Nos meus cadernos de escola,
nesta carteira, nas árvores, nas areias e na neve /
Escrevo teu nome.
Em toda página lida, em toda
página branca, pedra, sangue, papel, cinza /
Escrevo teu nome.
Nas imagens redouradas, na
armadura dos guerreiros e na coroa dos reis /
Escrevo teu nome.
Nos jungles e no deserto, nos
ninhos e nas giestas, no céu da minha infância /
Escrevo teu nome.
Nas maravilhas das noites, no pão
branco da alvorada, nas estações enlaçadas /
Escrevo teu nome.
Nos meus farrapos de azul, no
tanque sol que mofou, no lago lua vivendo /
Escrevo teu nome.
Nas campinas, no horizonte, nas
asas dos passarinhos e no moinho das sombras /
Escreve teu nome.
Em cada sopro da aurora, na água
do mar, nos navios, na serrania demente /
Escrevo teu nome.
Até na espuma das nuvens, no suor
das tempestades, na chuva insípida e espessa /
Escrevo teu nome.
Nas formas resplandecentes, nos
sinos das sete cores e na física verdade /
Escrevo teu nome.
Nas veredas acordadas e nos
caminhos abertos, nas praças que regurgitam /
Escrevo teu nome.
Na lâmpada que se acende, na
lâmpada que se apaga, em minhas casas reunidas /
Escrevo teu nome.
Em meu cão guloso e meigo, em
suas orelhas fitas, em sua pata canhestra /
Escrevo teu nome.
No trampolim desta porta, nos
objetos familiares, na língua do fogo puro /
Escrevo teu nome.
Em toda carne possuída, na fronte
de meus amigos, em cada mão que se estende /
Escrevo teu nome.
Na vidraça das surpresas, nos
lábios que estão atentos, bem acima do silêncio /
Escrevo teu nome.
Em meus refúgios destruídos, em
meus faróis desabados, nas paredes do meu tédio /
Escrevo teu nome.
Na ausência sem mais desejos, na
solidão despojada e nas escadas da morte /
Escrevo teu nome.
Na saúde recobrada, no perigo
dissipado, na esperança sem memórias /
Escrevo teu nome.
E ao poder de uma palavra,
recomeço minha vida, nasci para te conhecer /
E te chamar liberdade.
(“Um Único Pensamento”. Paul Éluard. Trad. Manuel
Bandeira e Carlos Drumond de Andrade).
Nenhum comentário:
Postar um comentário