domingo, 20 de janeiro de 2013

SENTENÇA E SEGURANÇA



Segurança é um bem essencial estimado individual e coletivamente. Pessoas, grupos, nações, aspiram ficar livres de inquietações, de perigos e de infortúnios. A necessidade desse bem acompanha os seres humanos desde sempre, quando viviam em grupos e se protegiam uns dos outros porque eram agressivos e belicosos (como ainda hoje o são). Protegiam-se também dos animais irracionais e domesticavam alguns. Com finalidade ofensiva e defensiva os humanos primitivos se abrigavam em cavernas, acendiam fogueiras e se equipavam com armas rudimentares de pau e pedra. Abandonada a vida nômade, cercavam os assentamentos com paliçada e outros cuidados contra assaltos de animais racionais e irracionais. Civilizados, construíam cidades com altos muros e se proviam de armas e mecanismos de defesa. Na Idade Média, os senhores feudais abriam fossos em torno dos seus fortificados castelos. Nos casebres, os servos buscavam se proteger das intempéries e da invasão da privacidade. Na Idade Moderna, os Estados incluem nos seus objetivos a segurança do povo, do governo, do território e do patrimônio nacional. 

Internamente, além do aparelho do Estado, as pessoas buscam segurança das suas vidas, das suas integridades físicas e dos seus bens de modo particular através de contrato de seguro, vigilância privada, porte de arma, sistema de alarme, cães de guarda, cofres, mecanismos contra invasão em automóveis, casas, computadores e assim por diante. O convívio social é disciplinado mediante regras morais, religiosas e jurídicas a fim de assegurar a tranqüilidade geral, a prática do bem e punir a prática do mal. Visando a garantir o cumprimento das regras criaram-se autoridades públicas e estabelecimentos de custódia para segregar quem coloca a sociedade em perigo. Os criminosos eram submetidos a penas cruéis, como o mergulho em óleo fervendo, amputação, crucifixão, empalação, apedrejamento, enforcamento, trabalhos forçados (galés). A humanização dos costumes suavizou as penas. A fim de reduzir o abuso da autoridade pública, normas processuais foram estabelecidas para o conhecimento, debate e solução das controvérsias, de modo que ninguém perdesse a liberdade nem fosse privado dos seus bens sem o devido processo jurídico. Ao solucionar o caso concreto, a sentença judicial expressa o direito e traz segurança jurídica. Além da sentença, há outras formas de segurança jurídica como a irretroatividade da lei, a coisa julgada, a prescrição, que garantem às pessoas o uso, gozo e disponibilidade dos seus bens e direitos.   

A segurança é obtida por diversos meios. A existência de uma ordem jurídica representa segurança para a nação. A efetivação dessa ordem interessa ao povo. A consciência geral da importância dessa ordem possibilita a sua obediência de modo pacífico, sem intervenção da autoridade pública. Apesar disto, a desobediência à lei, eventual por algumas pessoas e rotineira por outras, fato comum na sociedade, exigiu do Estado criação de aparelho de segurança (armamentos, veículos, delegacias, agentes policiais, presídios, laboratórios de criminalística, ministério público, juizes, tribunais).

A insegurança e a incerteza são condições pessoais e sociais permanentes geradas pelos fenômenos naturais (terremotos, maremotos, tempestades, inundações, vulcões, estiagens, pestes, endemias) e pelos fatos culturais (distribuição desigual dos bens e serviços, corrupção, violência, homicídio, roubo, criminalidade em geral, subordinação da maioria à minoria exploradora, crises na economia, desemprego, miséria). Esses flagelos provocam nas pessoas o desejo de um mundo melhor e mais seguro. Platão, Thomas Morus, Francis Bacon, em suas respectivas utopias, projetaram esse mundo aqui mesmo na Terra, onde os habitantes desfrutavam uma vida feliz e se organizavam para evitar os fatores naturais e sociais do infortúnio. Há homens e mulheres que colocam esperanças em seres inteligentes de outro planeta, presumivelmente mais avançados do ponto de vista científico e técnico, que trariam bem-estar e felicidade aos humanos. Alguns aguardam ser transportados para planetas de civilizações mais adiantadas, sem os problemas existentes aqui na Terra. Especula-se ainda sobre a existência de mundos paralelos melhores do que o nosso em outras dimensões. Grande parcela da humanidade acredita na existência de um mundo espiritual de amor e paz, reino de divindades, morada segura e feliz da alma após a morte. Religiões disputam o privativo conhecimento desse mundo. Na Europa medieval, padres vendiam lugares no céu aos fiéis que desejavam estar seguros da bem-aventurança espiritual. A residência celeste individual devia existir de fato e o negócio devia ser honesto, pois nenhum comprador de lá retornou para reclamar e pedir o seu dinheiro de volta.  

Os realistas continuam a luta contra a insegurança e a incerteza sabendo que não podem vencê-las, mas que podem diminuir os seus inconvenientes. Mitologias, religiões e escolas de mistérios foram criadas em função da insegurança e da incerteza. No intento de colocá-las sob rédeas, os humanos recorreram à filosofia, à ciência e à tecnologia. Durante esse esforço milenar foram sendo criadas regras éticas e jurídicas visando a um convívio social pacífico e a todos possibilitar, no evolver histórico, a livre manifestação das suas potencialidades físicas, intelectuais e espirituais. A segurança e a certeza são as colunas do Direito assim como a liberdade e a igualdade são as colunas da Democracia.

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