Na lista da Associação Nacional dos Magistrados
Estaduais, da rede de computadores, circulou em 02/12/2012, entrevista do
ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, prestada a jornalista da Folha
de São Paulo, sobre as campanhas para preencher vaga no Supremo Tribunal
Federal. Os procedimentos relatados pelo ministro coincidem com aqueles
descritos aqui neste blog em 14/06/2012, sob o título “Justiça Comprometida”.
Os meandros da disputa pelo cargo de ministro do STF
não eram alardeados no âmbito da magistratura. O público imaginava que o
presidente da república garimpava no meio jurídico nacional os melhores
profissionais e convidava aquele que mais lhe agradasse. Antes da mudança da
capital federal para Brasília é possível que este fosse o procedimento para
escolha dos ministros. Pelo menos, não se notava o desabrido galope de hoje em dia. As pessoas nomeadas
preenchiam os requisitos constitucionais de reputação ilibada e notável saber
jurídico. Havia até quem recusasse o convite da presidência, principalmente
após a mudança do tribunal do Rio de Janeiro para Brasília. Juristas de escol,
como Miguel Reale, preferiam permanecer em São Paulo e no Rio. No período militar houve expurgo
no STF por motivos ideológicos. Em substituição dos cassados foram nomeados
ministros simpáticos ao regime. Alguns ficaram poucos dias, tempo suficiente para
justificar aposentadoria bem remunerada (houve quem não despachasse um processo
sequer).
Finda a autocracia militar – Brasília já metrópole com
todo conforto e mordomias – aumenta o interesse pelo STF. Ninguém mais esperava
ser convidado pelo presidente. Os interessados tomavam a iniciativa. Cresce o
número de candidaturas. Afrouxa-se o modo informal de escolha. Os requisitos
constitucionais são negligenciados. Importam mais as boas relações do candidato
com o grupo no poder e o respectivo compromisso de reciprocidade.
Luiz Fux foi o primeiro e único, até o momento, a
admitir publicamente que ambicionava o cargo, que encetou campanhas para
conquistá-lo e que foi vencido por seus concorrentes em algumas disputas. Os
seus antecessores não tiveram essa coragem. Preferiram passar a impressão ao
público de que tinham sido espontaneamente convidados pelo presidente. Na
verdade, ofereceram-se como candidatos, cercaram-se de padrinhos, visitaram
gabinetes, escritórios, residências e assumiram compromissos, tal qual
aconteceu com Fux.
Ricardo Lewandowski, oriundo do departamento jurídico
do PT de São Bernardo do Campo, como informado na rede de computadores, nomeado
ministro do STF pelo presidente Luiz Inácio, não viu tipificada quadrilha
alguma no caso apelidado “mensalão”. Contra a solar evidência, absolveu os réus
enquanto a maioria dos juízes os condenou. Na fixação da pena de Roberto
Jefferson (PTB) inimigo de José Dirceu, figura exponencial do PT, Lewandowski negou
outra solar evidência. Até as pedras da rua sabem que se não fosse denúncia de
Jefferson esse caso escabroso não teria vindo à superfície. Após os inquéritos
parlamentar e policial, e no curso do processo criminal, provou-se verdadeira a
denúncia do deputado que incriminava José Dirceu. Confirmou-se, desse modo, o
relevante valor daquela denúncia para a nação brasileira. Apesar disto e
irritado, Lewandowski negou circunstância atenuante a Jefferson, enquanto a
maioria dos juízes a reconheceu.
Teori Albino Zavascki, novo ministro do STF, claudicou
na sabatina perante a comissão do Senado Federal. Sem medo de ser reprovado,
eis que a maioria da comissão era governista, fugiu a procedentes e
interessantes perguntas que lhe foram formuladas. Apresentou desculpa
esfarrapada: poderia ser chamado a julgar
aquelas questões. Ele ainda não era ministro do STF, por isso mesmo não
estava impedido de respondê-las sob a ótica acadêmica. Não só aos examinadores
como também à nação brasileira interessava saber a posição jurídica sobre
aquelas matérias de quem se candidatara ao cargo de juiz da mais alta corte do
país.
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