Amizade,
ligação afetiva entre pessoas, expressão do amor universal condicionada no
tempo, cessa com a morte. Permanece a lembrança. Em vida, a amizade pode se esvair
por cortes nas artérias sociais e psicológicas. Ascensão ou declínio social
pode gerar novas amizades e arrefecer as antigas. A inveja, a falsidade, o
rancor, são agentes corrosivos da amizade. Entretanto, o reconhecimento de
virtudes no invejoso, no hipócrita, no rancoroso, pode manter a relação
amigável no limite do suportável.
A
simpatia, a dedicação, o espontâneo respeito, são formas de amor que ensejam
laços de amizade. O amor é a força afetiva fundamental do universo. Manifesta-se
de vários modos: coesão das partículas; atração dos corpos; união dos membros
da família, da tribo, da cidade, da nação; zelo pela natureza, pela sociedade,
pelo bem próprio e pelo bem alheio; apreço pelos valores morais e religiosos;
devoção a Deus.
Charles
de Gaulle e Harry Truman, quiçá influenciados pelo clima da segunda guerra mundial,
afirmavam que entre nações não há amizade e sim interesses. O interesse
econômico pode gerar tanto a amizade como a inimizade. A ganância propicia
conflitos. Com a política externa de Truman (1945 a 1953) começa a guerra
contra o comunismo em todo o orbe. Se tribos e nações travam guerras, também
celebram acordos e coexistem pacificamente. O interesse pode aproximar os
povos, inaugurar ou fortalecer amizades. Chefes de Estado apertam as mãos uns
dos outros. Flores são colocadas pelo representante da nação visitante em
monumento da nação visitada. As nações se confraternizam nos torneios
esportivos mundiais.
A
inimizade pode resultar das diferenças que se reputam inconciliáveis nas
crenças religiosas, nas ideologias políticas, nos valores morais, nas visões de
mundo. A ruptura da amizade pode ocorrer por motivos diversos: crítica
destrutiva, comentário desairoso, ofensa imperdoável, humilhação, atitude
preconceituosa, vício adquirido e assim por diante. A amizade esmaece com a
distância, com a falta de reciprocidade, com a negligência na dedicação e no
respeito. As imagens da juventude cristalizadas em nossas retinas causam
surpresas na maturidade. A casa de nossa infância não é tão grande como a
víamos; os nossos pais e parentes não são tão altos e fortes como pareciam; os
nossos amigos não são tão atenciosos e afetuosos como os sentíamos; as antigas
namoradas se mostram indiferentes, irreconhecíveis, algumas curtindo os netos,
outras se dedicando à arte, ao comércio, ao turismo, ao computador. Como o
suave sopro reaviva a brasa encoberta pela cinza, assim também um toque
delicado e atencioso desperta a amizade adormecida.
No
pequeno e primoroso livro “Longe é um lugar que não existe”, o autor, Richard
Bach, faz o beija-flor perguntar ao personagem narrador (não identificado no
texto): “Podem os quilômetros separar-nos realmente dos amigos? Se quer estar
com Rae já não está lá”? O personagem narrador viajava no coração do beija-flor
a caminho da festa de aniversário da pequena Rae (personagem misteriosa, também
não identificada). Bach se referia à dimensão espiritual da vida. Estamos onde
estiver o nosso pensamento.
Como
diz a canção de Lupicínio Rodrigues: o
pensamento parece coisa à toa/mas como a gente voa/ quando começa a pensar.
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