sábado, 16 de fevereiro de 2013

POESIA



Nos meus cadernos de escola, nesta carteira, nas árvores, nas areias e na neve /
Escrevo teu nome.
Em toda página lida, em toda página branca, pedra, sangue, papel, cinza /
Escrevo teu nome.
Nas imagens redouradas, na armadura dos guerreiros e na coroa dos reis /
Escrevo teu nome.
Nos jungles e no deserto, nos ninhos e nas giestas, no céu da minha infância /
Escrevo teu nome.
Nas maravilhas das noites, no pão branco da alvorada, nas estações enlaçadas /
Escrevo teu nome.
Nos meus farrapos de azul, no tanque sol que mofou, no lago lua vivendo /
Escrevo teu nome.
Nas campinas, no horizonte, nas asas dos passarinhos e no moinho das sombras /
Escreve teu nome.
Em cada sopro da aurora, na água do mar, nos navios, na serrania demente /
Escrevo teu nome.
Até na espuma das nuvens, no suor das tempestades, na chuva insípida e espessa /
Escrevo teu nome.
Nas formas resplandecentes, nos sinos das sete cores e na física verdade /
Escrevo teu nome.
Nas veredas acordadas e nos caminhos abertos, nas praças que regurgitam /
Escrevo teu nome.
Na lâmpada que se acende, na lâmpada que se apaga, em minhas casas reunidas /
Escrevo teu nome.
Em meu cão guloso e meigo, em suas orelhas fitas, em sua pata canhestra /
Escrevo teu nome.
No trampolim desta porta, nos objetos familiares, na língua do fogo puro /
Escrevo teu nome.
Em toda carne possuída, na fronte de meus amigos, em cada mão que se estende /
Escrevo teu nome.
Na vidraça das surpresas, nos lábios que estão atentos, bem acima do silêncio /
Escrevo teu nome.
Em meus refúgios destruídos, em meus faróis desabados, nas paredes do meu tédio /
Escrevo teu nome.
Na ausência sem mais desejos, na solidão despojada e nas escadas da morte /
Escrevo teu nome.
Na saúde recobrada, no perigo dissipado, na esperança sem memórias /
Escrevo teu nome.
E ao poder de uma palavra, recomeço minha vida, nasci para te conhecer /
E te chamar liberdade.
(“Um Único Pensamento”. Paul Éluard. Trad. Manuel Bandeira e Carlos Drumond de Andrade).

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