domingo, 15 de fevereiro de 2009

ATRIBUTOS DIVINOS
Antonio Sebastião de Lima

Há um determinismo, a partir de Deus, no mundo material. Leis naturais e inflexíveis respondem pela estabilidade do universo. Essas leis são neutras aos valores humanos. Terremoto, maremoto, tsunami e todos os fenômenos naturais acontecem por que tem que acontecer, sem culpa de ninguém e sem propósito de divindade alguma. Cabe aos homens estuda-los e se precaverem. Do determinismo divino não decorre qualquer maldade. Bondade e maldade derivam da bipolaridade da natureza humana: corpo e alma; demônio e anjo. O ser humano responde por seus pensamentos e ações mediante a atuação da lei da compensação. Se tais pensamentos e ações estiverem em sintonia com as leis divinas, a conseqüência será boa para o ser humano; se não estiverem, a conseqüência será ruim; em qualquer desses casos, não haverá interferência direta de Deus, mas simples incidência da lei de atração e repulsão.

O destino humano não está traçado nas estrelas e sim na História. Expressões tais como “assim como julgardes sereis julgados”, “não desejes ao próximo o que não queres para ti mesmo”, “dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és” indicam que o ser humano é o artífice do seu próprio destino. Conforme a sua conduta, o ser humano atrai para si mesmo e para o seu ambiente, tanto o que é bom como o que é ruim. Há predisposição genética e ambiental que se não confunde com predestinação. A doutrina da predestinação, embora pregada por teólogos e reformadores, não se compadece com a relativa liberdade de ação e pensamento desfrutada pelo ser humano, nem é compatível com a doutrina da bondade e sabedoria de Deus defendida por esses mesmos teólogos e reformadores. Santo Agostinho era adepto dessa doutrina. Acreditava que os predestinados formavam a Cidade de Deus e os demais a Cidade Terrestre. Aqueles seriam imortais; estes queimariam no inferno, embora todos os homens sejam depravados por natureza (certamente, Santo Agostinho generalizava a sua própria devassidão ao tempo de solteiro e nos primeiros anos de casado).

A presunção humana conduz à idéia de que Deus se importa com o destino individual ou coletivo da humanidade. Ledo engano. O corpo sem alma vira pó ou cinzas. Mantê-lo saudável enquanto vivo é problema de cada um. Laços de solidariedade podem ajudar aos menos aptos e aos que nasceram com deficiências físicas e mentais. A personalidade com seus prêmios e castigos compensados fica ligada à alma universal assim que se desliga do corpo. Algumas seitas acreditam na reencarnação dessa personalidade; outras não.

A fé tem sofrido duros golpes desferidos pela razão. Os religiosos acreditavam que a Terra era plana e centro do universo; que o Sol girava em torno da Terra; que o ser humano era exclusiva criação divina e o centro das atenções de Deus. Nada disso foi confirmado pelo trabalho dos cientistas. A ciência parece estar convencida da existência de vida semelhante à humana em mais de 20 mil planetas fora do sistema solar. Os humanos são seres vivos minúsculos, entre tantos outros maiores ou menores, cujo ambiente é um pequenino grão de areia na imensidão de uma galáxia, ao lado de milhões de outras galáxias do mesmo universo.

Em relação aos seres menores, o ser humano se conforma em ser gigante na escala micro-cósmica pelo tamanho do seu corpo e da sua inteligência. Sente-se bem por ser o único nessa escala com o dom de sorrir. O ricto das hienas não se confunde com o sorriso humano. Na escala macro-cósmica a alma não tem dimensão. Através dela o ser humano entra em sintonia não só com as galáxias como também com a fonte da vida, do amor e da luz espiritual.

Para os gregos, o símbolo da razão (sabedoria) era a coruja. Como a fé cega equivale a trevas (ignorância) o avestruz poderia ser o símbolo da fé religiosa dogmática.

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