domingo, 27 de outubro de 2024

SOBERBIA & BRICS

Na XVI Cúpula do BRICS realizada em Kazan/Rússia nos dias 22 a 24 de outubro de 2024, o veto brasileiro impediu a admissão da Venezuela como parceira do grupo. O Ministro das Relações Exteriores do Brasil disse que o veto obedeceu a “critérios”. Entretanto, não os especificou. O Chefe da Assessoria Especial do Presidente da República disse que o veto se deve à “quebra de confiança”, eis que a Venezuela não cumpriu a promessa de entregar ao Brasil as atas das eleições de julho de 2024. Entretanto, as notícias publicadas pela imprensa informam que o presidente venezuelano rechaçou as exigências do presidente brasileiro. Este fato não combina com a existência de promessa de entregar. O venezuelano agiu em sintonia com a Constituição do seu país a fim de assegurar a sua soberania. O brasileiro agiu contra a Constituição do Brasil (artigo 4º) a fim de imiscuir-se nos assuntos internos do país vizinho.
O presidente da Cúpula do BRICS, na entrevista coletiva à imprensa, declarou o seu apoio à Venezuela e reafirmou o reconhecimento da legitimidade (i) do governo daquele país (ii) do resultado das eleições lá realizadas. Isto indica que o Brasil foi o único membro a votar contra o ingresso da Venezuela no BRICS. Para admissão de membros é exigida unanimidade. Basta o veto de um só membro para excluir qualquer país da lista de postulantes. 
Os representantes do governo brasileiro agiram de acordo com as instruções dadas pelo Presidente da República. A soberbia obnubilou o córtex cerebral do presidente brasileiro e o privou de uma visão clara da realidade. Ele esperava que o venezuelano se curvasse às suas ordens. Ora, como chefe de um país soberano, o venezuelano não está obrigado a acatar ordens de estrangeiros; subordina-se exclusivamente à ordem jurídica da Venezuela. O brasileiro não gostou da reação do venezuelano e levou o caso para o terreno pessoal. Acima da fraterna relação bilateral Brasil + Venezuela alçou-se a hostil relação bilateral Lula x Maduro.
O sentimento de vingança, a vaidade, o ciúme, a autoestima excessiva, levaram o presidente brasileiro a agir com prepotência e arrogância. Das alturas olímpicas nas quais ele se coloca, atirou seus raios sobre o mortal que se atreveu a contrariá-lo. Aproximadamente, usou o seu poder de veto do seguinte modo: Ou você, reles venezuelano, me entrega as atas ou você não entra no BRICS do qual sou membro ativo. Se já é difícil a tua nação obter ajuda econômica, financeira e tecnológica dos organismos ocidentais dominados pelos Estados Unidos, mais difícil será obtê-la do BRICS comigo lá
De um modo geral, a História realça as virtudes dos seus personagens. Ao talante do historiador, ocasionalmente, também apresenta os defeitos. Todo personagem que se destaca na política, na economia, na técnica, na arte, na ciência, na filosofia, na religião, está sujeito às fraquezas da natureza humana, por maior que seja o seu esforço de autodomínio. A história das civilizações oriental e ocidental mostram chefes de estado (imperadores, reis, presidentes, ditadores) que atuam por motivos pessoais no interesse privado e não só no interesse público. 
Foi o que aconteceu no caso do veto do presidente brasileiro à admissão da Venezuela no BRICS. “Quebra de confiança” é disfarce para encobrir motivos pessoais. Confiança provém do foro íntimo de cada pessoa: acreditar em alguém, em alguma doutrina, em alguma instituição, na solidez de alguma coisa. Confia-se hoje, desconfia-se amanhã. Quem ontem confiou em Lula, hoje não confia mais. Em agosto de 2023, Lula apoiou o pedido do governo da Venezuela para ingressar no BRICS. Em outubro de 2024, Lula retirou esse apoio.   
Nas relações internacionais quem se fia na palavra do outro assume o risco de se ferrar. Não há lugar para ingenuidade. O solo é movediço. A validade da palavra tem prazo curto. Garantias não são garantidas. 
BRICS é uma aliança estável que visa o multilateralismo do desenvolvimento e da segurança globais. Estriba-se nos seguintes valores: paz, segurança, justiça social, qualidade de vida. Defende o desenvolvimento sustentável, o compartilhamento da inovação e do conhecimento, a governança política e econômica mundial. Prioriza a ajuda aos países em desenvolvimento e mercados emergentes da América Latina, da África e da Ásia. Criou o Novo Banco do Desenvolvimento com sede na China, atualmente dirigido por mulher brasileira. Pretende: 1. Reduzir a dependência do dólar nas relações comerciais entre os seus membros; quiçá, cunhar moeda própria. 2. Aliviar a carga tributária. 3. Participar dos organismos internacionais em assuntos como energia, tecnologia da informação, segurança alimentar, agropecuária, saúde, meio ambiente, transporte, educação, cultura, direitos humanos. Compõe-se de 9 estados soberanos com direito a voto: África do Sul, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã, Rússia. Outros estados soberanos podem ser admitidos na categoria de parceiros, sem direito a voto. 
A aliança começou em 2006 com 4 países e a sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China). Depois, incluiu: (i) em 2011, a África do Sul e o S de South África na sigla: BRICS (ii) em 2023: Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, sem alterar a sigla. As cúpulas são realizadas a cada ano em país diferente, num rodízio entre os membros. Não há carta ou estatuto formalizado em documento escrito. As normas são postas pelas cúpulas e lançadas nas atas e declarações. Para cada reunião forma-se uma secretaria. A receita vem das contribuições dos países membros. 

sábado, 19 de outubro de 2024

VENEZUELA ET COETERA

O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, em recente nota publicada na imprensa, informa que o governo brasileiro continuará a intermediar as relações entre o governo venezuelano e a oposição. Portanto, em frontal colisão com o artigo 4º da Constituição da República. 
O ministro diz que os presidentes do Brasil, da Colômbia e do México funcionam como “mediadores” entre o governo e a oposição venezuelanos, porém, nada informa sobre a existência de ato oficial do governo da Venezuela aceitando a mediação. Pelo noticiário da imprensa, verifica-se que o governo venezuelano não aceitou essa intromissão estrangeira nos seus assuntos internos. Ademais, a mediação, enquanto procedimento político e jurídico nas relações internacionais, destina-se a ajudar na solução pacífica das divergências entre dois ou mais estados e não a tratar das divergências entre facções internas de um estado. 
O Presidente do Brasil manteve-se passivo diante (a) da reunião do presidente argentino com a oposição brasileira de extrema direita em solo brasileiro (b) da censura pública que lhe foi endereçada pelo Ministro da Defesa do Brasil, por ter vetado a compra dos blindados israelenses. Frouxidão igual a esta não se vê na conduta do presidente venezuelano. Homens e mulheres frouxos não são vocacionados para governar estados. Nos assuntos da competência constitucional do Poder Executivo, cabe ao Chefe de Estado o dever de exercer a sua autoridade. 
A hierarquia é essencial à estrutura do estado. A sua aura de sacralidade vem reconhecida desde as antigas civilizações. Os gregos antigos expressaram-na juntando as palavras hieros (sagrado) + arkhe (poder) = hierarkhia. Cuida-se do poder escalonado da cúpula à base, essencial a um dos elementos estruturais do estado: o governo. A indisciplina conduz à anarquia. Reprimi-la é indispensável, ainda que isto não se ajuste ao perfil psicológico do detentor do poder de punir. Tolerá-la tipifica irresponsabilidade da autoridade estatal.       
Situação e oposição legítimas são polos da energia política das nações juridicamente organizadas em repúblicas democráticas. Perdem a legitimidade: (i) a situação, quando despótica (ii) a oposição, quando sediciosa. A intromissão estrangeira nesse umbilical relacionamento político é incompatível com a soberania dos estados. 
As eleições nos Estados Unidos, que se repetem em quadriênios há 237 anos, estão marcadas para o dia 05 de novembro de 2024. Será que os 3 presidentes latino-americanos pretendem lá comparecer investidos de autoridade heróica para fiscalizá-las e exigir que o governo estadunidense lhes apresente boletins de urnas ou documentos equivalentes? Mais provável é que esses 3 fiscais heróicos se aquietem, acalmem o seu ímpeto justiceiro e se recolham às suas cavernas a fim de evitar que a opinião pública internacional os veja como 3 patetas.
A assertiva do ministro brasileiro de que a situação política na Venezuela “criou um clima de perplexidade internacional” soa ridícula. Se tal clima houve – e não há evidência de que tenha havido – a “perplexidade internacional” terá sido motivada pela conduta patética dos 3 presidentes latino-americanos e não pelo processo eleitoral da Venezuela que, diga-se de passagem, está em sintonia com a cultura jurídica dos povos deste século XXI.  
Ao vetar a compra dos blindados de Israel, o Presidente do Brasil provocou a ira do Ministro da Defesa brasileiro. Alegando que houve licitação, o ministro recriminou o Presidente da República por ter agido ideologicamente. Muito conhecidas nas esferas nacional e internacional, as práticas do caixa 2 e da comissão por fora nos negócios com a administração pública brasileira. A decisão do presidente talvez tenha impedido essas práticas no caso em tela. Ademais, preço baixo oferecido pelo vendedor não é critério exclusivo para vencer licitação. O governo de Israel declarou o Presidente do Brasil “persona non grata” e o proibiu de entrar naquele país. Como, então, o presidente vai negociar com esse país sem humilhar a nação brasileira? Concorre outro motivo grave: o presidente ter que negociar com um governo colonial, invasor, criminoso e genocida. Enquanto o bando sionista estiver no governo de Israel, o Brasil e outros países devem manter distância e boicotá-lo de todas as maneiras. 
O Ministro da Defesa, portanto, foi leviano ao acusar o Presidente do Brasil de ter agido só por ideologia e para discriminar os judeus. Outrossim, o ministro usou tom nazifascista (a) como se ideologia [do latim idea (representação mental) + logos (tratado ou estudo) + ia (sufixo)] fosse algo abominável e não algo construtivo gerado pela racionalidade humana (b) como se essa palavra não significasse tratado das ideias ou estudo do pensamento. O uso dessa palavra vulgarizou-se no Ocidente a partir do século XIX, com o sentido de conjunto de ideias, crenças e sentimentos comungados por uma classe de pessoas. Neste sentido, todo partido político tem a sua ideologia. Da sua parte, o presidente esmoreceu ao não demitir o ministro. Quanto à licitação, compete à Polícia Federal instaurar inquérito policial. Lex habemus

sábado, 12 de outubro de 2024

FUTEBOL IV

Ainda há craques no futebol masculino do Brasil e do mundo? O tempo é das vacas magras? A época é de pauperização em nível planetário? Houve nivelamento técnico pela ausência ou redução de talentos? 
Os amantes do futebol se questionam perplexos. Incursionam na semiologia em busca do significado da palavra craque.
Dois sentidos se apresentam: um relacionado a coisas e outro relacionado a pessoas. No primeiro sentido, craque indica a fratura de alguma coisa. Exemplos: desmoronamento parcial de uma montanha, falência de uma empresa ou de um grupo financeiro. No segundo sentido, craque indica a excelente habilidade de alguém no fazer. Exemplos: a do médico cirurgião em transplantar órgãos, a do político em iludir o eleitorado, a do advogado em defender a clientela, a do pianista em executar partituras, a do atleta em praticar atletismo. 
No futebol, craque é o qualificativo que se dá ao jogador cujas habilidade e eficiência estão acima do desempenho comum dos outros jogadores da sua e das outras equipes. Há goleiros, defensores, armadores e atacantes, cada qual na sua respectiva função que, frequente e regularmente, exibem em campo habilidade e eficiência acima do comum. São os craques. Bons jogadores são ofuscados pelos craques sem que isto seja intencional ou premeditado. Trata-se de consequência natural do modo de jogar do craque. Há craques como Didi, Ademir da Guia, Beckham, Messi, que por especial temperamento, não gostam de ser (i) exibidos como superiores aos seus colegas de profissão (ii) comparados com outros craques da constelação dos grandes mestres. 
O craque domina os fundamentos da arte de jogar futebol de acordo com a sua função em campo. Ser craque é conditio sine qua non para o jogador ocupar o trono do melhor do mundo. Os melhores jogadores do mundo satisfazem critérios objetivos de avaliação, tais como: 1) Inteligência lúdica, o que implica boa visão de jogo, criatividade, versatilidade, capacidade de controlar o ritmo do jogo e de improvisar. 2) Habilidade no uso do corpo seu e do adversário. 3) Eficiência na armação das jogadas, nos desarmes, nos passes, nos dribles, nos cabeceios, nos chutes a gol, nas cobranças de falta e de escanteio. 4) Espírito de equipe balanceado com o traquejo individual.
Acima do craque situa-se o jogador genial. Todo jogador genial é craque, porém, nem todo craque é jogador genial. A diferença está no grau de inteligência lúdica, ou seja, na capacidade cerebral, durante as partidas, de controlar a dinâmica do jogo no amplo leque das táticas utilizadas pelas equipes em confronto. O gênio tem essa capacidade em grau máximo. A galeria dos jogadores geniais é pequena. São eles: Alemanha: Beckenbauer. Argentina: Riquelme. Brasil: Leônidas, Didi, Garrincha, Pelé, Gerson, Ronaldinho Gaúcho. França: Zidane. Holanda: Cruyff. Hungria: Puskas. Inglaterra: Beckham. Itália: Pirlo. Portugal: Eusébio. 
Dezenas de outros jogadores tratados como gênios na América e na Europa são, na realidade, fabulosos craques admirados por suas brilhantes atuações. 
Para integrar as seleções, cada país convoca os seus melhores jogadores, veteranos e novatos. Nos jogos preparatórios para Copa do Mundo/2026, nota-se a presença de bons jogadores, de alguns craques e a ausência de jogadores geniais. 
A atual seleção brasileira enquadra-se nesse panorama. Nenhum gênio. Poucos craques. Muitos jogadores bons. Nenhum jogador medíocre ou ruim. Treinador bom, consciente, moderado, realista, com agudo senso de responsabilidade. Órgãos dirigentes na expectativa das novas eleições corporativas que podem influir na estrutura e no funcionamento da seleção. 
No jogo de quinta-feira, dia 10/10/2024, a seleção mais fraca tecnicamente (chilena) deu enorme trabalho à seleção menos fraca (brasileira). Os brasileiros gastaram 45 minutos para marcar o primeiro gol. Depois, gastaram mais 45 minutos para marcar o segundo. Valeu pelo denodo. A vitória (2x1) melhorou a classificação da brasileira nos citados jogos. Ante o nivelamento geral das seleções, a brasileira estará na América do Norte com chance de vencer a Copa. 

sábado, 5 de outubro de 2024

VENEZUELA AGAIN

O Presidente da República Federativa do Brasil discursou na abertura da sessão anual regular da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Jornalistas interpelaram-no por haver omitido no seu discurso a “crise” na Venezuela. O presidente respondeu que somente a ele cabia decidir o que colocar nos seus discursos. Todavia, equivocou-se ao dizer que gostaria do retorno da Venezuela à normalidade democrática. Não há retorno ao lugar de onde nunca se saiu.   
A “crise” da Venezuela está na cabeça dos seus inimigos interessados em deturpar os fatos e denegrir a sua imagem. Tanto pessoas naturais como nações passam por situações aflitivas constantemente. Estão aí, em nossos dias: [1] Rússia x Ucrânia + Estados Unidos. [2] Palestina + Líbano + Síria + Irã x Israel + Estados Unidos. A causa dessas “crises” é sempre a mesma: a natureza humana. Os motivos variam: vizinhança incômoda, riqueza alheia, espaço vital, geopolítica, fé religiosa, crença filosófica, ideologia, fanatismo, ambição, inveja, vaidade, ofensa, vingança.  
Na América do Norte, em 1787, encerrados os trabalhos da Convenção Nacional, instauraram-se vigorosas campanhas a favor e contra a recém elaborada Constituição dos Estados Unidos. A favor da Constituição, Alejandro Hamilton, John Jay e Santiago Madison publicaram uma série de ensaios na imprensa sob o pseudônimo Publio. Depois, os ensaios foram reunidos em livro denominado “El Federalista” na edição em espanhol. Ao defender a necessidade da união dos 13 estados em uma única federação, Hamilton diz que, por serem os homens ambiciosos, vingativos e rapaces, confederações separadas seriam um desastre. Ele cita Péricles, governante grego, para ilustrar o argumento de que motivos pessoais se mesclam com motivos políticos. Os ressentimentos, os temores e as paixões de Péricles foram a perdição da república ateniense. [Fondo de Cultura Económica. México. 1943. P.19].
O Presidente do Brasil certamente está informado: (i) de que um dos líderes do frustrado golpe de estado na Venezuela (julho/2024), Edmundo Gonzalez Urrutia, se exilou na Espanha (ii) de que lá, ele admitiu a armação do golpe e confessou que agiu coagido por seu grupo (iii) que ele concordou com a decisão da suprema corte da Venezuela declaratória da legitimidade das eleições. 
Ao bater na tecla das atas das eleições após as declarações do co-autor do golpe, o presidente brasileiro: (i) está sendo impertinente e mais realista do que o rei (ii) pretende colocar-se acima da suprema corte venezuelana (iii) viola norma de direito internacional inscrita no artigo 4º da Constituição da República Federativa do Brasil, ao se intrometer em assunto interno de estado soberano.  
Para seguir o seu destino como lhe convém, a Venezuela não necessita e nem depende da opinião e fiscalização de nenhum chefe de governo de país americano. 
Falante compulsivo, o presidente brasileiro fala tolices como, por exemplo, “retorno da Venezuela à normalidade democrática”, quando aquela nação já mantém forma democrática de governo há muitos anos. O brasileiro parece sugerir ao venezuelano, adesão à democracia liberal e à política estadunidense. 
O conceito de democracia conserva a semântica original: poder do povo; porém, na Idade Moderna, adquiriu conotação ideológica. Referido à polis (cidade/estado grega) esse poder significa capacidade do povo de governar a si próprio. Entretanto, esse poder não era – e continua não sendo – exercido pela totalidade da população e sim por uma diminuta parcela que a representa. Constituída inicialmente só de homens adultos, livres e proprietários, essa parcela da população passou, através dos séculos, a incluir homens comuns; depois, homens e mulheres adultos com escolaridade e dentro de determinada faixa etária. 
No Brasil, a Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988 incluíu no corpo eleitoral os adolescentes com idade igual ou superior a 16 anos e os analfabetos.
A democracia passou a ser vista com lentes ideológicas tendo por escopo o bem-estar coletivo, a segurança, a paz e a felicidade das pessoas naturais e das nações. Estendeu-se do âmbito político ao social e ao econômico. Relações de pais e filhos na família, de mestres e alunos na escola, de patrões e operários na fábrica, enfim, relações humanas fundadas em princípios democráticos.
Nos estados socialistas modernos, a vida política, social e econômica estriba-se no princípio igualitário; o princípio liberal resta em segundo plano. Nos estados capitalistas modernos, a vida política, social e econômica estriba-se no princípio liberal; o princípio igualitário resta em segundo plano. Nos estados socialistas, a democracia é prioritariamente igualitária; o seu esteio é a igualdade. Nos estados capitalistas, a democracia é prioritariamente liberal; o seu esteio é a liberdade. Nos dois modelos de estado, a sede do poder é o povo. 
Na Venezuela, o povo optou pela democracia igualitária no molde bolivariano e rejeitou a democracia liberal estadunidense. As eleições foram legítimas. O presidente foi reeleito no devido processo jurídico. 
Foi muito bom o Presidente do Brasil silenciar sobre a Venezuela no seu discurso na ONU. Poupou a nação brasileira de passar por mais um vexame.  

terça-feira, 1 de outubro de 2024

FUTEBOL III

Jogos preparatórios para a Copa do Mundo/2026. Seleção brasileira masculina. Nova convocação de jogadores feita em 27/09/2024 para os jogos oficiais contra as seleções do Chile e do Peru. 
Na escolha, o treinador deu preferência à jovem guarda, quiçá para ter uma equipe física, psicológica e tecnicamente renovada e bem treinada até 2026. Desse grupo constam ótimos jogadores como Alisson, Bento, Danilo, Endrick, Gerson, Luís Henrique, Marquinhos, Martinelli, Militão, Paquetá, Raphinha, Rodrygo, Vinicius. 
O treinador descartou a velha guarda certamente temeroso de que seus componentes chegassem de bengalas em 2026. Dela constam ótimos veteranos como Casemiro, David Luiz, Douglas Costa, Dudu, Firmino, Gabriel Jesus, Geromel, Hulk, Lucas, Marcelo, Miranda, Paulinho, Philippe Coutinho, Renato Augusto, Thiago Silva, William.
O momento mais apropriado para o descarte dos veteranos seria depois do encerramento da fase preparatória, com a classificação para a Copa já garantida. Até o início da Copa haveria tempo suficiente para o adequado preparo da jovem guarda acrescentada de novos jogadores se fosse o caso e assim entendesse o treinador.
A imprensa esportiva questionou a ausência do novato Estevão e do veterano Neymar. O treinador esclareceu que nenhum deles está descartado. Elogiou o novato que está sob cuidados terapêuticos. Quanto ao veterano, o treinador informou que ele está se recuperando de grave lesão, mas poderá ser convocado quando voltar à atividade no seu clube e exibir boa forma.
Torcedores e jornalistas esportivos mostram-se preocupados com a ausência de Neymar, como se esse jogador fosse indispensável para o êxito da seleção. Encaram-no como “salvador da pátria” esquecidos de que na “Era Neymar” do futebol brasileiro: [1] O Santos perdeu (0 x 4) para o Barcelona a partida final do campeonato mundial de clubes. [2] Das 6 edições da Copa América nesse período, as seleções brasileiras perderam 5. [3] Das 3 edições da Copa Mundial nesse período, as seleções brasileiras perderam todas.  
Portanto, longe de ser salvador, esse jogador é perdedor, cai...cai encenador, pé-frio que jamais conquistou a cobiçada taça do torneio mundial de seleções nacionais. Cabe lembrar, ainda, a conduta social desse jogador, que pode ser qualificada de cafajestada e cabotinagem, exposta nos jornais, revistas, emissoras de televisão, edições da segunda e da terceira décadas deste século XXI.
O ufanismo endócrino de torcedores, jogadores, treinadores, jornalistas esportivos, leva-os a menosprezarem o adversário. Pelo fato de as seleções adversárias ocuparem a parte baixa da tabela de classificação, já são vistas por esses brasileiros como fáceis de serem vencidas. Com as seleções em campo se enfrentando, essa visão pode não se confirmar. O ufanismo desses brasileiros é anacrônico. Já esmorecia no final do século XX. O último alento foi no início do século XXI, com os 5 erres fabulosos: Ricardinho, Rivaldo, Roberto Carlos, Ronaldinho e Ronaldo. No século anterior, 2 erres fabulosos: Rivelino e Romário. Depois das derrotas consecutivas das seleções brasileiras nas copas do mundo de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022, o ufanismo brasileiro perdeu sentido. Tornou-se arrogância. 
A previsão do desempenho de uma equipe de futebol caracteriza-se pela precariedade. Exige realismo e análise dos feitos da equipe nos anos mais recentes da sua história. Algumas vezes, times no alto da tabela de classificação empataram ou perderam para times situados na parte de baixo. Algumas vezes, clubes com elenco milionário empataram ou perderam para clubes financeiramente modestos. Cada jogador é uma unidade psicossomática composta de elementos diferenciais. Nem todos têm as mesmas virtudes. Nem todos têm as mesmas deficiências. No campo entram 11 dessas unidades que devem trabalhar harmoniosamente em torno de um objetivo comum. A frieza racional que as enlaça é sobreposta pelo calor do temperamento. Esse laço híbrido: (i) responde pelos desempenhos forte e fraco da equipe (ii) nem sempre é trançado imediatamente (iii) uma vez trançado, pode se romper durante o jogo. Isto dificulta o cálculo das probabilidades. Dados que podem ser computados no cálculo aproximativo em relação a cada equipe: (i) o poder financeiro e a estrutura burocrática (ii) os equipamentos, as instalações e as locomoções (iii) a capacidade do treinador (iv) as condições de tempo e lugar para treinamentos (v) a quantidade e a sequência dos jogos no mês e no ano (vi) o potencial físico, moral e técnico dos jogadores.      
Copa Libertadores da América. Partidas semifinais. Outubro/2024. Restaram 2 times brasileiros, 1 uruguaio e 1 argentino: Atlético Mineiro x Peñarol + Botafogo x River Plate. Essas equipes jogarão primeiro no Brasil e depois no Uruguai e na Argentina, respectivamente.