sábado, 9 de fevereiro de 2013

POESIA



Tu me queres alva / me queres de espuma / me queres de nácar / que seja açucena / mais casta que todas. / De perfume suave / corola fechada. / Nem raio de lua / filtrado me toque. / Nem a margarida / seja minha irmã. / Tu me queres nívea / tu me queres branca / tu me queres casta.
Tu, que as taças todas / já tiveste à mão. / Os lábios corados / de frutos e mel. / Tu, que no banquete / coberto de pâmpanos / as carnes gastaste / festejando a Baco. / Tu, que nos jardins / escuros do engano / lascivo e vermelho / correste no abismo.
Ó tu, que o esqueleto / não sei por que graça / ou por que milagre / conservas intacto / só me queres branca / (que Deus te perdoe!) / só me queres casta / (que Deus te perdoe!) / só me queres alva.
Foge para o bosque / vai para a montanha. / Purifica a boca / vive na humildade. / Segura com as mãos / a terra orvalhada. / Alimenta o corpo / de raiz amarga. / Bebe a água das rochas / dorme sobre a geada / renova os tecidos / com salitre e água. / Conversa com os pássaros / lava-te na aurora.
E já quando as carnes / ao corpo te voltem / e quando hajas posto / nas carnes a alma / que pelas alcovas ficou enredada / então – homem puro – / pretende-me nívea / pretende-me branca / pretende-me casta.
(“Tu me queres casta”. Alfonsina Storni. Trad. Oswaldo Orico).

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