Lupus lupi homine. O homem é o lobo do homem (Thomas Hobbes). A história das civilizações serve de base a essa constatação do filósofo inglês. Os humanos vivem às turras, quer no estado de natureza, quer no estado de civilização. Esse fato social e histórico harmoniza-se com a dualidade da natureza humana. A paz e o amor brotam do instinto angelical do ser humano. A guerra e o ódio brotam do instinto demoníaco do ser humano. Amizade e inimizade fluem com intensidade e duração variáveis conforme as circunstâncias. As polaridades se implicam. Destarte, além das guerras atuais Rússia x Ucrânia e Israel x Irã, outras virão.
O presidente dos Estados Unidos da América (EUA) dizia estar “perdendo a paciência” e que entraria na guerra ao lado de Israel se o Irã não se rendesse. Ontem ele cumpriu essa promessa com seus modernos aviões e bombas de penetração profunda em solo rochoso lançadas no território iraniano. Lembrou o teste nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Recado aos atuais inimigos. Sinal verde para a terceira guerra mundial.
Aquele presidente parecia falar a uma criança, ou, a um país do seu quintal na América. Comportou-se como o menino dono da bola que, ao não receber atenção, “perde a paciência” e leva a bola para casa acabando com o jogo. Grosseiro e inculto, ele desconhece a cultura, a força moral e religiosa dos persas. Os presidentes da China e da Rússia, preocupados com a situação, conversam e se comportam como adultos. Os demais países da aliança BRICS certamente participarão das conversas e das atitudes. Falar em paz nesse clima é chover no molhado.
O partidarismo e a miséria moral do jornalismo vestem os fatos com roupagem das crenças e dos interesses dos empresários. Jornalistas amestrados alinham-se na posição empresarial. As notícias e os comentários servem à propaganda e não à verdade. Exemplos: 1. Mortos na guerra: 10 israelenses e 500 iranianos. 2. Misseis: 500 defendidos por Israel e 10 pelo Irã. 3. Ênfase no vocábulo “terrorista” aplicado ao Hamas e silêncio sobre o terrorismo de estado praticado por Israel.
A Guerra do Golfo tratada como espetáculo ensinou o público a peneirar a matéria veiculada pela imprensa. Todavia, em função do princípio da inércia e da lei natural do menor esforço, parcela da população engole a pílula sem mastigar.
O jornalista que exibe independência assume o risco de ser demitido da empresa. Nesta semana, um jornalista de emissora brasileira de televisão entrevistou com indignação o embaixador de Israel. A raiz genealógica do jornalista (Líbano) talvez tenha influído no seu ânimo. Apesar do tom interpelativo da bateria, as perguntas ao embaixador foram pertinentes, oportunas, sintonizadas com os fatos. O jornalista pediu explicações sobre o ataque contra o Irã e questionou o fato de Israel produzir energia nuclear e impedir o Irã de fazer o mesmo.
Realmente, se Israel vê nessa indústria iraniana perigo à sua segurança, o Irã também vê perigo à sua segurança na indústria nuclear israelense. Ficou evidente que Israel, fiando-se no apoio dos EUA, ambiciona ser potência hegemônica. Nesse contexto, a produção de energia nuclear e de bomba atômica pelo Irã mostra-se necessária e de suma importância para a segurança e a paz no Oriente. A paridade de forças com Israel precisa ser estabelecida com urgência e eficácia. Ante a conduta traiçoeira, violenta, agressiva e antijurídica dos EUA e de Israel, o acordo de não-proliferação de armas nucleares esmigalhou-se.
Nas relações internacionais, os estados regem-se pelos princípios de igualdade de direitos e de autodeterminação, independentemente (i) das formas de governo, se autocráticas ou democráticas (ii) dos modelos econômicos, se capitalistas ou socialistas (iii) das ideologias, crenças religiosas e traços culturais dos seus povos. Na medida das suas necessidades, conveniências e possibilidades materiais, cabe a cada estado cuidar de modo soberano da sua segurança, decidir se produzirá energia nuclear e bomba atômica, se aumentará o efetivo das forças armadas. [Carta das Nações Unidas - CNU, artigo 1, inciso 2].
O direito à legítima defesa, na hipótese de algum estado ser atacado, está previsto no artigo 51 da CNU. Este dispositivo aplica-se ao caso em tela. O Irã sofreu inesperado e traiçoeiro ataque de Israel e contra-atacou em legítima defesa. Ficaram expostas as falácias da “defesa preventiva” e do “antissemitismo” utilizadas por Israel. Os judeus apropriam-se do semitismo como se não houvessem outros povos semitas (arameus, assírios, caldeus, cananeus, fenícios, na Idade Antiga; árabes, na Idade Moderna). No Brasil, a extrema direita usou o mesmo modus operandi: apropriou-se dos símbolos nacionais para exibir exclusividade patriótica.
A CNU reafirmou a fé (i) na dignidade e no valor do ser humano (ii) nos direitos fundamentais do homem (iii) na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, das nações grandes e pequenas (iv) na autodeterminação dos povos. [Preâmbulo + artigo 1, inciso 2].
No direito internacional vigora o princípio “pacta sunt servanda”. O que foi convencionado deve ser cumprido. Entretanto, como o vínculo à Organização das Nações Unidas (ONU) é facultativo e dissolúvel, o estado pode retirar-se por decisão própria e unilateral. Israel optou por ficar à margem da ONU, da Corte Internacional de Justiça, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e de qualquer norma que possa frear a sua conduta etnicida, o seu imperialismo e o seu expansionismo. Baseado na falaciosa teoria da “defesa preventiva”, semelhante à falaciosa teoria do “espaço vital” utilizada pelos nazistas alemães como justificativa para os seus crimes, Israel quer liberdade ampla e irrestrita para praticar crimes e ficar impune (extermínio dos palestinos, violação da paz e dos territórios dos povos vizinhos).
Assim como nações se uniram para combater o nazismo alemão (1939-1945), devem agora se unir para combater o nazismo judeu no Oriente e o nazismo evangélico no Ocidente.