pelo clima da segunda guerra mundial, afirmavam que entre nações não há amizade e sim interesses. O interesse econômico pode gerar tanto a amizade como a inimizade. A ganância propicia conflitos. Com a política externa de Truman (1945 a 1953) começa a guerra contra o comunismo em todo o orbe. Se tribos e nações travam guerras, também celebram acordos e coexistem pacificamente. O interesse pode aproximar os povos, inaugurar ou fortalecer amizades. Chefes de Estado apertam as mãos uns dos outros. Flores são colocadas pelo representante da nação visitante em monumento da nação visitada. As nações se confraternizam nos torneios esportivos mundiais.   

A inimizade pode resultar das diferenças que se reputam inconciliáveis nas crenças religiosas, nas ideologias políticas, nos valores morais, nas visões de mundo. A ruptura da amizade pode ocorrer por motivos diversos: crítica destrutiva, comentário desairoso, ofensa imperdoável, humilhação, atitude preconceituosa, vício adquirido e assim por diante. A amizade esmaece com a distância, com a falta de reciprocidade, com a negligência na dedicação e no respeito. As imagens da juventude cristalizadas em nossas retinas causam surpresas na maturidade. A casa de nossa infância não é tão grande como a víamos; os nossos pais e parentes não são tão altos e fortes como pareciam; os nossos amigos não são tão atenciosos e afetuosos como os sentíamos; as antigas namoradas se mostram indiferentes, irreconhecíveis, algumas curtindo os netos, outras se dedicando à arte, ao comércio, ao turismo, ao computador. Como o suave sopro reaviva a brasa encoberta pela cinza, assim também um toque delicado e atencioso desperta a amizade adormecida.

No pequeno e primoroso livro “Longe é um lugar que não existe”, o autor, Richard Bach, faz o beija-flor perguntar ao personagem narrador (não identificado no texto): “Podem os quilômetros separar-nos realmente dos amigos? Se quer estar com Rae já não está lá”? O personagem narrador viajava no coração do beija-flor a caminho da festa de aniversário da pequena Rae (personagem misteriosa, também não identificada). Bach se referia à dimensão espiritual da vida. Estamos onde estiver o nosso pensamento.

Como diz a canção de Lupicínio Rodrigues: o pensamento parece coisa à toa/mas como a gente voa/ quando começa a pensar.

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