Neste mês de setembro, a seleção
brasileira de futebol participou de dois jogos amistosos na América do Norte:
um contra a seleção da Costa Rica e outro contra a seleção dos EUA. O objetivo
foi prepará-la para disputar os jogos classificatórios à copa do mundo de 2018.
No jogo contra os brasileiros, a
seleção da Costa Rica apresentou um futebol moderno, jogadores com habilidade e
bem entrosados na participação coletiva. A seleção costarriquenha também exibiu
um futebol de boa qualidade nas competições internacionais de que participou
recentemente. Portanto, não se justifica a crítica desairosa à atual seleção
brasileira por ter vencido pelo placar mínimo (1 x 0). Na retina desses
críticos, a imagem do passado obscurece a imagem do presente. O preconceito em
relação às seleções “sem tradição” não os deixa enxergar o que acontece no
campo.
Convém não se iludir com a larga
vitória da seleção brasileira diante da seleção dos EUA (4 x 1). O adversário
fazia experiência em campo e não apresentou bom futebol. Os gringos não
mostraram muito empenho e habilidade. Parece que eles seguem a famosa e
espirituosa frase do mestre Didi: “treino é treino, jogo é jogo”.
A seleção brasileira teve melhor
desempenho no segundo tempo de cada um dos dois jogos amistosos. Exibiu futebol
vistoso, alegre e veloz. Salvo a entrada de Neymar, as outras substituições de
jogadores durante as duas partidas foram experiências oportunas e necessárias.
O treinador já pode ter uma noção mais apurada da futura formação. Aliás, o
treinador deve se acostumar com as críticas desfavoráveis, desde que não
ofensivas à sua honra e à sua dignidade. A crítica respeitosa há de ser
tolerada ainda que fira a vaidade do criticado. Ossos do oficio.
Boas atuações de Lucas, William,
Rafinha e Coutinho, confortam os torcedores na ausência ocasional de Neymar. A
posição de centroavante está deficitária. Hulk mostrou dificuldade ao tentar
preencher esta lacuna. Mesmo assim, ele fez um gol em cada partida. A defesa brasileira
se portou bem nas duas partidas até o gol sofrido na segunda quando, então,
mostrou nervosismo e destempero quiçá reflexo psicológico das acachapantes
derrotas no confronto com a Alemanha e a Holanda na copa do mundo de 2014. O
gol americano foi bonito e bem executado. A defesa brasileira não merece
responsabilização por esse gol e poderá sofrer outros gols nos futuros jogos.
Os defensores devem estar preparados para isto a fim de não perderem a calma e
o domínio do setor. O importante é a seleção brasileira fazer mais gols do que
a adversária.
A convocação de Neymar foi
precipitada e inoportuna. Esse jogador está impedido de disputar as duas
primeiras partidas do torneio oficial. A presença dele nos jogos preparatórios
não se justifica. Se a seleção perder as duas primeiras partidas, o destino da
vaca será o brejo. Ele só devia ser convocado para a competição oficial, âmbito
em que a sentença da justiça desportiva produz efeito. No período da suspensão
punitiva, o jogador acompanharia a seleção e treinaria na equipe suplementar.
Cumprida a pena, participaria da terceira partida em diante, se necessário. A
infeliz convocação provavelmente atendeu aos interesses dos patrocinadores e
dos dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que pensam mais em
si mesmos e menos no sucesso da seleção brasileira. A prioridade nos jogos
preparatórios cabia aos jogadores que disputarão as duas primeiras partidas. As
seleções da América do Sul têm exibido um futebol entre bom e excelente. A
seleção brasileira não encontrará facilidade.
Oportunamente, outros jogadores
poderão ser convocados até as vésperas da realização da próxima copa, no prazo
permitido pelo regulamento. O campeonato brasileiro revela alguns atletas
eficientes, dotados não só de habilidade motora como também de inteligência
lúdica. Atualmente, no referido certame, destacam-se: Ricardo (Santos FC), como
goleador e Alexandre (São Paulo FC) como atacante, ambos veteranos. Daí a
cautela que o bom senso recomenda: aguardar a proximidade da competição oficial
para selecionar e convocar os melhores no momento (se os dirigentes da CBF e os
patrocinadores permitirem). Isto não significa esquecer a lição da experiência:
há estrelas e há cometas. Há estrelas que surgem e brilham por breve tempo. Depois,
paulatinamente, perdem o brilho e somem. Algumas permanecem no firmamento
esportivo, porém, não mais como estrelas de primeira grandeza.
Os craques também têm prazo de
validade. As leis da natureza são irrevogáveis e inflexíveis. Os avanços em
matéria de nutricionismo, na medicina esportiva e em tecnologia, permitem
apenas ampliar esse prazo, tornando possível, por exemplo, o jogador com idade
igual ou superior a 40 anos, atuar bem durante o tempo normal do jogo, como já
vem acontecendo. O bom profissional cuida da sua saúde, do preparo físico e
técnico, alimentação balanceada, sem consumo de cigarro e de bebida alcoólica, sem
desregramentos na vida diurna e noturna, o que contribui para a sua longevidade
no esporte. Por outro lado, com essa conduta saudável e disciplinada, o atleta
retribui a confiança nele depositada e o investimento nele feito pelo clube que
o contratou.
Entregar a braçadeira de capitão
da equipe a Neymar é ato temerário e provocativo. Esta função não deve ser
exercida por moleques, ainda que sejam tecnicamente bons jogadores. Aliás, embora
não sendo moleques, craques do passado não foram capitães da seleção brasileira
(Leônidas, Didi, Pelé, Romário). Ante a indisciplina desse jogador, colocá-lo
como capitão soa como provocação e desafio à entidade que o puniu e à
corporação dos árbitros. O interesse financeiro não devia prejudicar o
desempenho da seleção e a imagem do esporte brasileiro. A seleção de jogadores,
a escala do time principal, a escolha do capitão da equipe, não devem depender
de propinas, nem da vontade dos patrocinadores e das idiossincrasias dos
dirigentes.
Apesar das dificuldades que certamente enfrentará, a
atual seleção brasileira tem chance de se classificar. Em outubro, quando
começam os jogos oficiais, veremos a situação real e o que restou amorfo no
espaço especulativo.
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